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Marcus Atalla

Graduação em Imagem e Som - UFSCAR, graduação em Direito - USF. Especialização em Jornalismo - FDA, especialização em Jornalismo Investigativo - FMU

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A imprensa Otan e o alinhamento da imprensa corporativa ocidental na desinformação

Vladimir Putin (Foto: Russian Pool/Reuters TV via REUTERS)
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Ao público brasileiro não é surpresa o alinhamento dos veículos de imprensa nacionais na cobertura das notícias, a ponto da criação de um mundo paralelo. É algo com que o leitor lida há décadas, o que lhes surpreendeu foi o alinhamento dos veículos de imprensa corporativa dos mais diversos países e vertentes políticas “diferentes”; outrora vistos como confiáveis, The Guardian, BBC, Reuters, ..., ...; e o sincrônicos na desinformação sobre o conflito Ucrânia (OTAN) e Rússia. Até mesmo os jornalistas independentes mais experientes ficaram perdidos na cobertura do conflito. Percebe-se que algo está errado. Ao mesmo tempo, todos estão repetindo as mesmas falácias, que se começa a duvidar do próprio conhecimento da realidade.

Não é verdade que as fake news são um fenômeno das redes sociais, a imprensa corporativa sempre fez parte desse ecossistema de desinformação. A verdade é que as redes sociais, através dos algoritmos e das ferramentas de buscas, permitiram uma atomização na criação de várias bolhas de realidade no mesmo espaço territorial. Enquanto a imprensa corporativa cria bolhas imensas que cabem um país ou um hemisfério inteiro. Porém, como nada no mundo é branco no preto, o bem e o mal, a internet e redes sociais quebraram o monopólio da informação e das fake news da imprensa corporativa.

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Como pode haver um alinhamento de toda a imprensa ocidental?

Críticas ao jornalismo existem desde o século XVII, mas em 1979, Noam Chomsky e Herman identificaram a violência simbólica praticada pela imprensa estadunidense ao Sul Global(*), países periféricos e de capitalismo retardatário. Há um alinhamento dos veículos de comunicação de massas aos interesses políticos e econômicos das elites. 

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(*)A Rússia se encontra no hemisfério norte, mas estruturalmente é um país do Sul Global, não detém grandes corporações monopolistas, seu PIB é próximo ao do Brasil, excetuando a indústria militar, suas exportações são commodities. Não tem controle do sistema financeiro. – Bastou querer e o EUA retirou o país do Swift e congelou US$ 250 milhões de dólares russos no exterior – guerra econômica.  

Chomsky conceitua os 5 condicionamentos à submissão da imprensa aos interesses das elites da seguinte forma:

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1- A estrutura de propriedade das mídias; 2 - A natureza capitalista dos veículos a procura do lucro e a importância da publicidade de grandes empresas; 3 - A dependência dos jornalistas de fontes governamentais e fontes do mundo empresarial; 4 - As ações punitivas dos poderosos, que retaliam jornalistas e veículos que noticiam informações contrárias aos seus interesses; 5 – Criação de um inimigo comum. - Antes foi a ideologia anticomunista dominante entre a comunidade jornalística estadunidense.

 Hoje não é uma questão ideológica, é uma guerra capitalista por mercados e impedir o desenvolvimento de futuros concorrentes. Com a união eurasiana – Novas Rotas da Seda, Rússia, China, sul-asiático, Irã etc – e o desenvolvimento da China, o polo capitalista está mudando para o Oriente. 

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Há o agravante do modelo capitalista atual, quando o sistema capitalista surgiu ele foi impulsionador do desenvolvimento, hoje não é mais assim. O capitalismo financeiro vem concentrando renda, gerando miséria, corrói a democracia e constrói regimes autoritários, controle da informação e prisões em massa na tentativa de sobreviver e manter o status quo.

1% da população mundial detém a mesma riqueza dos 99% restantes, ainda por cima são sócios de tudo. Não é apenas uma expressão de efeito, este 1% tem partes da propriedade de petroleiras, veículos de imprensa de todo o mundo, big techs, big pharmas, bancos, indústria bélica etc. Logo, dividem os mesmos interesses.

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Tudo isso é possível através de empresas de gestão de fundos de investimentos. São espécies de gestoras de recursos de terceiros, mas com o poder de escolher quem, o que e aonde irão os recursos e, ao mesmo tempo, onde, quem e o que será “falido”. A maior dessas empresas é a BlackRock, empresa dos EUA que administra um patrimônio de mais de US$ 7 Trilhões de dólares, maior que o PIB de muitos países. As 17 maiores; BlackRock, Vanguard, Charles Schwab, J.P. Morgan e outras; somam o controle de mais de 5x do valor do PIB gerado no mundo. E é esse capital (poder) que se compra tudo, candidatos, ONGs, presidentes, Congressos Nacionais, forças armadas, judiciário.

O que é a imprensa OTAN?

Antes da virada do milênio, nos idos da década de 90, declarou-se que esse seria o século do conhecimento. Conhecimento é informação e informação é conhecimento, nada mais lógico do que controlar e usar essa commodity como arma de guerra e poder. Assim como no século passado, o petróleo foi usado, é usado ainda e continuará sendo usado por um bom tempo. Não se engane com o discurso de Biden sobre economia verde. Neste exato momento, os EUA junto aos “Políticos Verdes” alemães boicotaram a compra de gás natural russo, e o substituíram pelo petróleo de Xisto dos EUA, infinitamente mais destrutivo ambientalmente.

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O que está sendo chamado de guerra informacional é a guerra cognitiva, mais conhecido pelos brasileiros como guerra-híbrida ou fake news usadas pelo bolsonarismo/militares brasileiros. Não apenas a OTAN ajudou a desenvolver essas técnicas como as usa [aqui].

Documentos vazados no ano passado comprovaram a participação da Reuters, BBC e Belligcat(*) em programas secretos com o Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido, para causar a mudança de regime da Rússia e sabotar suas alianças com governos na Europa Oriental e na Ásia Central.

(*) Pouco conhecida do público brasileiro, Bellingcat “seria” uma imprensa independente investigativa. No Brasil é referência para os jornalistas que trabalham com checagem de fake news e OSINT (investigação em fontes abertas). O veículo jornalístico já foi denunciado por participar junto a Agências de Inteligência na Guerra da Síria, interferência nas eleições da República da Macedônia do Norte - há o mito no Brasil que as interferências em eleições são tudo obra do Steve Bannon, um onisciente e onipresente gênio do mal-. [Leia: Bellingcat e o suposto jornalismo independente financiado por empresas de inteligência dos EUA e o Reino Unido].

É importante salientar haver uma sinergia entre os veículos de imprensa mundiais. A Reuters copia a CCN e demais imprensa estadunidense, depois envia release à Globo, Folha de S. Paulo, The Guardian, Le Figaro, DW e assim segue. Os jornalistas independentes acabam também se pautando por elas, na crença que esses veículos seriam confiáveis. Se todos estão noticiando a mesma coisa, é porque deve ser verdade....

Max Blumenthal, editor-chefe do The Grayzone, site independente investigativo, realizou uma extensa matéria a partir de documentos vazados, os quais comprovam programas secretos do FCO - Foreign and Commonwealth Office – do Reino Unido - financiando uma campanha de desinformação no combate a Rússia.

O The Grayzone (02/21) noticiou que a Reuters e a BBC fecharam contratos multimilionários com o Counter Disinformation & Media Development, departamento do FCO do Reino Unido. O intuito foi cultivar e treinar jornalistas, estabelecer redes de influência dentro da Rússia e promover narrativas pró-OTAN nas regiões de língua russa. Segundo os documentos, a Reuters montou uma rede de influência global de 15 mil jornalistas pelo mundo, sendo 400 na Rússia. Com a capacidade de promover mensagens e contrariar a narrativa do governo russo, enfraquecendo as parcerias entre o país e seus vizinhos. 

O programa de treinamento, supervisionado pela Reuters, induziria os jornalistas participantes a uma mudança de atitude e ter uma percepção positiva do Reino Unido. Criar uma rede de jornalistas em toda a Rússia, difundindo valores culturais, políticos e os interesses britânicos. Outro acordo tinha como objetivo explícito “reduzir a visibilidade da emissora RT.com apoiada pelo governo russo”. 

No memorando vazado consta que os militares da Integrity Initiative tinham a pretensão de explorar a mídia, think tanks e as influências construídas para promover uma histeria da influência supostamente maligna da Rússia. Coube a BBC localizar parceiros regionais em Kiev em 2014, na Primavera Colorida – que contou com grupos nazistas históricos para dar um golpe de Estado e colocar no poder Zelensky e um regime pró-OTAN. A Hromadske foi criada da noite para o dia, recebeu financiamento e apoio logístico da USAID - Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional e do Fundo de Rede do bilionário da mídia Pierre Omidyar - Ebay, Intercept, Omidyar Network.

Os documentos demonstram o papel dos Estados-membros da OTAN na influência dos protestos realizados na Bielorrússia em 2020. Financiada pelo Ministério das Relações Exteriores da Polônia e outros governos da UE, e com a supervisão da Reuters, fundou um canal de televisão “independente” da Bielorrússia, a Belsat, que promoveu os protestos à deposição do presidente bielorrusso Alexander Lukashenko. 

Empresas de mídia on-line, supervisionadas pela Zinc Network, estabeleceram uma rede de YouTubers na Rússia e na Ásia Central, enquanto, instruíam os participantes a fazer e receber pagamentos internacionais sem registros de fontes externas. [Veja os documentos e a matéria detalhada aqui].

O ocultamento e estrangulamento econômico da imprensa independente

Nessa semana houve bloqueios da imprensa russa nas redes sociais e buscadores e assim o impedimento do público em saber o outro lado da história. Isso ocorre dia a dia de forma disfarçada. Os algoritmos limitam a imprensa independente ao não compartilhar seus conteúdos nas redes sociais e ao esconder as indicações nos buscadores. O que limita a relevância e o público, em consequência, limita-se a quantidade de publicidade recebida pelo veículo. Causam uma asfixia econômica.

No entanto, há uma histeria no público e na própria imprensa independente, que em nome do impedimento das fake news, legitimam uma censura realizada pelas próprias empresas detentoras desses monopólios, as quais são armas da guerra cognitiva. [Facebook, Twitter, Google e Amazon são paraestatais da máquina de guerra e vigilância dos EUA]. A solução não virá lhes dando ainda mais poder e controle, é justamente isso que desejam. Há um erro no diagnóstico do problema, uma visão moralista e um preconceito de classes envolvido.

A ideia vigente é que se deve proibir “certas” informações (conhecimento), haveria um conhecimento bom e outro mau. E as pessoas não teriam capacidade cognitiva de discernir a verdade da mentira, o certo do errado, portanto, precisam de tutores. Não é isso que está ocorrendo nas redes sociais. A questão é que pelo uso de psicometria analítica faz-se uma modulação do comportamento, uma modulação do discurso. Os indivíduos recebem as mesmas informações e as mesmas opiniões de diversas fontes diferentes, entretanto, têm bloqueadas as informações contrárias (as bolhas), impedindo a dialética na formação da visão da realidade. 

Acrescido ao viés de confirmação - identificado na psicometria analítica - se induz a um “Comportamento de Manada”. Se todo mundo está dizendo a mesma coisa e eu também penso assim, logo, isso é a verdade. Toda vez que se adotou essa visão de conhecimento bom ou ruim e se escolheu tutelar o que pode, ou não ser informado, o resultado foi o autoritarismo. Essa tecnologia e os métodos empregados são ainda recentes, as gerações mais velhas e os excluídos digitais ainda estão aprendendo pela própria experiência.

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