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Eliana Rocha

Militante de direitos humanos, mestre em educação e doutoranda em políticas públicas e formação humanas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro/UERJ

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A tragédia política em Petrópolis

As ameaças são naturais, os desastres não- Cemaden

Petrópolis (RJ) (Foto: TV Brasil)
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Petrópolis, a cidade indormida, enlameada, coberta por destroços materiais e corpos  humanos dilacerados, é mais uma vez destruída pela incúria  de governantes em todos os níveis federativos, pelo amadorismo tosco de  administradores, e sobretudo  pela voracidade do capitalismo que avança seus tentáculos aos bens naturais que pertencem, por inalienável direito humano a todos os seres vivos  que habitam esse planeta.

Há dez anos a região serrana sofreu o maior desastre climático do país. Foram mais de 800 mortos na região. Desde então foram criados órgãos de monitoramento climático e de estudos sobre o solo, o clima, as ameaças decorrentes do aquecimento global, da destruição em marcha do ambiente inteiro.

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Foi criado o  Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (CEMADEN), órgão do  Ministério da Ciência e Tecnologia. Órgãos similares foram instalados nos governos estaduais e municipais, metodologias de  monitoramento climático e sistemas de postos de apoio, aviso foram implantados,  foram realizados treinamento de lideranças comunitárias visando qualificar a prevenção e o atendimento da população que vive em área de risco.

Mas aí está a raiz do problema: vamos banalizar o fato de que  a população viva indeterminadamente em áreas de risco?  Qual a parcela da população que vive em área de risco? Segundo o CEMADEN cerca de quinhentas mil pessoas viviam em áreas de risco na região serrana do ERJ no ano de 2012. Este número só aumentou com o empobrecimento da classe trabalhadora, com a privatização cruel dos serviços essenciais à vida, como o fornecimento de água.

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Os  programas habitacionais foram paralisados após o golpe de 2016, contra o governo que ousou incluir o povo no orçamento. Os terrenos direcionados à construção de condomínios populares foram reapropriados por empreiteiras que  se valeram do baixo custo para lucrar mais, mais e  mais. Os condomínios que estavam em construção, para atender às vítimas de 2011, levaram dez anos para ser entregues em péssimas condições de segurança aos moradores, sempre às vésperas de eleições locais. Já não servem como lares seguros, a infraestrutura de água, esgoto, energia foi negligenciada –  afinal, construção para pobre, como bem o sabemos, nem precisa seguir os manuais de engenharia. 

As empresas que hoje estão “caridosamente” doando água para os sobreviventes da atual tragédia, são as mesmas que privatizam os rios, as fontes e as nascentes e negam o acesso as essas mesmas famílias atingidas agora. Quem vive em Petrópolis não pode ignorar o drama das famílias de baixa renda  em permanente romaria na porta das concessionárias tentando negociar o pagamento indecente, imoral e fraudulento que lhe são imputados.

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As forças de segurança que nesse  momento são  solidárias com as famílias miseráveis enlutadas pelos filhos soterrados, são as mesmas que abusam de suas funções, atirando nos jovens - talvez os  os filhos que sobreviverem à tragédia,   classificando-os como suspeitos, bandidos, traficantes. 

Os comerciantes e empresas  que hoje doam alimentos e roupas (velhas) para os desabrigados farão campanha ostensiva contra qualquer direito trabalhista para essas mesmas pessoas,  que eventualmente  são seus próprios “colaboradores” informais e maltratados pelos patrões.

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Os religiosos caridosos que estão dando depoimentos na imprensa pedindo proteção aos seus deuses ingratos  e declarando que “fazer o bem faz bem”, discriminarão os sobreviventes que precisarem de auxilio-moradia, auxílio-gás, auxílio-transporte para chegar às residências das classes médias  que não oferecem nem um pedaço de pão durante a jornada contratada de serviços domésticos. Falarão em meritocracia, em investimento pessoal, em superação.

A família imperial, vejam só, existe uma família imperial na República Federativa do Brasil, que vive às nossas custas. Todo mundo sabe. Está na Constituição Federal de 1988. A população  ciclicamente se organiza para interromper esse descalabro que é pagar laudêmios a príncipes que não existem. São monarquistas, são os queridinhos do neoliberalismo canalha que prega o fim do Estado, desde que possam continuar vivendo às custas dele, são aliados políticos dos fascistas que estão no poder. Vez por outra cidadãos petropolitanos conseguem sensibilizar algum parlamentar, mas  de forma mágica, as iniciativas desaparecem na Câmaras Municipais e no Congresso Federal.

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Os governantes que hoje prometem mundos e fundos – tragédia em ano eleitoral pode melhorar o ibope dos candidatos – não cumprirão suas eternas e falsas promessas. Já se pode encontrar, andando entre os escombros,  candidatos disfarçados de bons samaritanos cadastrando os infelizes que perderam tudo, apesar de  nada terem, para receber um troco a título de “aluguel social”, uma jaboticaba serrana que engana trouxas desde que há chuvas na cidade. Esses governantes e eventuais  equipes de administradores medíocres cortam direitos, cortam orçamento até de comida para crianças em idade escolar, eles fecham escolas, eles fecham escolas, eles fecham escolas, eles fecham escolas.

As ONGs internacionais chegarão aqui, com mundos e fundos, convencendo cidadãos bem intencionados e incautos de que é necessário que os pobres tenham um ofício. Um ofício subalterno e submisso. E muitos ajudarão nessa missão redentora. 

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A imprensa, essa mesma que desqualifica o povo brasileiro, que oferece o sucesso pessoal dos milionários como único destino respeitável. Essas TVS  que conseguem audiências espetaculares com crimes, feminicídios e brigas familiares, que hipnotiza a população com programação idiotizante;  as concessões religiosas que todos os dias exorcizam demônios dos corpos de pobres trabalhadores que usam a bebida ou as drogas para suportarem a vida insuportável que levam. Estes órgãos de comunicação que dominam o povo  estão hoje em todos os locais da tragédia, oferecendo condolências às famílias enlutadas. Pessoas que,  humilhadas e ofendidas, postam-se à frente das câmaras para se verem na TV.

Eu acuso essa sociedade hipócrita de destruir a humanidade e o ambiente, de promover a mediocridade, a passividade, a subjugação do povo, de deixar morrer os descartáveis do sistema.

Precisamos arregimentar os revoltados, os indignados, os estraga-prazeres dessas cenas patéticas, ara lutarmos pela transformação necessária e urgente. Não existe hora conveniente, não existe momento adequado, não existe complacência possível para se adiar as denúncias. Há responsáveis pelas tragédias. Eles precisam ser nomeados.

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