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Jimmy Bro

é um comunicador e músico paulistano. Dirigiu dois documentários: Escolas Ocupadas - A verdadeira reorganização (2015) e Raízes de Resistência (2018), ambos disponíveis no Youtube. Instagram: @jimmybro.arte

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Bolsonaro fez uma escolha política estratégica e dolosa

Por isso, não basta responsabilizar quem executou o crime, mas é igualmente necessário que indique e responsabilize os verdadeiros mandantes, para fechar de vez esse quebra-cabeça e amarrar todas as pontas soltas que foram surgindo ao longo da CPI, e se reencontram no Ministério da Economia

Protesto contra o presidente Jair Bolsonaro no centro do Rio de Janeiro. 02/10/2021 (Foto: REUTERS/Ricardo Moraes)
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Bolsonaro não é necessariamente negacionista, mas usou e incitou o negacionismo durante a pandemia como ferramenta para seu projeto político, o que é ainda pior. Ele é tão negacionista quanto é evangélico, antissistema ou flamenguista...ou seja, só quando conveniente. Não foi por convicção (o que já seria péssimo), mas, sim, escolheu apenas usar esse discurso estrategicamente (inclusive, acho que se vacinou escondido). Mas a parte da sociedade que passou a aderir de verdade a esse negacionismo causou impacto direto na nossa situação. E o governo buscou a pseudociência que respaldasse suas ações e difundisse essa visão.

Por isso, chamar a atuação do governo de “incompetência”, nesse caso, é errado. Ou insuficiente. O que aconteceu decorreu de um projeto. Ele poderia, se quisesse, ter combatido a pandemia com seriedade e feito uso político disso (como muitos governantes o fizeram), e, inclusive, poderia ter ido por um caminho de concentração de poder ao impor restrições, como ocorreu na Hungria, El Salvador, etc. Mas Bolsonaro fez uma aposta diferente, ele optou por um outro caminho (mais parecido com o de Trump). Não foi (só) ignorância. Foi uma escolha política estratégica e dolosa.

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A maneira de conduzir a pandemia – seja no discurso ou, na prática, agindo contra todas as medidas de combate ao vírus, como o distanciamento, o uso de máscaras, a aquisição e apoio às vacinas (exceto nos casos em que era possível negociar propina através de “cambistas”, como bem mostrou a CPI), enfim, sabotando tudo o que era indicado pela ciência – propiciou que o desastre se prolongasse no tempo. E, enquanto ele se beneficiou disso tudo, visto que as manifestações de rua por parte da população mais sensata no momento crítico da pandemia não ocorriam (o que gradualmente começou a mudar), os seus seguidores ou seus comandados, sempre se aglomeraram aos montes em seu nome, pedindo golpe e espalhando o vírus, enquanto acreditavam na “cura” milagrosa do mito (que tentou legitimar isso ao criar seu gabinete paralelo, muitas fake news patrocinadas e fraudes assassinas como na Prevent Senior).

Começou com o falso dilema de "vidas X economia". Mas que economia? Logo vimos que esse prolongamento, por lidarem com o vírus no estilo eugenista da "imunidade de rebanho" e sem dar suporte financeiro para garantir isolamento decente a todos e evitar falência de pequenas e médias empresas (as que Guedes disse não valer a pena salvar, na gravação da reunião ministerial), só favoreceu a minoria de sempre. Vimos a desigualdade se aprofundar, monopólios se expandindo enquanto pequenas/médias empresas quebravam, novos bilionários surgindo e aumentando suas fortunas, enquanto do outro lado a fome também crescia. Preços subindo junto com a miséria. A quantidade de brasileiros na lista da Forbes aumentou, e na fila do osso também.

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O caso Prevent Senior só reforça o quanto o Ministério da Economia e seu projeto foram fundamentais no motivo da pandemia ter sido conduzida dessa forma. A Prevent produziu através do experimento macabro (respaldado pelo governo) uma fraude de subnotificação, onde mesmo ciente da ineficácia do tratamento, continuou aplicando e condenando pacientes à morte, mas divulgando o contrário ao distorcer números e propagandear remédios inúteis, alinhados ao discurso presidencial. Eles sabiam que, além de aumentar o lucro da própria empresa, isso geraria a sensação de tranquilidade na população, que iria se expor mais e aprofundar a pandemia, a prolongando no tempo.

Essas consequências já eram previstas pelo governo, e junto a todo o pacote negacionista, foi feito dessa forma por opção, enquanto hipocritamente se fez o discurso de que a "nobre intenção" era retomar rapidamente a economia, quando na prática aconteceu o contrário: o descontrole da pandemia só piorou a situação e atrasou qualquer retomada econômica (com exceção dos bilionários que aumentaram suas fortunas). Para entender o porquê de tudo isso ter acontecido, basta examinar quem saiu ganhando.

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E com todos os absurdos, esse governo ainda não caiu justamente por ter mantido e ampliado os benefícios de setores da alta elite (o que mostram algumas pesquisas, com maior aprovação do governo entre as maiores faixas de renda). Atendeu interesses de grupos privados e também políticos, ao se ver forçado a se vender para o centrão para manter uma base parlamentar que o segure no cargo. Assim como manteve apoio e consentimento dos militares que foram cúmplices.

O povo sofre com o desastre, mas a narrativa bolsonarista sempre transfere a culpa, discurso que acaba colando para muita gente que não se beneficia em nada, mas acreditam no mito, mesmo sendo prejudicados. Felizmente, muitos tem se desiludido e a CPI teve papel fundamental nisso. Ao mesmo tempo, Bolsonaro segue radicalizando suas bases e focando na possibilidade de reeleição (legítima ou não), fortalecendo o discurso de fraude e desconfiança para tumultuar o ano que vem. Quer, mais uma vez, fazer como Trump. Avança e recua estrategicamente de acordo com a correlação de forças, mas sempre alargando a margem do que é considerado aceitável, naturalizando o absurdo e a mentira.

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Fez a aposta de se colocar nessa posição, contra as instituições, governadores, cientistas (assim como na questão ambiental), OMS etc, numa batalha retórica que ignora qualquer compromisso com a verdade. Cria e espalha a própria narrativa de forma vitimista/conspiracionista e lava as mãos, buscando respaldo pseudo-científico em seu gabinete paralelo, e colocando a culpa pela tragédia brasileira exclusivamente nas necessárias restrições adotadas por governos estaduais e prefeituras, garantidas na Justiça. Como se não tivesse condições de ter feito diferente. Inicialmente, auxílio de R$600 que demorou a sair e só chegou a esse valor graças à oposição (Guedes propôs R$200). Em seguida, caiu para R$150, após um período de meses sem nada, justamente no pior momento da pandemia. Enquanto isso, alguns poucos bilionários ganhavam muito dinheiro, ao mesmo tempo em que ultrapassamos meio milhão de mortes (evitáveis, em sua maioria, como também foi comprovado). 

Vale lembrar que, depois do lucro na crise, parte dessas mesmas elites já mostram interesse em substituir o atual presidente por uma versão mais "limpinha" e discreta, mas que mantenha basicamente o mesmo plano econômico. Pode reparar que a crítica da direita arrependida ao governo só vai até a página 2, já que pra eles o único defeito do Guedes é não ter sido mais ativo na radicalização neoliberal. Tentam se descolar agora, mas enquanto ganharam juntos, estava tudo certo...e isso não podemos esquecer!

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Portanto, espero que apesar de não ter sido ouvido na CPI, o relatório aponte com firmeza a responsabilidade de Paulo Guedes e do Ministério da Economia, pois já foi comprovado através de muitos depoimentos como o de Mandetta, Teich, Pazuello, Elcio Franco, Bruna Morato e outros, que todo o suposto negacionismo do governo só ocorreu pois foi motivado pelo Ministério da Economia! A partir de lá, a demanda seguia para o gabinete paralelo e depois alimentava a fábrica de fake news (que teve grande financiamento). Mas foi na Economia que começou, lá que se pautou como deveria ser a condução, esses são os verdadeiros mandantes do crime, e criaram o gabinete paralelo para respaldar suas ações. Interesses econômicos de um pequeno grupo prevaleceram sobre o direito à vida, a exemplo do que aconteceu em menor escala na Prevent Senior! 

Por isso, não basta responsabilizar quem executou o crime, mas é igualmente necessário que indique e responsabilize os verdadeiros mandantes, para fechar de vez esse quebra-cabeça e amarrar todas as pontas soltas que foram surgindo ao longo da CPI, e se reencontram no Ministério da Economia. É uma lição importante que essa CPI deve deixar a nação, tornando bem claro que esse tipo de condução e prioridades na economia nacional é inaceitável e letal. Que seja feita a justiça!

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