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Virgilio Almansur

Médico psiquiatra e psicanalista, músico e bacharel em direito, se dedica ao jornalismo e à ciência política

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A quietude dos e nos 4 anos medievais

Precisamos reconhecer: assistimos com muita parcimônia — com pitadas de covardia — um sem número de absurdos

Bolsonaro e enterro durante a pandemia da Covid-19 (Foto: Reprodução/Youtube | REUTERS/Bruno Kelly)

Sinto-me devedor! Aos amigos de longa data, aos filhos, em especial, pois cri e creio que poderia fazer mais. Calar não me calei. Escrevo sempre. Aliás, desde 14 anos…

Lembrei-me de Hélio Pellegrino, num encontro no Baixo Gávea, quando inexistia como baixo. O assunto era esse: a gente escreve para quê (ainda se pode dizer que desopilamos) e para quem (objetos indeterminados, a sujeitos intransitivos…)?

O Hélio tinha inúmeros cadernos. Espero que a Lya Luft não os tenha ignorado e alguém da família, o Pedro e o Helinho, quem sabe, ou até o remoto genro, Renato Machado, que duvido, poderiam preservar aquelas garatujas repletas daquilo que hoje inflacionamos as redes. 

Lembrei-me do solar Hélio como aquele intransigente (um iracundo agastadiço, aquele colérico com exuberância de vida, que, como um vulcão ativo, regurgita no interior um coração altamente apaixonado) procurando atingir os fins sem considerar os meios e que se coloca, quase sempre, em posição extremada. Mas não deixa de ser uma pessoa que se irrita facilmente e, se visse o vagabundo do desgoverno imitando um sofredor à morte, teria avançado naquela garganta. 

À época pensei o mesmo. Veio-me a lembrança as palavras de um antigo parlamentar, hoje desprezível e sob prisão, ao olhar para Zé Dirceu e dizer: “Vossa Excelência desperta em mim os instintos mais primitivos”, algo que o tribuno deveria usar frente a juris com eficácia razoável. Mas deixava claro que se pudesse avançaria no opositor. 

Ouvi alguns dizerem que se estivessem no cercadinho emporcalhado do Planalto, esganariam o miliciano. Com meus instintos primitivos, encostados às necessidades glutanísticas, chegaria perto. 

Mas precisamos reconhecer: assistimos com muita parcimônia — com pitadas de covardia — um sem número de absurdos. Pouco fizemos e deixamos cadela(o)s e cadelo(a)s (aquel(e)as no cio) ávida(o)s para o golpe com matizes violentos e programados. Está aí mais um escândalo no judiciário; e os dias vindouros mostrarão. Mas você nada entenderá.. 

Há quem diga que sem hermenêutica de leitura, mas por intervenções políticas na própria  reescrita dessa política, surge algo nada conciliador e acabamos por sustar, parcialmente, alguns malefícios que a própria escrita nos trouxe e àquelas das quais somos contemporâneos. 

Se ficarmos, hermeneuticamente, buscando sentidos às palavras, nada conseguiremos como estratégia para desconstruirmos as dissimulações de uma arquitetura montada para o impedimento de interdições que se fizeram com, por exemplo, às chamadas leis complementares e àquelas nascidas do afogadilho…

São tamponamentos feitos como anestésicos e que impedem qualquer elaboração presente ou futura; nas possíveis inferências dos tempos passados, as prescrições solucionam. Para o bem ou para o mal. 

Desconstruir é uma estratégia! Há textos que podem funcionar na e além da filosofia; mas… e nas normas jurídicas? A norma jurídica está repleta de reescritas, adendos que impedem que se dê uma desconstrução e consequente reconstrução…

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.