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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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Bolsonaro sofre por ser esnobado pelos generais

"Essa é a dor de Bolsonaro. Ser atacado por alguém do porte de um Geisel. Por deficiências que hoje são evidentes, ele nunca conseguiria fazer carreira. Nunca participaria dos altos estudos geopolíticos que formam generais", escreve Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia

Preocupação com sua má relação com o Congresso motivou Bolsonaro a se cercar de ministros militares. (Foto: Marcos Correa/PR)
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Bolsonaro nunca teve o reconhecimento declarado do alto oficialato. É o contrário. O ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas disse em sempre lembrada entrevista à Folha que ele não era um militar. Foi um político que conseguiu comover as pessoas com a ideia de havia sido militar.

Para Villas Bôas, Bolsonaro apenas passou pelo Exército. E sabe-se que passou da forma mais desastrada possível. Era um tenente que desafiava as hierarquias e que chegou a planejar atentados a bomba em quartéis. Augusto Heleno referiu-se a ele, ainda na campanha (está no livro de Thaís Oyama, “Tormenta”), como “um cara despreparado”.

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Bolsonaro errava o nome do vice, Hamilton Mourão, mesmo depois de eleito. E não conseguia, ao tentar se exibir como militar, fazer uma série de apoios no chão, um exercício básico de pátio de colégio.

Bolsonaro não é um militar no poder. Apresenta-se como militar, criou a imagem de tenente linha dura, mas foi apenas um paraquedista e um grandão que representava o Exército em torneios de atletismo.

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O que Bolsonaro conseguiu, ao atrair Mourão e militarizar o governo, foi cercar-se de generais, coronéis e majores que o protegem. Bolsonaro emprega mais de 4 mil militares. É o patrão deles.

O seu aparente desprezo pelos generais que manda embora do governo (já foram sete) pode revelar um ressentimento ainda não bem percebido.

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Bolsonaro atrai os militares, desfruta da proteção deles, blefa com os generais, como blefou muito em maio e junho de que poderia fechar o Supremo, e depois os humilha, como fez agora com Eduardo Pazuello no caso da vacina chinesa.

Pode ser uma vingança. Não há, por parte de nenhum general, uma referência elogiosa ou respeitosa, uma só, a Bolsonaro como líder e comandante das Forças Armadas. Nem de Mourão, nem de Braga Netto, nem de Augusto Heleno. Há citações protocolares, quase constrangidas.

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Bolsonaro talvez seja hoje, por sua vocação autoritária, uma cabeça bélica no sentido de que tem obsessão por questões policiais e armamentistas muito mais do que por assuntos ditos militares.

Quando Geisel disse, em depoimento de 1993, que Bolsonaro havia sido um “mau militar”, o contexto da crítica era muito claro. O general estava atacando os que usavam a imagem das Forças Armadas para vender o apelo de que “temos que voltar à ditadura militar”. Bolsonaro já era o melhor exemplo.

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Essa é a dor de Bolsonaro. Ser atacado por alguém do porte de um Geisel. Por deficiências que hoje são evidentes, ele nunca conseguiria fazer carreira. Nunca participaria dos altos estudos geopolíticos que formam generais. Nunca dormiria pensando em guerras imaginárias.

A guerra de Bolsonaro é consigo mesmo, com a lembrança eterna de que, conforme o pensamento médio dos generais, nunca foi um militar, mas alguém que teve uma passagem medíocre pelo Exército.

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Milhões de brasileiros que tiveram experiências semelhantes não se declaram militares, porque apenas em algum momento vestiram uma farda.

Bolsonaro vive esse drama que o consome e talvez explique o impulso que o leva a mandar generais embora. Desfazer-se de generais pode ser uma tentativa de exibição de poder. Assim procura dizer que os generais são seu escudo, mas ele é quem manda. Ele é o chefe dos generais.

Mas o que Bolsonaro vive mesmo como tormento é a certeza de que nunca será um deles.

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