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Miguel Paiva

Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia

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Botando o pau na mesa

"Como somos um país parte atrasado e parte desenvolvido criamos novos heróis que surgem da democracia existente, mesmo que capenga. Ministros do STF, deputados, senadores, personalidades acabam por redirecionar o trem que estava por descarrilhar", escreve o cartunista Miguel Paiva

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O brasileiro médio, heterossexual normativo, binário, branco ou quase, machista e com pouca ou muita cultura que acha que a luta pela vida é ter mais que o próximo também acha que o tamanho do pau mede a sua capacidade de bater na mesa. Não se coloca em questão e não se acha frágil em situação alguma. O inferno são os outros diria ele se tivesse lido Sartre. Mas esse brasileiro não lê. Se ele nasceu em um berço , não digo de ouro, mas de decapê, vai repassar esse ensinamento pro seu próximo antes de desejar matá-lo. Mulheres quando seguem esse machismo no seu comportamento agem assim também, com um pau imaginário.

Essa é a turma que está no governo e quem o sustenta. A desfaçatez, a falta de vergonha, a prepotência, a violência como linguagem e a segregação como mandamento não me causam surpresa alguma. Ficar sabendo das decisões do Bolsonaro só confirma essa minha visão pessimista do nosso futuro numa ótica mais antropológica. No programa semanal da TV 247, Cavaleiros da Távola Quadrada temos discutido isso bastante. Gustavo Conde é um estudioso. Presta atenção no que dizemos e no mundo. Renato Aroeira é mais otimista. Ele acha que a boa índole está por debaixo da camada de fascismo estrutural que habita nessa parcela da população. Eu já acho que se vier um governo popular de fato as pessoas vão curtir, acompanhar e apoiar. Mas esse espírito fascista é do ser humano não instruído, ou mal conduzido, onde o preconceito é estimulado numa nociva disputa com o próximo para se dar melhor. Como dizia meu analista, trancamos nossos fantasmas numa sala quando avançamos na análise mas basta alguém ou alguma coisa abrir uma fresta que eles saem. Com o fascismo é a mesma coisa. É aqui e no mundo. 

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O brasileiro gosta de transgredir. É algo a que ele se dedica com afinco. Como você não está habituado a respeitar uma lei que também não te respeita vira um salve-se quem puder. O cidadão desde pequeno está abandonado, na maioria dos casos, à própria sorte por isso dedica sua energia e capacidade de criar para descobrir um jeito de burlar a lei. Ao invés de usar máscaras, por exemplo, o que pressupões um mínimo de humildade ao se ver passível de contaminar o outro, prefere apelar a deus. Deus vai me salvar, diz ele. Acho difícil.

Nos países mais desenvolvidos os maus hábitos se diluíram na própria conquista social e na educação que trouxeram melhores condições de vida. Esse desespero vai dando lugar a uma consciência do coletivo e você fica um pouco mais civilizado. Mas assim mesmo, os países europeus submetidos ao fenômeno da imigração estão recebendo em suas casas os povos que foram por eles explorados durante séculos. Está sendo complicado, apesar das leis civilizatórias, fazer com que o cidadão se comporte  também  civilizadamente. Voltam os preconceitos, a xenofobia e a violência contra os imigrantes. Vemos coisas assim em todos os países europeus. 

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O ser humano não é um projeto. É uma contingência que tenta se preservar se reproduzindo, tenta não morrer comendo mais do que devia e tenta se sentir seguro matando o vizinho. Os problemas também vem daí. Ter que dividir a cama e a mesa com quem vem de longe. Os instintos fascistas vivem sob esse tapete da falsa normalidade.

O ser humano está demonstrando o quanto a educação é fundamental, justamente, pela falta dela. Por isso os regimes totalitários são contra e detestam, por exemplo, Paulo Freire. Ele pregava o conhecimento para transformar a realidade. Os regimes totalitários querem a ignorância para poder manipular a vontade do povo de acordo com seus interesses e baseado em crenças e mitos que a ignorância alimenta. 

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Como somos um país parte atrasado e parte desenvolvido criamos novos heróis que surgem da democracia existente, mesmo que capenga. Ministros do STF, deputados, senadores, personalidades acabam por redirecionar o trem que estava por descarrilhar. Damos vivas a juízes que impedem o presidente de cometer  mais um atentado à democracia e à constituição e assim vamos vivendo sem saber qual será a próxima e até quando vamos resistir sem transgredir.

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