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Marconi Moura de Lima Burum

Mestrando em Direitos Humanos e Cidadania pela UnB, pós-graduado em Direito Público e graduado em Letras. Foi Secretário de Educação e Cultura em Cidade Ocidental. Trabalha na UEG. No Brasil 247, imprime questões para o debate de uma nova estética civilizatória

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A racionalidade interconsciente e a tragédia do ser Bolsonaro

Bolsonaro (Foto: REUTERS/Andressa Anholete)
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Essa noite eu acordei após ter um sonho muito estranho do qual eu não consigo lembrar. No entanto, tenho na mente essas frases, a saber, que se fizeram gravadas em minha memória: “crie suas próprias circunstâncias. Não fique esperando o tempo ou a fazer as coisas artificiais do tempo”. 

Oras bolas! Qual sentido tem esse troço? Já reparou as coisas que acontecem dentro dos nossos sonhos? Por que, enquanto dormimos, sonhamos um conjunto de cenas e falas desconexas?

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Quem compreende o devir dentro do sonho? É turvo. É confuso. Mas, queiramos ou não, o sonho se desenvolve e forma um roteiro (não-linear) do viver. E é aí que eu queria dialogar com você. Conectar meu sonho à conjuntura e dimensão (anti)civilizatória do atual momento.

Lendo e relendo estas frases que meu devir inconsciente noturno produziu, pensei numa espécie de racionalidade da ambiência do sonho. Uma racionalidade do absurdo ou a racionalidade da interconsciência.
O que estou chamando de racionalidade interconsciente – para melhor analogia – é como se fosse uma viagem intergaláctica destas que assistimos em filmes de ficção científica; estas que nos levam para o algo surpreendente, o universo inimaginável, indubitavelmente belo, potencialmente misterioso; tantas vezes também, perigoso!
A viagem dentro do sonho e esta racionalidade interconsciente a que me refiro também nos conduzem ao inimaginável. Contudo, a soberania do sonho tantas vezes nos envolve num evento prazeroso, agradável e encantador. E tantas vezes outras a um momento de terror no espaço-tempo, embora curto, inegociável e angustiante. É isto que vivemos nos tempos de Governo do sujeito chamado Jair Messias Bolsonaro. Vivemos um eterno pesadelo. Repito: eterno pesadelo. É como se estivéssemos num sistema formado por uma areia movediça que, quanto mais vamos nos mexendo, mais afundamos na ambiência da dor e da angústia (por não conseguirmos sair daquilo), tendo à nossa frente (não a esperança, mas), leões famintos; lobos babando de um lado; crocodilos vorazes de outro; e atrás, serpentes ensandecidas ao desejo de nos esmagar. Cercados pelos quatro cantos, resta-nos o desespero.
Bolsonaro criou pra si demônios. E veja: não são demônios da dimensão metafísica, entretanto, monstros construídos a partir dos seus próprios fantasmas, dos devaneios de sua viagem mental-espiritual (de um falso cristão), dos inimigos que ele fabrica. E a estes inimigos que o Presidente fabrica o tempo inteiro, Bolsonaro assume a permanente beligerância, isto é, crava a constante guerra, o interminável conflito. Não há paz! Não governa! Quando um homem que deveria usar de seu poder, faz disso simplesmente o espaço da violência, o tempo inteiro brigando, o tempo inteiro criando confusão, o tempo inteiro estimulando a intriga ao invés de governar[1], não é possível construirmos uma nação de paz e alegria. Temos apenas a tortura mental, as dores emocionais e a desesperança de vermos um país sóbrio e jubiloso. Estamos dentro de pesadelo interminável e suamos desnecessariamente.
Aprofundando a reflexão, estamos no metaverso da esquizofrenia. Deixo claro aqui que não estou a fazer nenhuma acepção pejorativa relacionada às pessoas que sofrem com este distúrbio psiquiátrico. É um transtorno que leva as pessoas que o têm a muito sofrimento, e sofrimento aos familiares. De fato o que estou a reivindicar é pensarmos nesta dimensão do sofrimento, do espaço permanente de sofrimento, do espaço de não-paz, do espaço de não ser possível se construir o real numa dimensão linear, numa dimensão da esperança, numa dimensão da alegria. No entanto, a angústia que se apresenta na própria lógica de uma doença psiquiátrica. Este é o mundo de Bolsonaro e que ele, com o poder que recebeu, foi capaz de nos levar ao seu metaverso de desalento.
Retornando: o grande problema de Bolsonaro viver os seus demônios não é apenas o sujeito Bolsonaro sofrer, porém, sua fama [como Presidente de um dos mais importantes países do mundo], o lugar que ele ocupa angaria uma capacidade a qual estimula sobremaneira a que outras pessoas o copiem[2], copiem o seu metaverso esquizofrênico.
E é aqui que mora o pior dos perigos. Quem matou no dia 10 de julho de 2022 o militante do PT de Foz do Iguaçu, Marcelo Arruda[3], foi Jair Messias Bolsonaro. Não que ele tenha dado o tiro no homem, mas foi o estímulo que ele prega ao fuzilamento de petistas; foi sua crueldade em querer que todos odeiem o “comunismo” e que proclamem uma guerra contra aquilo que ele, Bolsonaro, chama de “forças do mal”; foi, portanto, sua racionalidade interconsciente enviesada[4].
Por derradeiro [nesta reflexão], ou procuramos acordar um ao outro, isto é, investirmos sem limites em formatos criativos de diálogos com os nossos familiares e amigos para tiramo-los desse estímulo à violência (raiva que está “meramente” das redes sociais, ou nas frases aparentemente “inocentes” durante as reuniões de família), ou não sairemos desta ambiência de terror e seremos definitivamente capturados para dentro do pesadelo do Bolsonaro, portanto, sobrevivendo – quando possível – diante deste lado ruim da racionalidade interconsciente dos bolsonaristas, seres (muitos deles) doentes que vivem no real, um espaço espiritual e emocional de um metaverso esquizofrênico e cruel.

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…………….

[1] Tanta fome no Brasil, tanta gente sofrendo com a falta de políticas públicas, falta de emprego, combustíveis e alimentos em alta (inflação), e não temos um Presidente a governar; temos um terrorista a pregar ódio e violência o tempo todo.

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[2] Cito que é normal para a sociedade, em sua maioria, seguir pessoas famosas e suas “manias”. Lembremos do “hit” que viralizou nas redes sociais, o “Caneta Azul” de Manoel Gomes, um cidadão como nós do dia-a-dia. Ele compôs essa música sem sentido, completamente desconexa, e fez uma fama, embora temporária, tão volumosa que conquistou uma parte significativa da população brasileira, gente esta que não parava mais de cantar seu verso monossêmico.

Elucido que não estou aqui a depreciar ou a descriminar esse sujeito simples, seu Manoel Gomes. Lembremos por exemplo do segundo maior jogador em fama no Brasil, o Ronaldo “Fenômeno”. Certa feita, na Copa de 2002, o atleta fez um corte que deixou um pequeno volume de cabelo na parte frontal da cabeça. Mais parecia uma “barrela de cocô” na cabeça do craque. O fato é que milhares de jovens copiaram aquele corte que não se apresentava qualquer requinte estético (muito embora, a estética é também o lugar da subversão). Não havia àquele momento, portanto, uma potencial racionalidade estruturada e tão mais um devaneio do jogador (vai saber!).

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Novamente deixo claro que não se trata de discriminação. Repito, não é. Mas serve a dizer que o lugar da fama permite a cópia, a reprodução de falares e fazeres, e quando temos um Presidente da República que prega a violência o tempo inteiro, estimula a morte do outro o tempo inteiro, fomenta a guerra o tempo inteiro, motiva o espaço de não-paz, de não-alegria, esse sujeito está a produzir diversos “Bolsonaros” (com as suas “barrelas de cocôs” na cabeça). E é aí que mora a gravidade deste momento histórico.

[3] Entenda mais o contexto deste assassinato de Marcelo Arruda, clicando aqui:

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https://www.brasil247.com/poder/dilma-bolsonaro-cria-ambiente-de-terrorismo-para-intimidar-o-povo-brasileiro.

Bolsonaro sequer prestou solidariedade à família da vítima. Mostra que ele se regozija com essas práticas.

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[4] É importante entender que o Presidente Bolsonaro poderia ter feito tudo diferente. O certo seria nos levar para encontro entre a realidade brasileira ainda excludente e um sonho de transformação civilizatória ao bem, assim melhorando efetivamente a vida de todos. Todavia, ele preferiu, de forma deliberada, mergulhar o Brasil em seu pesadelo particular.

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