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Pedro Simonard

Antropólogo, documentarista, professor universitário e pesquisador

92 artigos

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A história enviesada

Produzir uma história enviesada, manipulada, falaciosa faz parte das políticas e ações de todos os governos de cunho fascista, mas a história é indomável, não manipulável

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O caso do perdão concedido pelo alto comando do exército ao general de divisão Eduardo Pazuello seria cômico se não fosse trágico. O general de pijama Luiz Eduardo Ramos, ministro-chefe da Casa Civil, alegou que a “história de vida” de Pazuello norteou a decisão pelo perdão. Segundo declaração de Ramos, Pazuello participou do ato pró-Bolsonaro como civil. Certamente, ele não foi convidado a participar do ato por ser civil e nem foi saudado pelos participantes da manifestação por ser civil. Este argumento é um verdadeiro duplo twist carpado linguístico e é compreensível que, segundo Ramos, esta decisão tenha sido “extremamente pensada”. O que o alto comando procurou foi evitar um racha entre os oficiais do alto comando. Buscou preservar a unidade do exército passando por cima da defesa dos regulamentos, bem como da preservação das instituições e da democracia brasileira. Esta decisão, em última instância, configura mais uma traição ao povo brasileiro e mostrou que punições exemplares no Brasil são prerrogativas asseguradas somente a pretos e pobres.

Ainda segundo Ramos, o comandante do exército, após analisar a “história de vida” de Pazzuello, considerou que sua participação no ato político não constituiu uma transgressão. Pazuello é uma figura pública reconhecidamente submissa a Bolsonaro. Sua simples presença em uma manifestação ao lado do presidente já configura um ato político. Se ele tinha alguma dúvida sobre isto bastava perguntar ao Luciano Huck que apagou das redes sociais imagens suas ao lado de diversas figuras públicas que caíram em desgraça como Sérgio Moro e Aécio Neves.

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Contudo, precisamos concordar com o ministro que a história respalda seu argumento. As forças armadas brasileiras, sobretudo o exército, têm uma longa história de defesa dos seus e autopreservação, de acochambração e de traição ao povo brasileiro. Ultimamente, com a dileta participação de Eduardos. Como tem Eduardo envolvido na triste história recente do Brasil! Eduardo Villas Bôas, Eduardo Pazuello, Luiz Eduardo Ramos. Todos golpistas, todos traidores, sendo que o general Villas Bôas traiu a comandante em chefe das forças armadas, a presidenta Dilma Rousseff. 

Traição à Constituição brasileira, ao chefe de Estado e ao governo, bem como aos trabalhadores brasileiros fazem parte da história das forças armadas, marcadamente do exército. 

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Duque de Caxias, então barão de Caxias, urdiu com o David Canabarro, líder militar da Revolução Farroupilha, traição ao Corpo de Lanceiro Negros. Este corpo era formado por cerca de quatrocentos lanceiros negros livres, alforriados ou escravizados aos quais se prometeu liberdade ao final da guerra. Foram sacrificados em nome de uma limpeza étnica.

Deodoro da Fonseca, que se considerava amigo do imperador, traiu Pedro II e proclamou a República. 

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Góes Monteiro, que havia ocupado o cargo de Ministro da Guerra de Getúlio Vargas, comandou o golpe que o desistiu e acabou com a ditadura do Estado Novo, a qual ajudou a implementar sem que isto houvesse lhe causado quaisquer dúvidas éticas.

Castello Branco, Chefe do Estado Maior do Exército, traiu João Goulart e o destituiu da presidência da República.

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Villas Bôas, comandante do exército nomeado por Dilma Rousseff, traiu a presidenta.

No que concerne aos acochambramentos, caso muito conhecido foi o do Inquérito Policial Militar (IPM) conduzido pelo coronel Job Lorena que só faltou culpar a bomba que explodiu no estacionamento do Rio Centro pelo atentado fracassado durante o show comemorativo do dia 1 de maio de 1981. Teria o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira aprendido a arte de acochambrar com o coronel Lorena? Talvez este tipo de procedimento seja uma disciplina obrigatória do curso de formação de oficiais ministrados na Escola Superior de Guerra (ESG) lá na tranquila e pacífica Praia Vermelha (quem sabe os bolsonaristas não mudem seu nome para Praia Verde e Amarela, ao som da palavra de ordem “abaixo o comunismo! Nossa praia jamais será vermelha!”).

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O governo Bolsonaro entrará para a história como o mais mentiroso. O próprio Bolsonaro disseminou uma notícia falsa que informava que o Tribunal de Contas da União (TCU) teria divulgado um relatório segundo o qual o número de mortes causadas pela pandemia do coronavírus era muito menor do que o divulgado. O TCU negou a existência deste relatório. Posteriormente, descobriu-se que o mesmo havia sido produzido por um auditor deste tribunal que inserira esta informação no sistema sem respeitar os procedimentos normais para fazê-lo. O auditor em questão é próximo de um dos filhos de Bolsonaro.

Bolsonaro mente diariamente. Seu objetivo é desviar a atenção da discussão de assuntos importantes, desinformar, causar confusão e, sobretudo, municiar seus apoiadores com material para que estes invadam as redes sociais com falsas questões e promovam falsos debates sustentados por falácias. Em última instância, o que ele quer é reescrever a história, tal qual os revisionistas do Holocausto que têm a cara de pau e a desonestidade de defender e divulgar que os nazistas não exterminaram mais de seis milhões de seres humanos em seus campos de extermínio.

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Produzir uma história enviesada, manipulada, falaciosa faz parte das políticas e ações de todos os governos de cunho fascista, mas a história é indomável, não manipulável.

A história, mais uma vez, registrará todos esses fatos e todos os responsáveis por ele terão que prestar contas frente a ela. 

P.S.: Precisamos defender uma reforma constitucional que substitua o impeachment, instrumento utilizado pela burguesia neocolonial para retomar o controle do poder, pelo recall, instrumento que coloca nas mãos do povo a destituição daqueles que ele mesmo elegeu.

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