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Joaquim de Carvalho

Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: joaquim@brasil247.com.br

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Bertholdo, Sergio Moro e Teori Zavascki: Advogado vai tirar os esqueletos do ex-juiz do armário?

Perseguido pelo então titular da 2a. Vara Federal de Curitiba, Bertholdo desiste de fazer revelações pela rede social, mas garante que dará entrevista

Sergio Moro (à esq.) e Roberto Bertholdo (Foto: Jefferson Rudy-Agência Senado I Reprodução)
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Há dois dias, o advogado Roberto Bertholdo disse na rede X, antigo Twitter, que revelaria fatos relacionados ao ex-juiz Sergio Moro e a Teori Zavascki. Depois disso, silenciou.

Nesta sexta-feira, ele se manifestou novamente sobre o caso, e afirmou que decidiu contar o que sabe sobre a relação de Moro com o ex-ministro do STF por outros meios.

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“Informo que decidi, em princípio, que não vou falar somente pelo X e vou eleger um ou mais veículos para esclarecer o que eu acredito ser importante. O que vou falar corrobora aquilo que o Ministro Gilmar muito bem colocou”, escreveu.

Gilmar Mendes, em entrevista para o Brazil Journal, afirmou que Moro emparedou Teori Zavascki algumas vezes, para obter decisões que lhe seriam favoráveis. Mendes não detalhou, mas uma delas foi revelada por mim, em 2017, quando usei exatamente o verbo emparedar.

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“Como Sergio Moro emparedou Teori e o STF para consolidar seu poder” foi o título da reportagem, publicada em maio daquele ano.

Nesta época, Gilmar Mendes ainda não era um crítico severo da Lava Jato. Um ano antes, ele havia impedido a posse de Lula como chefe da Casa Civil, exatamente como desejava Moro.

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Não há evidência de que Gilmar Mendes tenha sido emparedado por Moro, ao contrário do que ocorreu no caso de Teori Zavascki. 

Em maio de 2014, Teori teve a oportunidade de impedir que a Lava Jato seguisse adiante, mas recuou, depois de uma manobra de Sergio Moro.

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O então relator do caso no STF concedeu liminar num habeas corpus apresentado pelo jurista Fernando Fernandes, e mandou libertar todos os presos na primeira fase da operação, incluindo Alberto Youssef, Paulo Roberto Costa (Petrobras) e Carlos Habib Chater (dono do Posto da Torre, que ensejaria o batismo “Lava Jato”), além de um suspeito de tráfico de drogas, René Luiz Pereira.

A operação tinha dois meses, e a consequência natural da decisão de Teori Zavascki seria sua redistribuição para outros foros, incluindo o STF, o que impediria a ascensão de Moro, que, hoje se sabe, tinha um projeto político em andamento.

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Logo depois da decisão, foi vazado para a revista Veja informação de que Teori havia mandado libertar um traficante. 

Na época, não se falava com ênfase em corrupção na Petrobras. À noite, o Jornal Nacional repercutiu o vazamento, e teve início uma avalanche de críticas na rede social, na linha de que o STF havia mandado soltar um traficante.

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Renê não tinha condenação ainda, mas sua presença entre os presos da Lava Jato e as críticas subsequentes constrangeram Teori, que tinha pouca experiência no STF - foi nomeado por Dilma Rousseff em novembro de 2012.

Ao mesmo tempo, em vez de cumprir a decisão da corte superior, Moro mandou um e-mail para Teori, para alertá-lo de que a liminar colocaria na rua um suspeito de tráfico. 

O e-mail seria revelado por Moro quatro anos depois, numa entrevista ao Roda Viva. O que Moro não contou na entrevista é que ele já conhecia Teori, desde que foi juiz federal em Cascavel, em 1998.

Na época, Teori ocupava a vice-presidência do TRF-4, e Moro tinha sido alvo de críticas contundentes de advogados na cidade, por supostamente favorecer o escritório de Rosângela com indicações para ações na área tributária.

Rosângela ainda tinha Moro no nome, pois não eram casados, mas ela foi para Cascavel depois que o futuro marido, então namorado, foi nomeado titular. 

Os dois tinham se conhecido na Faculdade de Direito de Curitiba, onde Rosângela era aluna e Moro, professor de Direito Constitucional. 

Também lecionava ali Michel Saliba, que foi presidente da OAB em Curitiba e, em entrevista ao 247 para o documentário “A Grande Farsa - Como Moro enganou o Brasil e ficou rico”, definiu Rosângela como”alpinista social”.

O que surpreende na carreira de Moro é que ele ficou apenas um ano na Vara de Cascavel, que teve como antecessor João Pedro Gebran Neto, que viria a ser relator da Lava Jato no TRF-4. 

Em 1999, Moro aceitou ser transferido para uma vara previdenciária em Joinville, Santa Catarina, de muito menor prestígio, justamente depois da denúncia de que teria beneficiado o escritório de Rosângela. 

Em janeiro daquele ano, os dois se casaram e, alguns meses depois, Moro recebeu a visita de Teori, o que é incomum, já que Moro era juiz com apenas três anos de experiência e Teori, um desembargador influente no TRF-4.

Foi o próprio Moro quem revelou esse encontro, na sua autobiografia. A pergunta é: Por que Teori se preocupava com Moro, já que não eram amigos. Um jornalista de Cascavel, que denunciou juízes da cidade por venda de sentença, me contou sobre um motivo possível para essa preocupação.

Moro não foi denunciado por esse jornalista, mas ele me disse que sabia de uma prática heterodoxa de Moro – para não dizer ilegal. 

Quando foi juiz titular na cidade, ele teria tomado depoimentos que comprometiam seus antecessores, mas nunca os usou oficialmente. 

Ao realizar o documentário, procurei Moro, em seu apartamento em Curitiba, e também sua assessoria, mas ele não quis dar entrevista.

O que Bertholdo falará sobre a relação de Moro com Teori? O advogado admitiu à TV 247 que viu o vídeo gravado pelo seu ex-sócio Sérgio Costa, com desembargadores dividindo a suíte presidencial do hotel Bourbon com prostitutas agenciadas por Mirlei de Oliveira.

O encontro, que o empresário Tony Garcia, ex-agente infiltrado de Moro, chamou de festa da cueca, não teve a participação de Teori, mas, em outro prostíbulo famoso, o da Tia Carmen, em Porto Alegre, ele foi visto diversas vezes.

O gerente da casa me contou, com detalhes, na apuração de outro documentário sobre Moro, “ Um Juiz Fora da Lei”. Segundo Tony Garcia, Moro usava informações sobre magistrados de cortes superiores para pressioná-los.

Teria usado alguma vulnerabilidade de Teori para conseguir seus objetivos? Bertholdo talvez saiba. O que ele vai dizer, com certeza, é que a relação de Moro com o ex-ministro do STF não era pacífica, e a família de Teori sabia disso.

Bertholdo estuda para que veículo dará entrevista. A TV 247, que já o ouviu sobre suas denúncias a respeito de Moro, é uma das candidatas. 

O advogado ainda não respondeu, mas ele sabe do comportamento profissional deste jornalista, que sempre se apresenta às suas fontes, por mais controvertidas que sejam, com a frase: “Não sou juiz moral de ninguém, mas tenho uma condição para fazer a entrevista: que não haja mentira”.

A relação de Moro com Teori, mesmo que envolva aspectos pessoais, é de interesse público, para que se saiba por que e como Moro, durante alguns anos, foi um magistrado acima do STF.

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