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Rodrigo Lamore

Rodrigo Lamore é cantor, músico e compositor. Possui trabalho autoral e atualmente vive de shows voz e violão em barzinhos do Rio de Janeiro. É oriundo da cidade de Guanambi - BA e tem quase trinta anos de carreira musical.

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Banda argentina Soda Stereo e o isolamento musical do Brasil

Os únicos artistas de países vizinhos que já entraram no nosso mercado musical mainstream, foram cantores que primeiro fizeram sucesso nos EUA

Soda Stereo (Foto: Divulgação)
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Você provavelmente já ouviu a música “À Sua Maneira” da banda Capital Inicial. Pode ter ouvido no rádio, em shows da própria banda ou até mesmo nas noites de barzinho, ao som dos cantores voz e violão espalhados pelo país. Resumindo, todo mundo conhece essa música, mesmo não sendo fã de rock. Agora, e se eu te perguntar, se você já ouviu a canção “De Música Ligera”? A não ser que você seja um roqueiro que faz pesquisas sobre bandas, e principalmente, que pesquisa sobre bandas da América Latina, muito possivelmente você não irá saber de qual música eu estou me referindo e nem qual o nome da banda que a gravou. Acontece que a música original é essa segunda citada, e a primeira é apenas uma versão, que foi lançada anos depois no território brasileiro. A banda que primeiro lançou a canção em língua espanhola é a argentina Soda Stereo, um power trio que surgiu nos anos 80, e que entrou pra história do rock latino, tendo ganhado diversos prêmios da música, com uma imensa base de fãs espalhados, que vão do México até o Uruguai. Essa banda faz sucesso até mesmo no outro continente, mais especificamente, na Espanha. Ou seja, é uma banda de sucesso internacional. Mas não aqui no Brasil. Mas, por que? A Argentina fica aqui do lado, mas nada que é de lá chega até nós; e na verdade, quase nenhum artista de qualquer país da latino américa consegue penetrar nas rádios e nas tvs brasileiras, e vice e versa. Qual será o motivo?

Os únicos artistas de países vizinhos que já entraram no nosso mercado musical mainstream, foram cantores que primeiro fizeram sucesso nos EUA, pra depois terem as suas músicas exportadas para os diversos mercados, e quase sempre são oriundos dos seguintes países: Colômbia e Porto Rico, países conhecidos por serem praticamente colônias estadunidenses. Exemplos disso são Shakira, Ricky Martin, Luis Fonsi, e Enrique Iglesias. Nesses casos, não poderiam ser considerados legítimos artistas espontâneos da América Latina, mas sim uma ação comercial promovida pelos EUA pra preencher esse vácuo e ao mesmo tempo impedir a entrada de pessoas “de fora”, uma vez que não há artistas com essa mesma capacidade financeira e de marketing em outros países, como Uruguai, Venezuela, Chile, etc, e até mesmo o Brasil, pois o mercado musical estadunidense não atua nesses países (e quando atua, é pra dificultar a difusão do trabalho daqueles que não fazem parte da “panelinha”), portanto o monopólio do norte seria um dos empecilhos para a difusão da música entre os países sulistas. Até mesmo a cantora Anitta, que tem músicas gravadas em língua espanhola pra tentar entrar no mercado hispano americano, não tem suas músicas tocadas nas rádios dos países hermanos. Ela teve que ir pros EUA, lançar feats com artistas de lá, pra que, aí sim, entrar em outros mercados; porém, ainda não é o suficiente. O isolamento permanece.

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Do ponto de vista musical, é como se o Brasil fosse um continente e o resto dos países vizinhos fossem outro, não podendo haver qualquer mistura ou um mínimo envolvimento. Nenhum artista interage entre si, não há colaborações artísticas, não existe uma iniciativa séria e concreta no sentido de ajudar os cantores a saírem das bolhas. Obviamente que não estou me referindo a cena underground, que pode ser que tenha algo sendo feito atualmente nesse ambiente, mas isso não seria o suficiente para causar mudanças estruturais. Essa mudança só poderia acontecer no grande mercado musical, e portanto, precisaria ter um grande investimento financeiro.

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Talvez, o único mercado do entretenimento de massas que tenha furado a bolha, e conseguido entrar no Brasil, seja as novelas mexicanas, exibidas em horário nobre e em rede aberta, pelo SBT, como Maria do Bairro, A Usurpadora, ou até mesmo, aquilo que se tornou fenômeno em todo continente, a produção do ator, diretor e roteirista, Roberto Gómez Bolaños: Chaves e Chapolin. Mas, com as dublagens em português no Brasil, esse impacto diminuiu, pois a sensação pra quem assiste, é de que essas obras são brasileiras, não havendo elementos visuais que pudessem criar a percepção de integração à cultura hispano-americana. Deveria haver mais coisas presentes nessas produções do audiovisual para gerar uma certa curiosidade ou afinidade com a arte e cultura dos países de origem; por exemplo, mostrar, durante as cenas, músicas, danças, comidas típicas, fatos históricos, ou seja, criar um vínculo cultural com o telespectador. Isso, inclusive, tem um nome, se chama soft power, algo que é feito constantemente por Hollywood nas suas produções, ao mostrar a cultura dos EUA nos filmes e séries.

Apesar dessa façanha do México em exportar algumas de suas obras, e conseguir grande sucesso, nada mais aconteceu além disso. Nem o Brasil com sua capacidade econômica, nem nenhum outro país obteve ainda, nenhuma conquista nesse sentido. Continuamos separados; o Brasil de um lado, e o restante da América Latina do outro. Ambos não sabem da existência do outro. Cantores brasileiros não estão lotando estádios nesses países. Artistas da américa espanhola não estão lotando estádios brasileiros. A integração econômica do Mercosul não terá pleno êxito, sem haver também, a integração artística, em especial, a música.

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