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Carlos Hortmann

Professor, filósofo, historiador e músico.

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Boaventura de Sousa Santos – um conservador-progressista

Boaventura de Sousa Santos (Foto: Beto Monteiro/Secom UnB)
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O conhecido sociólogo português é muito “ovacionado” no Brasil como uma pessoa progressista de esquerda, visto que a sua obra é fortemente marcada pelo discurso pós-colonial, decolonial, epistemologias do Sul e afins. Essa “aparência” de esquerda e de defensor dos povos colonizados do Sul, procura ocultar o seu “conservadorismo-progressista”. Esse falso vanguardismo é muito bem desmitificado pelo filósofo Paulo Arantes na sua obraFormação e desconstrução: uma visita ao Museu da Ideologia Francesa”. O Boaventura é um típico intelectual pós-moderno que pretende fugir do marxismo (da luta de classes, superação do capitalismo e todo o legado histórico do socialismo real), assim como o diabo foge da cruz. Se quiserem ler uma crítica destruidora acerca do antimarxismo (e também anticomunismo) de Sousa Santos, deixo vós um precioso ensaio de José Paulo Netto

O meu objetivo com esse artigo não é discutir a obra do referido sociólogo, pois tem muita gente com mais capacidade que já fez isso com rigor e precisão, mas de sinalizar para um tipo de intelectual público que é adorado pela classe dominante, apesar de vestir algumas roupas características da esquerda, pois ele é fiel defensor do sistema capitalista, com o discurso do “melhorismo” ou de que é possível humanizar o capitalismo. Isto é, parece que Sousa Santos acredita mais na ideologia do capitalismo como “fim da história”, do que o seu formulador original Fukuyama.  

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Essa posição ideo-política ficou expressa no seu mais recente artigo a comentar as eleições legislativas em Portugal, no último dia 30 de janeiro. Caro/a leitor/a (brasileiro/a) peço imensas desculpas de antemão se deixar alguma contextualização da política local portuguesa de fora, para o texto não ficar tão longo, portanto, a focar nas ideias essências enunciadas pelo professor Boaventura. 

“O que une os dois partidos [Partido Comunista e Bloco de Esquerda] e é mais relevante para entender as causas profundas do seu desaire nestas eleições é que para ambos o PS é, no fundo, um partido de direita, uma direita que se disfarça de esquerda, mas que verdadeiramente não o é. Esquerda verdadeira são eles.”  

Ele procura fazer uma distinção das origens histórica e social dos dois partidos, contudo, para ele os mesmos se “unem” no entendimento de que o Partido Socialista (PS) é um partido de direita, como fosse um julgamento essencialmente moral. Vamos ao concreto e no substancial. No que o projeto político-económico do PS se diferencia em termos práticos do Partido Social Democrata (PSD)? Em NADA! Os dois estão subordinados ao projeto económico europeu comandado pela Alemanha e França: neoliberalismo. Para nós da classe que vive no trabalho tivemos grandes perdas com as contrarreformas trabalhistas (alterações ao código do trabalho) realizadas pelo Partido “socialista” no governo Sócrates. O PSD sob o comando de Passos Coelho só agudizou o sofrimento, a fome, os despejos e o desamparo iniciado pelo P “S”. Ou seja, para os/as trabalhadores/as nacionais e imigrantes, os governos do PS nos violenta e pauperiza todos os dias assim como os do PSD, a diferença entre os dois só está no método de nos empobrecer, um é mais afoito do que o outro, mas no substancial continuam a garantir o lucro da classe dominante lusitana. Poderia continuar a enumerar as similitudes medular entre PS e PSD (o dito partido da direita portuguesa). Quando nós afirmarmos que o P “S” é um partido de direita não é mera retórica ou uma questão moral de “sermos a verdadeira esquerda”. É a realidade material que nos sustenta tal entendimento político. Ah! Sem esquecer que PS e PSD comemoraram por muitos anos abertamente a derrota da Revolução (PREC) no 25 de Novembro de 1975.  

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O descaramento e desfaçatez de Boaventura de Sousa Santos avança um pouco mais:

“E lembremos que, em 2011, o mesmo desprezo pela realidade levou o BE [e também o PCP e Verdes] a chumbar o Plano de Estabilidade e Crescimento do Governo socialista (José Sócrates), abrindo as portas para a direita mais anti-social que o país já conheceu.” 

Observemos. Os partidos que não resolveram aprovar o tal “plano” de Sócrates e do PS (sem esquecer de que foram eles que trouxeram a TROIKA para Portugal) são culpados pela vitória do PSD – com uma agenda ainda mais alinhada aos interesses neoliberais da Alemanha. O problema para ele nunca é o capitalismo enquanto um modo de relação social que se sustenta na exploração e na desigualdade como princípios basilares. Não estou a escamotear os erros e problemas políticos que à esquerda portuguesa detém, mas o problema central é que o “grande sociólogo” recorre a argumentos de tipo moral-cristão. Em síntese, uma esquerda que não viabiliza o governo P “S” é culpada, é irresponsável, coitadinho do “Costinha” que não foi entendido e “atendido” pelo PCP, Verdes e BE. Quando se abandona a luta política concreta (especialmente a revolucionária e anticapitalista) e se agarra a um moralismo abstrato e “melhorismo” dentro dos marcos impostos pelo capitalismo, só sinalizada a caducidade da crítica à exploração capitalista e a todos os tipos de opressão. Para quem acreditava que não poderia piorar:

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“[...] é mérito incondicional do PS de António Costa ter evitado a emergência de uma “geringonça” de direita.”

O famoso sociólogo só está a repetir a tática política-eleitoral do P “S” nos últimos dias antes da eleição, quando as pesquisas/sondagem davam um empate técnico entre o partido de Costa e de Rui Rio. Nesse sentido, o P “S” recorreu ao medo de uma coalização entre a direita moderada e a reacionária/fascista, pois sabem que as memórias antifascistas em Portugal continuam bastante vivas. Portanto, quem legitima a utilização do afeto-político do medo contra o avançar da luta por melhores condições de vida (aumento substantivo dos salários, fim da caducidade dos contratos coletivos, universidade e creches gratuita e universal, assim como a saúde) da classe trabalhadora, não passa de mais um serviçal da classe dominante portuguesa e das elites políticas.  

Um apontamento final, mas não menos importante. Reconheço a relação próxima que Sousa Santos tem com Bloco de Esquerda, mas me soou bastante machista o facto de ele focar no pedir a demissão da líder do partido, Catarina Martins. Ao ponto de utilizar o adjetivo patético quando referiu ao seu discurso. A mesma crítica personificada não ocorreu ao discurso do camarada Jerónimo de Sousa na noite eleitoral, entretanto, quando critica o PCP pela sua falta de “renovação”, quer dizer, renunciar ao comunismo, a luta de classes, ao imperialismo e afins, faz sem personificar, quiçá se o PCP tivesse uma secretária-geral, talvez coubesse.

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