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Liliana Tinoco Bäckert

Jornalista e mestre em Comunicação Intercultural pela Universidade da Suíça Italiana, apresenta coluna semanal na Rádio CBN e é autora de livro e textos sobre vida no exterior

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A que ponto chegamos?

Se vale de consolo, os técnicos da Anvisa não estão sozinhos no quesito ameaças de violência

Marcha em Kassel, no centro da Alemanha, contra medidas sanitárias para barrar a Covid-19 (Foto: REUTERS - THILO SCHMUELGEN)
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Nosso mundo, a despeito de tudo de bonito, sempre foi um lugar hostil, violento e de muitas desigualdades e conflitos. No apagar das luzes de 2 mil e 21 anos do Calendário Ocidental e depois de dois anos de pandemia de Covid-19, eu diria que há algo de muito estranho no ar, de desconexo mesmo. As peças da modernidade, de pesquisas científicas globais, que se uniram para encontrar um antídoto contra o vírus SARS-CoV-2, não se encaixam com um “Primeiro Mundo” que rechaça a proteção contra a doença, com pessoas que acreditam que a Terra é plana e que a vacina traz um chip de espionagem acoplado ao 5G da China.

Nem vou chamar aqui de negacionista quem se recusa a se vacinar, vou nomear de uma vontade de se manter contra o bom senso, contra tudo que faz sentido em uma vida em comunidade. Os participantes desse grupo, que é amplo, tampouco combinam com um subgrupo ao qual muitos fazem parte, que é o de uma elite bem formada e estudada, às vezes nas melhores universidades europeias. Dentro desses subgrupos, tem gente que, além de acreditar em teorias da conspiração, age ou ameaça com violência contra quem labuta contra o avanço da doença. 

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É, meus caros, não é só no Brasil que técnicos da Anvisa sofrem ameaças. Embora o que esteja acontecendo neste terreno seja indiscutivelmente o mais puro absurdo do autoritarismo - sinal de tempos muito sombrios - aqui na Europa e nos Estados Unidos também temos visto coisas semelhantes e também muito negativas. Uma das diferenças está no fato de que os líderes executivos de outras nações não instiguem esse tipo de atitude – o que já é uma grande coisa.

No auge de uma quarta onda de infecção, hospitais lotados e um longo inverno pela frente, me surpreendeu o fato de que a tranquila e idílica Suíça – país onde vivo desde 2005 - tenha apertado o botão de alerta com relação à possível violência contra políticos. Inclui-se aqui o ministro suíço da Saúde, Alain Berset, que teve que ser colocado sob proteção policial já há alguns meses. Isso num país onde até pouco tempo os líderes da mais alta hierarquia eram vistos tomando trem ou ônibus sozinhos, sem qualquer segurança extra.

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As autoridades por aqui têm assistido a respostas cada vez mais agressivas às medidas de contenção da propagação do coronavírus, com agressão dirigida não só a políticos, mas a jornalistas e virologistas, por exemplo. "As redações devem arder, assim como as empresas farmacêuticas e as torres 5G. Está na hora de agir", escreveu um dos ameaçadores.

Já no ano passado se noticiava que tais intimidações vinham aumentando, a ponto de chamar a atenção do Departamento Federal de Polícia. Uma reportagem de um jornal suíço diz que o governo, em cooperação com as forças policiais cantonais, mantém "conversas de risco" com potenciais criminosos violentos. A polícia visita a pessoa, avalia o seu risco e torna claro que estão sendo vigiados. Este método provou o seu valor com islamistas radicalizados.

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Assim como os técnicos da Anvisa, quem também tem sofrido diretamente a violência verbal e física dos negacionistas são os fiscais de trem e ônibus e, principalmente, profissionais de saúde. Isso acontece não somente na Suíça, mas em vários outros países. O Departamento Federal de Polícia Criminal da Alemanha, por exemplo, avalia que "os opositores da vacinação ou os negacionistas sejam um "risco relevante" em relação a ataques a centros de vacinação ou práticas médicas.

Os números exatos ainda não estão disponíveis; o Serviço de Segurança do Estado investiga ainda. Mas a Associação Médica Federal da Alemanha confirma situação de ameaça e diz que há uma certa "histerização da sociedade". 

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No site Medscape.com, o médico Giancarlo Toledanes, que trabalha no Texas Children Hospital, afirma que a violência contra a classe da saúde não é novidade. Em 2014, uma pesquisa reportou que 80% do quadro de enfermagem tenha sido atacado durante a carreira. A Covid, entretanto, não só piorou o problema, como acelerou o processo para uma situação de alarme.

Ele relata que, na cidade americana de San Antonio, trabalhadores do setor de saúde têm sofrido abusos verbais e físicos quando requerem o uso de máscara dentro das instalações, com direito a ameaças de morte, aos profissionais e à família, ou a xingamentos nas mídias sociais. Em países como Itália, Paquistão e Índia, por exemplo, os profissionais de saúde são considerados fonte de contaminação. 

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Resumo da ópera: vivemos um momento de absurdo, de ode ao obscurantismo, à violência e ignorância. É a pandemia da burrice que nos assola e que nos obriga a questionar: a que ponto chegamos e o que é preciso fazer para tomar outro rumo?

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