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Paulo Moreira Leite

Colunista e comentarista na TV 247

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A saída nunca foi tão simples: votar em Haddad

"Ao fugir do último debate presidencial, gesto que só seria possível com a conivência da Globo, que não ofereceu a Haddad uma entrevista a sós, Bolsonaro faz o gesto final de uma campanha perversa, na qual  as liberdades asseguradas pela democracia foram utilizadas para enfraquecer a própria democracia e ameaçar os direitos dos brasileiros",  escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247. Num gesto inspirado na postura do chefe, os parlamentares alinhados evitaram  responder à pesquisa de um jornal sobre a reforma da Previdência -- sinal claro que prepara um bote pós-eleitoral, quando o eleitor não puder se defender de um projeto contrário a suas necessidades e interesses. 

A saída nunca foi tão simples: votar em Haddad (Foto: Stuckert)
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Faltando 72 horas para o segundo turno, não é possível pensar em qualquer forma de neutralidade diante da oportunidade de escolher entre Fernando Haddad e Jair Bolsonaro. Não há valores políticos equivalentes ou mesmo comparáveis. Estamos falando de candidatos que encarnam opções opostas e excludentes de futuro para uma nação de 217  milhões de habitantes, a oitava economia do mundo.

Haddad possui a diferença prioritária no Brasil de hoje: a biografia de um candidato que preserva a democracia, o Estado Democrático de Direito e as garantias individuais previstas na Constituição. Há um acordo de vozes diversas a esse respeito, que une empresários da estatura de Ricardo Semler, um sem-numero de intelectuais, brasileiros e estrangeiros, Marina Silva, o ex-governador tucano Alberto Goldman, e Luiz Inácio Lula da Silva que, da cela da prisão, diz em carta que "votar em Haddad representa a sobrevivência do pacto democrático, sem medo e sem vacilações".

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O projeto de Haddad se apoia em experiencias vitoriosas de governo, que a maioria da população reconhece. A partir da constatação evidente de que a base atual dos problemas do país se encontra na política econômica desastrada do governo Temer,  seu projeto é recuperar o período de investimentos públicos e distribuição de renda que permitiram o crescimento 2003-2014, quando o país atingiu o menor nível de desemprego da história e saiu do mapa da fome da ONU.

Hoje, com desemprego em 13%, crescimento perto de zero e nenhuma perspectiva de melhora, o país padece sob o desastre absoluto  de um governo que Bolsonaro ajudou a eleger, sempre apoiou e pretende  continuar, tanto que  ministros e assessores de primeiro escalão já foram convidados a permanecer nos respectivos cargos. "Vamos continuar o que Temer vem fazendo", diz o guru econômico do PSL Paulo Guedes, admirador da política econômica do general Augusto Pinochet, que durante 20 anos governou o Chile, na mais cruel ditadura do continente.

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Haddad defende o reforço dos programas de distribuição de renda para os mais pobres, pretende fixar em R$ 49 o preço do bujão de gás, transformado em inferno na vida das famílias desde que a Petrobras tornou-se simples correia de transmissão de interesses de especuladores externos. Também quer manter cotas nas universidades públicas e  acabar com o imposto de renda para quem ganha até cinco salários mínimos. Como acontece na Europa e nos Estados Unidos, pretende criar taxas mais altas para quem pode pagar mais -- os ricos e milionários, de quem a Receita brasileira cobra muito pouco e, em alguns casos, não cobra nada.

Em discurso no domingo, 21, Bolsonaro defendeu abertamente a prisão de adversários políticos -- inclusive Haddad -- e anunciou o plano de criminalizar os movimentos sociais, como se o Brasil não fosse uma democracia na qual a divisão entre poderes é cláusula pétrea. Já defendeu a tortura várias vezes e nunca se retratou. Também disse que, em vez de preocupar-se com a CLT, as férias, o 13o salário e a Previdência,  os trabalhadores devem escolher entre ter emprego ou ter direitos, falso dilema que contraria a evolução da humanidade desde o fim da escravidão e só pretende justificar novas formas de exploração. 

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Os aliados e defensores de Bolsonaro tem multiplicado atos de violência contra adversários políticos. Mortes já ocorreram. Numa atitude de quem tem interesse em intimidar os adversários, oprimir a divergência, o candidato se omite.    

A equipe de Bolsonaro quer cobrar mensalidade em faculdades públicas e instituir ensino a distância nos cursos de primeiro grau. O candidato votou duas vezes contra a lei que estabelece direitos para o empregado doméstico. Numa demonstração de que não tem a menor ideia das dificuldades do povo para se defender num universo de desigualdade selvagem, durante a campanha definiu as políticas que protegem os programas sociais como  "coitadismo". Em seu discurso, precisa de muito auto-controle para não condenar abertamente o Bolsa-Família. Às vezes, a verdade escapa. Seu projeto de reforma da Previdência é tão ruim, do ponto de vista da maioria da população, que a bancada de aliados de Bolsonaro foi orientada a não responder a uma enquete do Estado de S. Paulo sobre o tema -- sinal claro de que prepara um bote pós-eleitoral contra eleitores desprevenidos. 

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Apesar de sua frequente retórica verde-amarela, Bolsonaro é um candidato comprometido com projetos de desnacionalização que alienam empresas estatais e riquezas naturais para o capital estrangeiro, em passos graves para a soberania do país. A força exibida por um dos líderes da entrega do pré-sal nos bastidores da campanha do PSL é sinal de que se planeja enterrar de vez um caminho histórico para um desenvolvimento autônomo do país, desbravado com importante participação de militares na campanha O Petróleo É Nosso. 

Sua única proposta de Bolsonaro para combater a violência que incomoda todas as famílias brasileiras, em particular nos grandes centros urbanos, é produzir mais violência. Numa iniciativa que une o interesse da indústria bélica a um caso clássico de  complexo de vira-lata, ele defende a  liberação da venda de armas de fogo para imitar o que acontece nos Estados Unidos, ignorando que uma matemática que desfaz qualquer lenda: para cada morte em ações de legítima defesa, 34 inocentes são assassinados com arma de fogo nos EUA.

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Todo mundo sabe que a lei deve valer  para todos mas Bolsonaro sempre deixou claro que, se perder a eleição, é porque terá ocorrido fraude nas urnas -- sem apontar um fato concreto além de um descompromisso claro com a democracia e incapacidade de aceitar derrotas eleitorais, dissabor natural em toda disputa democrática. Seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, que frequenta o círculo íntimo do pai, já disse que seria capaz de enviar uma missão militar para atacar o Supremo Tribunal Federal caso os ministros da mais alta corte viessem a tomar uma decisão que o desagradasse. Campeão da redução da maioridade penal para 16 anos, Bolsonaro classificou o gesto do filho, que já completou 34 anos e é reincidente nesse tipo de ameaça,  como "arroubo de juventude".

Flagrado como beneficiário de uma indústria clandestina de fake news, que mistura caixa 2 com métodos imorais de luta política, Bolsonaro envergonha o país inteiro ao dizer que nada tem a ver com uma operação repulsiva e criminosa. Liberado pelos médicos para defender suas ideias e sua história num debate com Fernando Haddad, não teve a dignidade de se apresentar de face limpa num confronto que tradicionalmente marca o ponto alto de eleições no mundo inteiro -- em países onde vigora o regime democrático, bem entendido. Com o gesto final, que só seria possível com a conivência da TV Globo, que se recusou a convidar Haddad para uma entrevista a sós, como fez o programa  Roda Viva, da TV Cultura paulista, Bolsonaro encerrou com chave de ouro a mais perversa campanha de nossa história política, quando as liberdades asseguradas pela democracia são utilizadas para enfraquecer e ameaçar a própria democracia.  

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A saída nunca foi tão simples: votar em Haddad. 

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