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João Carlos Gonçalves

João Carlos Gonçalves, o Juruna, é metalúrgico e secretário geral da Força Sindical

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Brumadinho e o atentado contra a segurança no trabalho

O caso da Vale não pode ser tratado como um fato isolado. Ele é resultado de uma visão de mundo acerca da coisa pública. É resultado de conchavos políticos, como já ficou demonstrado. Ele passa pela eleição dos nossos representantes no Congresso e no executivo. Passa pelo enfraquecimento dos sindicatos e dos órgãos ambientais de fiscalização

Brumadinho e o atentado contra a segurança no trabalho
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O trágico desastre de Brumadinho, o maior acidente de trabalho do país, atinge a todos nós. São trabalhadores que produzem, acordam cedo e trabalhavam em locais insalubres como muitos de nós. É gente nossa!

Mais do que isso, milhões de trabalhadores, em empresas espalhadas pelo mundo, utilizam o que eles produziam: o minério de ferro extraído da terra, transformado em aço, que serviria para fazer o carro ali no ABC, lá em Betim, em Gravataí, nas fábricas da China, dos EUA, e em muitos outros países.

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Aquele terrível acidente em 25 de janeiro de 2019, ocorreu justamente por causa da disputa que essa mercadoria – o minério de ferro – trava no mercado internacional. Na busca pelo preço mais competitivo, a Vale enxugou o custo da produção. Já foi dito que esse tipo de barragem é o meio mais barato e um dos menos seguros de lidar com os rejeitos. Assim, não é preciso muito esforço para concluir que a empresa, para baratear seu produto, cortou investimentos na segurança.

Empresas mais comprometidas com seus trabalhadores já abandonaram essa maneira de construir barragens. A própria Organização Internacional do Trabalho recomenda o abandono dessa prática obsoleta. Só após essa tragédia, que deixou um vergonhoso saldo de centenas de pessoas mortas, além de animais e do prejuízo ambiental, só após a triste lembrança de Samarco, em Mariana-MG (2015), a Vale diz que vai abandonar suas barragens obsoletas. Só agora?

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Não é justo que o país e os trabalhadores tenham que sofrer – e morrer – para empresas como a Vale acordarem para a importância dos investimentos em segurança e da organização interna entre seus trabalhadores. Sim, os sindicatos também devem ser chamados para orientar as pessoas na prevenção de acidentes nos locais de trabalho. Precisamos de espaço para esse tipo de ação! Precisamos fortalecer as entidades sindicais e incentivar a formação de sindicalistas para fiscalizar, orientar e prevenir desde acidentes de individuais até tragédias como esta, que se tornou uma comoção nacional.

Se o movimento sindical tivesse condições de atuação nos locais de trabalho através das CIPAs (Comissões Internas de Prevenção de Acidentes) e dos Comitês Sindicais, poderia ter ajudado a preveni-lo. Em países capitalistas desenvolvidos, como os EUA, a Alemanha, a França e a Inglaterra esses comitês existem em uma proporção bem maior. Mas, quantas empresas brasileiras levam sério o diálogo com seus trabalhadores? Quantas CIPAs foram eleitas democraticamente?

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Esta prática não é disseminada aqui e após a reforma trabalhista tende a piorar. O resultado da negligencia está expresso em dados, como os levantados pela Previdência Social e pelo Ministério do Trabalho, que revelam que o Brasil é a quarta nação do mundo em acidentes durante atividades laborais, atrás apenas da China, Índia e Indonésia.

De acordo com esses dados, entre 2012 e 2016, foram registrados 3,5 milhões de casos de acidentes de trabalho no Brasil. Esses casos resultaram em um índice escandaloso: a morte de 13.363 pessoas. Só em 2017, de acordo com o Anuário Estatístico de Acidente do Trabalho, 2.096 trabalhadores morreram em serviço. E se contabilizar o índice de lesões esse número sobe enormemente. Nos últimos cinco anos, 450 mil pessoas sofreram fraturas enquanto trabalhavam.

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O caso da Vale não pode ser tratado como um fato isolado. Ele é resultado de uma visão de mundo acerca da coisa pública. É resultado de conchavos políticos, como já ficou demonstrado. Ele passa pela eleição dos nossos representantes no Congresso e no executivo. Passa pelo enfraquecimento dos sindicatos e dos órgãos ambientais de fiscalização. E está também na alçada da Previdência Social, que deve contemplar aqueles que foram mutilados, atingidos por doenças do trabalho e as famílias daqueles que morreram no exercício de sua função.

Em Brumadinho já perdemos cerca de três centenas de companheiros e companheiras. Brumadinho é aqui, ali, com maior ou menor grau. Temos certeza de que com a ação sindical e dos democratas haveremos de melhorar e tornar mais dignos e seguros os locais de trabalho em nosso país.

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Que a lição desta tristeza seja assimilada de uma vez por todas.

*O artigo contou com a participação de Wagner Gomes, secretário-geral da Central de Trabalhadores e Trabalhadores do Brasil (CTB) e diretor do Sindicato dos Metroviários de São Paulo

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