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Marcelo Auler

Marcelo Auler, 68 anos, é repórter desde janeiro de 1974 tendo atuado, no Rio, São Paulo e Brasília, em quase todos os principais jornais do país, assim como revistas e na imprensa alternativa.

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Ao mestre Ziraldo, obrigado e meu carinho!

"A 'despedida' de Ziraldo Alves Pinto demonstrou uma geração beneficiada que conviveu com ele. Uma geração de sorte", escreve Marcelo Auler

Ziraldo (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)
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Por mais contraditório que possa parecer, a “despedida” de Ziraldo Alves Pinto demonstrou uma geração beneficiada que conviveu com ele. Uma geração de sorte. Afinal, tivemos a chance de testemunhar por cerca de sete décadas com a genialidade dele e de toda a sua obra, onde muito aprendemos. Não é pouca coisa e, muito provavelmente, tão cedo não surgirá alguém do mesmo naipe. Alguém que, como bem definiu Zuenir Ventura em entrevista a Ruan de Sousa Gabriel, de O Globo, será “o único artista brasileiro de sua geração a continuar sendo lido no ano 3000 e depois”.

No meu caso pessoal, a sorte grande veio cedo. Bem no início da carreira profissional. Foi em 1976, dois anos depois de iniciar meu estágio na Rádio Globo. Foi quando o conheci e posso dizer que fui prontamente acolhido. Ou seja, ainda era o chamado “foca”, mas caí nas graças dele que se intitulou uma espécie de meu tutor. Portanto, não foi como leitor infantil ou admirador do seu belíssimo trabalho, ao qual estava acostumado a apreciar, através de suas charges no Jornal do Brasil, que passei admirá-lo. Mas como um aluno.

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Nosso encontro se deu na redação de O Pasquim, na famosa casa da Ladeira Saint Roman, em Copacabana, que exigia escalarmos uma escadaria quando não tínhamos carro, Embora tenha sido bem acolhido por todos – até mesmo pela secretária de fé, Nelma -, foi Ziraldo, sem dúvida, quem mais me deu força. Inicialmente publicando pequenas notas que enviava para as chamadas “Dicas do Pasquim”.

Estudante, participando de O Pasquim - Em dezembro de 1976, após o término da censura prévia, a entrevista com Chico Buarque sobre sua relação com censores.

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Era um orgulho, ainda estudante, ter a assinatura naquele que era tido como um dos maiores símbolo de oposição ao regime ditatorial. Na época eu já prestava colaboração para Movimento, outro jornal da chamada “imprensa alternativa” que se opunha ao regime militar ditatorial, portanto, como O Pasquim, era censurado. Tentávamos driblar os censores. Passar informações nas entrelinhas, o que nem sempre o “foca” conseguia. Mas foi uma escola.

Em outubro de 1976, por exemplo, a pedido de Movimento, Chico Buarque falou sobre seus planos de suspender shows e apresentações para se dedicar aos livros, peças teatrais e novas composições. Foi uma extensa conversa onde não nos furtamos de comentar, por exemplo, a censura que lhe era imposta, mesmo sabendo que isso jamais passaria pelo crivo dos censores. A entrevista publicada no jornal alternativo no final de outubro não comentava as questões dele com a censura.

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Pouco tempo depois, porém, a ditadura militar suspendeu a censura prévia que impunha a jornais como O Pasquim e Movimento. Era a oportunidade para divulgar a conversa com Chico Buarque ainda não tornada pública. Assim, na edição 0391, que foi às bancas na última semana de dezembro de 1976, foi publicado “Censura x Chico”, algo inédito para quem ainda estava na faculdade e somente dois anos como estagiário.

A entrevista que dom Hélder não queria dar - Ao assistir as longas entrevistas que a turma de O Pasquim fazia – fui convidado a participar, em São Paulo, da conversa com dom Paulo Evaristo Arns, com passagem e hospedagem paga pelo jornal – aprendi muito como eles praticamente dissecavam seus convidados, sem fazê-los sofrer.

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Teve ainda a entrevista com Dom Hélder Câmara, bispo de Olinda e Recife (PE), que evitava fazer comentários públicos nas suas passagens pelo Rio para não criar atrito com o cardeal Eugenio Salles, que ele chamava de “irmãozinho”, ainda que fossem diametralmente opostos nos posicionamentos políticos. Diante da minha insistência, ele acapu respondendo às perguntas escritas que deixei na casa onde se hospedava e publicamos “O que pensa Dom Hélder sobre:”

Ou seja, Ziraldo me abriu a porta de O Pasquim e com isso, me ajudou na carreira de repórter. Mesmo depois, quando me mudei para Brasília (1978/1980) e depois São Paulo (1980/1986), continuei colaborando com o jornal na medida em que isso não conflitasse com meus empregos de então.

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No Rio, novamente, junto com seu irmão Zélio, de quem me aproximei muito ao morar em São Paulo, me chamaram quando relançaram O Pasquim 21. Foi um novo período de convivência semanal.  Um novo sonho da dupla Ziraldo&Zélio, que infelizmente durou pouco, de 2002 a 2004. Depois disso, infelizmente, me afastei de Ziraldo. Acompanhei de longe suas enfermidades, respeitando seu isolamento. Fui revê-lo domingo, no velório, quando mais uma vez o agradeci. Vá em paz e obrigado!

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