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Rogério Puerta

Engenheiro agrônomo, atuou por doze anos na Amazônia brasileira em projetos socioambientais. Atuou em assentamentos da reforma agrária no Distrito Federal por dez anos e atualmente vive em São Paulo imerso em paixões inadiáveis: música e literatura. Escreveu diversos livros

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Báratro: o inferno verde e amarelo

Ergam-se forças demoníacas impuras e horrendas!

Homem segura bandeira brasileira durante bloqueio na BR-251 em Planaltina 31/10/2022 (Foto: REUTERS/Diego Vara)
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Foi em crônica de Rubem Braga do ano de 1956, "A Moça", em que você, pela segunda ou terceira vez, tomou contato com a palavra báratro. Segunda ou terceira vez pois não se lembra, e se teve de novamente olhar o dicionário por não se recordar o significado de báratro, é porque não foi suficientemente inteligente ou de boa memória para apreender o significado. Apreender, de aprender e segurar, uma apreensão semântica.

Rubrica, pudica, pronunciadas tal qual carniça. Mas avaro é que é a palavra campeã. Ex-campeã, removida do posto mais alto do pódio, báratro a supera, talvez, mais ainda se não houvesse o acento agudo a denunciar a proparoxítona. Portanto tônica na sílaba ba. Toda proparoxítona é acentuada, aí fica fácil.

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Se acento agudo não houvesse, provavelmente bem poucos pronunciariam corretamente, tal qual avaro, que quase ninguém pronuncia corretamente, o fazem "Ávaro", essa letra a inicial tônica inexistente e muito errônea. Avaro, sem acento agudo na palavra, portanto sílaba tônica no va, por mais estranho que possa parecer. Tal qual a pronúncia em português do carro Chevrolet Camaro.

Rubem Braga, sagrado monstro. Ler é escrever, muitos já assim disseram. Aconselha-se. Se quiser escrever, leia muito. Enquanto lê, inconscientemente o cérebro rabisca parágrafos inteiros em massa encefálica cinzenta de proteína e gordura.

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Aqui um laivo de arrogância, como se porventura este que agora escreve dominasse a arte e, maior empáfia ainda, dominasse fração qualquer da gigantesca e cativante língua portuguesa. Que seja, deixa pra lá por enquanto, muitos jornalistas da área jurídica, de renome, pronunciam ainda a palavra dolo errada, por se assemelhar à pronúncia de crime doloso, mas dolo não tem a pronúncia de doloso, tem a pronúncia de solo, colo, cosmo.

Tanto Rubem Braga quanto seu xará Rubem Fonseca usaram e abusaram de uma linguagem coloquial deliciosa e instigante em suas crônicas. Fonseca bem mais do que Braga, também ele bem mais cáustico, mais ousado, erótico, bem mais violento, um corajoso atentado à moral e aos bons costumes familiares cristãos judaico-ocidentais, ainda mais em plena ditadura militar brasileira. 

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Fonseca de uma ousada inteligência e perspicácia cotidiana, enfrentou aquela coisa toda do pretérito "Deus, pátria e família". O mesmo mote atual neofascista brasileiro, ao qual se acrescentou a palavra mágica liberdade. O "E liberdade" foi para disfarçar o plágio intencional e laudatório ao fascismo original de Mussolini, ele um enamorado político de Adolf Hitler. Corações altruístas jamais.

Deliciosas, salivantes crônicas de ambos Rubem. Na crônica "A Moça", de Braga, até que báratro fica meio secundário. Báratro. Por que resgatar agora palavra de tão nefasto significado? Simples, porque o momento a pede, pede seu resgate, desde onde esteja, de quais profundezas abissais satânicas e maledicentes vier. Báratro, um lugar lúgubre. Lúgubre, algo sombrio, taciturno, mórbido talvez.

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Será tão diferente a situação atual deste nosso país chamado Brasil? Há de se ver ao redor, no vizinho Peru um amalucado se firmando em liderança política que se diz celibatário, simpático à autoflagelação e com vínculos à prelazia controversa e misteriosa, a Opus Dei.

Neofascistas espalhados mundo afora. Tal sujeito que pode chegar à presidência peruana encara o aborto como o mais abominável crime da Humanidade, daí se depreende, por lógica, que tal sujeito ultrarreligioso estará disposto a tratar uma mulher vítima de estupro que pense em abortar o feto do pai monstruoso, se infere que o político peruano eminente irá tratá-la, mulher traumatizada, tal qual uma homicida ao nível de uma besta sanguinolenta destroçadora de crânios adolescentes femininos e pudicos.

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Aí novamente o pudico, afinal as menininhas pudicas seriam mais frágeis, portanto mais dignas ao canibalismo salivante sanguinário de uma mulher traumatizada vítima de estupro atroz. Então surge um novo líder político de ultradireita em nosso vizinho, o Peru, que acento agudo não tem em português, mas lá mesmo, em espanhol, grafa-se Perú. Aqui não, sequer Pitu.

Quem aprecia uma cachaça confunde, pois até hoje a marca "Pitú" grafa errado, com acento agudo no u. Também sem acento Caracu, a cerveja preta, que em rótulos antigos grafava errado, mas se corrigiu. E por aí vai, tudo sem acento, inclusive cu, que nem é tão chulo assim, vem de culus, ânus em latim.

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Itaú, baú, Anhangabaú, têm acento, finalizam com u precedido de vogal em hiato, são diferenciadas portanto. Mas onde diabos fica o báratro? O báratro é o Brasil atual, não menos, infelizmente. Vem do grego bárathron, lindo nome para uma banda de heavy metal, perfeito para esta finalidade. E há tal banda, porém Varathron, uma das variações da grafia original.

Báratro é o Brasil atual, de gente fazendo prece a Deus para que este impeça onipresente um temporal que abala barracas bem estruturadas de fundamentalistas-religiosos se manifestando em atos antidemocráticos, pedindo auxílio às Forças Armadas para que a força vença a razão. Gente às lágrimas em epifania, ajoelhada, louvando uma notícia falsa ridícula recebida via telefone celular em grupo de zap.

Este é o Brasil atual, de uns 60 milhões de brasileiros e brasileiras que aparentam pensar o mesmo daquilo que se passa na imunda e sádica cabeça do ex-presidente neofascista que irá ao presídio em breve, espera-se, aleluias, glórias pai e améns, por nítida justiça a ser feita.

Báratro é o abismo infernal, de abominações, demônios vários, lar ancestral de Lúcifer, Baphomet, Mefistófoles, Asmodeu e tantos outros. Um abismo verde e amarelo, criado aos poucos, em atitudes sequenciais amadurecidas, brasileiros e brasileiras que optaram por flertar com o sadismo, se aprazem em jocosos comentários aos inimigos políticos, inimigos de morte.

Cor, religião, orientação sexual, origem geográfica aí inclusos. Tudo isto um foco e destino de ódio tal qual um alvo circular de jogo de dardos, alvo dependurado na parede da mansão, aonde se atiram os dardos afiados com a mão direita. Há de ser com a direita, em acordo com a crença do momento, um astrólogo assim professou, algum deles talvez. Jogo de dardos, costume bem pouco nacional, mas que, tal qual tudo o que vem dos EUA, acá também acaba adotado e incensado.

O abismo satânico de indizíveis blasfêmias e purgações, vermelho por natureza, foi transmutado em uma simbologia verde e amarela, de tantas e tantas bandeiras nacionais nossas orgulhosamente exibidas a todos os cantos. O inferno não mais seria o fosso abissal de vermelhas, alaranjadas, temíveis labaredas calcinantes eternas. Abaixo o vermelho!

Em um raciocínio imperfeito e tacanho dos atuais apoiadores do ex-presidente anticristo, o ódio deve ser o mote guia, afinal, dizem combater o colossal Satã comunista, Stalin, também os perigosos cubanos produtores de charutos aromáticos, também o líder amalucado norte-coreano, também os venezuelanos nossos amistosos vizinhos.

Supõem os ultradireitistas brasileiros, assim eles supõem, que tais líderes políticos esquerdistas, hoje em dia principalmente, pratiquem a contento a real filosofia comunista, socialista que seja, de inspiração em Marx e Engels, como se malévola fosse tal ciência política. Até a dita comunista China pratica uma política econômica pragmática em que novos milionários lá pipocam ano a ano. Nem tão comunista assim.

Os atuais ultradireitistas brasileiros pinçam frases fora de contexto para justificar seu ódio explosivo, algo que Lenin ou Trótski porventura tenha falado, mas não se abalam ao verem frases absurdamente sádicas e desumanas, por exemplo, literalmente retiradas de textos sagrados do Antigo Testamento. Nesta sagrada escritura antiquíssima, pinçar frases fora de contexto é assustador ao extremo.

"Se um homem tiver um filho obstinado e rebelde que não obedece ao seu pai nem à sua mãe e não os escuta quando o disciplinam [...] Então todos os homens da cidade o apedrejarão até a morte". Mais grave ainda quando há sim o contexto da frase isolada. O Antigo Testamento exibe explícito a que veio aos homens.

Desconsiderar o contexto é sempre um erro crasso. O já citado aborto fetal. Ato taxativo, mas que em muito deva ser refletido caso fato decorrente de um estupro atroz ou excepcionalidade.

Para maior fúria e revolta absoluta, gritos esbaforidos recheados de perdigotos, muita indignação, descabelar loiro sulista, para total ódio e indignação, choro e ranger de dentes. Para indignação extrema, sim, do povo reacionário religioso, apresenta-se o fato de que a imensa maioria dos estudiosos, cientistas políticos, historiadores e outros, a grande maioria atesta sem hesitar que Jesus Cristo em boa parte de sua trajetória terrena praticou o que milênios após se chamaria de filosofia comunista, não menos do que isto.

Só o fato de citar tal palavra proibida, tabu absoluto, palavra abjeta impronunciável, citá-la, já remete à desgraça o ousado pronunciador de tal termo impuro, blasfemo, lascivo, mórbido, ultrassádico. Somente o citar tal termo, o comunismo, envia fulminante tal sujeito ousado, em forma de raio implacável de fúria e fogo, envia tal ser mortal de um modo vingativo e imperdoável para o maior abismo conhecido de indizíveis sofrimentos agudos eternos.

Irá, pois, aquele que ousar pronunciar a palavra comunismo, aos círculos mais profundos do agonizante inferno presidido por Satã em pessoa e majestade. O báratro infame, ignóbil. Uma recâmara infernal, que seja vermelho-alaranjada, ou que seja de tons verdes e amarelos mesmo. Um inferno voluntário criado por mentes desequilibradas necessitando urgente higienização e tratamento.

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