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Carlos Alberto Mattos

Crítico, curador e pesquisador de cinema. Publica também no blog carmattos

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Cinema: A escolha de Leila, o silêncio de Amir

A opressão às mulheres é tema obsessivo do cinema moderno iraniano. "Filho-mãe" é mais um exemplar brilhante, além de ter sido dirigido por uma mulher

"Filho-Mãe" (Foto: Divulgação)
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A opressão às mulheres é tema obsessivo do cinema iraniano nessa fase prodigiosa que começou nos anos 1980. Filho-Mãe (Pesar-Madar) é mais um exemplar brilhante, com o dado especial de ter sido dirigido por uma mulher. É o primeiro filme de ficção assinado pela documentarista Mahnaz Mohammadi, conhecida por seu ativismo em prol dos direitos humanos e por já ter sido presa duas vezes no Irã, uma delas durante dois anos. Hoje ela vive sob vigilância do governo e não pode sair do país. Convidada por um festival indiano em dezembro último, ela enviou uma mecha de seu cabelo para representá-la.

Nas mesmas circunstâncias vivem Jafar Panahi e Mohammad Rasoulof. Este último, autor do admirável Não Há Mal Algum, é uma espécie de mentor de Mahnaz e autor do roteiro de Filho-Mãe, assim como seu produtor.

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O roteiro se divide em duas partes bem segmentadas. Na primeira, testemunhamos o cerco social à viúva Leila (Raha Khodayari). Ameaçada de demissão na fábrica onde trabalha, ela é cortejada pelo motorista do ônibus que transporta os operários. Uma mulher sozinha com dois filhos tem sobrevivência difícil no Irã patriarcal. Leila tende a se sensibilizar com o desvelo de Kazem  (Reza Behboodi), mas para viver com ele precisa se separar do filho, uma vez que a convivência do menino com a filha adolescente de Kazem não seria bem vista pela sociedade. 

A segunda parte do filme se concentra no pequeno Amir (Mahan Nasiri), forçado a simular uma deficiência auditiva para ser aceito num internato para meninos surdos. Embora arriscada, a farsa não é de todo despropositada, já que Amir vivia em casa em quase completa afasia. Mais cedo ou mais tarde, o garoto vai descobrir a dimensão do seu abandono, expresso inclusive pelo não aparecimento da mãe nesse segmento do filme. 

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O drama individual se abre numa perspectiva mais ampla, sugerindo a desagregação familiar provocada pelo fundamentalismo dos costumes e a submissão das pessoas às convenções retrógradas que teimam em persistir no Irã moderno. Os bons sentimentos estão sempre à mercê de imposições sociais que os sabotam. 

Essa história, de uma tristeza lancinante, é narrada com extrema elegância e um fino senso de observação da linguagem corporal. A fotografia de Ashkan Ashkani cria composições belíssimas e explora com grande dramaticidade os deslocamentos dos personagens por uma Teerã frenética e muito pouco acolhedora. 

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As qualidades do cinema de Kiarostami, Makhmalbaf, Majidi, Panahi, Farhadi e Rasoulof parecem desaguar no filme de Mahnaz Mohammadi, que no entanto demonstra ter uma personalidade toda própria. O vínculo de raiz desse novo cinema iraniano com o neorrealismo italiano é sublinhado por uma óbvia citação ao clássico Ladrões de Bicicleta.

>> Filho-Mãe está na plataforma Telecine/Globoplay.

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O trailer:

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