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Pedro Alcantara

Doutor em ciências sociais e membro do diretório do PT-PE

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A votação do primeiro turno e a força de Lula nas urnas

A disputa será difícil, precisaremos de muita dedicação e mobilização. Mas nós seguimos muito fortes

Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert)
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Finalizada a contagem dos votos para a presidência da República uma onda de preocupação tomou conta da esquerda e dos democratas em geral. O motivo foi o crescimento de Bolsonaro, bem fora da margem de erro das pesquisas, além da eleição de uma penca de nomes da direita radicalizada país afora. A candidatura bolsonarista, de fato, mostrou uma resiliência importante, por muitos inesperada. 

O desempenho de Bolsonaro deve ser encarado com muita seriedade e senso de realidade, o que nos impõe, sim, total dedicação e o máximo cuidado na nova eleição que começa com o segundo turno. Isso é uma coisa. Outra coisa é partir-se daí para a frustração e o desânimo. Ninguém disse que seria fácil! Mas ainda é possível derrotá-los, e, eu diria, ainda é mais provável que os derrotemos. Então, muita calma nessa hora. 

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A votação de Lula foi nada menos que excelente! Ele conseguiu, ainda no primeiro turno, quase repetir a maior votação de todos os tempos em um SEGUNDO turno, que pertence a ele mesmo, em 2006 (58 milhões de votos). Mais de 57 milhões de brasileiros votaram em Lula no último domingo, o que faz dele o candidato mais votado na primeira volta de uma eleição nacional em toda a história brasileira. Foram mais de 48% dos votos válidos (semelhante ao seu melhor desempenho em 2006), faltando apenas pouco mais de 1,5% para a vitória definitiva. É muita coisa! Portanto, primeiro dado: às urnas registraram uma maioria a favor das forças democráticas. 

Lula cresceu em relação às suas votações de primeiro turno, mesmo àquelas do auge do lulismo, e às de Dilma e à de Haddad. Além disso demonstrou total resiliência à enorme ofensiva financeira do bolsonarismo sobre o eleitorado lulista entre os mais pobres no norte, no nordeste e na periferia sudestina. Segundo dado: nós também demonstramos vigor e resiliência. 

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A votação de Bolsonaro foi muito relevante, com mais de 50 milhões de votos no primeiro turno. No caso dele, um sucesso não anunciado pelas pesquisas, o que, claro, gera a sensação de vitória. Pode surgir uma onda crescente "Pró-Bolsonaro"? Sim. Pode, ao invés disso, ter sido um crescimento circunstancial de difícil alargamento? Também. Só a dinâmica do segundo turno deverá determinar isso. A votação de domingo, no entanto, nos dá algumas pistas.

É possível ter havido um “déficit” na declaração de intenções de voto em Bolsonaro colhidas pelos institutos, puxada pelo que alguns cientistas políticos chamam de “voto envergonhado”, quando o eleitor, sob pressão cultural e social, esconde do público suas reais intenções, mas deposita sua decisão final e secreta na urna. Esses votos podem ter estado escondidos entre brancos, nulos e nas declarações de intenção em Ciro, cujo percentual de eleitores que apontavam Bolsonaro como segunda opção aumentou nas últimas duas semanas. É apenas uma hipótese. 

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Não é absurdo considerar que esse voto tenha partido, sobretudo, das camadas médias do profundo centro-sul do país, o que inclui o interior de São Paulo, desanimadas com o bolsonarismo mas ainda fortemente antipetistas, alarmadas com a aparente volta imediata do PT à presidência e com a onda de opinião “pró Lula” nos últimos dias da campanha. Pode ter ocorrido algo muito curioso e complexo: a formação de uma onda de opinião em favor de Lula motivando uma onda de votos em Bolsonaro. 

A diminuição considerável do número de nulos e brancos em relação ao primeiro turno de 2018 (queda de mais ou menos 50%) pode sugerir que dali também saíram votos para Bolsonaro, escolhendo-o como “menos pior”, sobretudo quando observamos que na maioria dos estados onde ele teve boa votação essa queda ocorreu. 

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Pode ter ocorrido, portanto, uma onda de votos em Bolsonaro nos dias finais, não captada pelos institutos, à exceção da Quaest que sinalizou crescimento dele em São Paulo, Minas e Rio de quarta para sábado. Pode ser também que essa onda já tenha “sugado” tudo o que podia entre nulos/brancos, ciristas e tebetistas, sendo o que sobrou de votos nesses espaços agora potencialmente favoráveis a Lula ou, ao menos, antibolsonaristas.  Mas, como já dissemos, só a dinâmica da eleição daqui para frente dirá isso. 

Outro elemento a ser apontado é também a força dos candidatos proporcionais irrigados pelo orçamento secreto. A base apoiadora de Bolsonaro não brincou em serviço na mobilização de eleitores para si e os seus, nas periferias das grandes cidades e nos grotões. Quem conhece como funcionam as eleições sabe que isso pesa na urna, especialmente para a eleição das bancadas. Portanto, a de se ter cautela ao falarmos em “vitória ideológica” do bolsonarismo na eleição para o congresso, especialmente da Câmara e das Assembleias Legislativas. Eles elegeram figuras emblemáticas, é verdade, mas uma rápida pesquisada no Google nos mostra que a esquerda cresceu nesse quesito. 

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O nosso ponto é, se nossa hipótese estiver correta: mesmo tendo antecipado a mobilização favorável que poderia ocorrer no segundo turno o voto bolsonarista não foi suficiente para igualar o voto em Lula.  

Daqui pra frente, o segundo turno de São Paulo, além da atenção máxima ao Rio, a Minas e à manutenção e se possível ampliação do desempenho no Nordeste deverão estar no centro da estratégia de Lula. Sem descuidar de possível avanço sobre aqueles que se abstiveram, já que parte deles pode ter sido de eleitores mais pobres sem condição de irem às urnas. 

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A disputa será difícil, precisaremos de muita dedicação e mobilização. Mas nós seguimos muito fortes e, talvez, tenhamos ainda mais lenha para queimar entre o público de outras candidaturas que a campanha de Bolsonaro. 

Como diria Caetano: “é preciso estar atento e forte!”. Não temos tempo para frustrações. Temos todas as condições de ganhar essa eleição. É possível. Depende de nós. 

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