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Carlos Alberto Mattos

Crítico, curador e pesquisador de cinema. Publica também no blog carmattos

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Irã: pena de vida, pena de morte

Frieza, honra, culpa e sacrifício. Cada um desses elementos carimba uma das quatro histórias contadas magistralmente pelo iraniano Mohammad Rasoulof em Não Há Mal Algum

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Frieza, honra, culpa e sacrifício. Cada um desses elementos carimba uma das quatro histórias contadas magistralmente por Mohammad Rasoulof em Não Há Mal Algum (Sheytan vojud nadarad), vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2020. Rasoulof (Manuscritos Não Queimam) é mais um diretor iraniano proibido pelo governo de filmar, mas que – estranha e felizmente – continua a dirigir filmes cada vez melhores dentro do seu próprio país.

Os quatro contos que se sucedem na tela – com uma surpreendente relação entre dois deles, ilustrada pela canção Bella Ciao – falam de pena de morte, que no Irã é administrada pelo estado com carrascos profissionais ou recrutados entre jovens soldados. A denúncia mais aguda do filme é sobre os benefícios oferecidos a quem se dispuser a "puxar o banco" para o enforcamento dos condenados. Afora o fato de que o serviço militar por dois anos é compulsório para os rapazes que quiserem assegurar a emissão de documentos e o desfrute de uma vida normal.

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No primeiro episódio, assistimos a um dia na vida de um pai de família comum, levando mulher e filha ao supermercado, à lanchonete e à casa da mãe. Só na derradeira tomada é que vamos compreender a expressão sempre impávida do homem e os momentos de ausência em que ele parece fixar o nada. Ouso dizer que, no contexto do episódio, é um dos planos conclusivos mais arrepiantes da história do cinema. 

O segundo conto mostra a crise de consciência de um soldado nas horas que antecedem sua obrigação de executar um prisioneiro. Na relação com os companheiros de dormitório surgem circunstâncias macabras de um sistema que força pessoas a matar como forma de garantir um futuro razoável. O desfecho é absolutamente inesperado e temporariamente celebratório. A visita de outro soldado à casa de sua namorada no campo ocupa a terceira história, quando o rapaz vai se confrontar com uma dívida moral inesperada que pode mudar o rumo de sua vida. Por fim, no último episódio, um homem recluso recebe a sobrinha vinda da Alemanha em sua casa nas montanhas para uma revelação ligada ao seu passado. 

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O método narrativo de Rasoulof, também autor do roteiro, é semear perguntas no espectador e criar um suspense que só se desata nas cenas finais. Por mais reticências que haja nessa estrutura, os sinais estão lá para alimentar nossa expectativa. Atores brilhantes e uma fotografia panorâmica majestosa, tanto em Teerã quanto nas sinuosas estradas iranianas, contribuem para fazer de Não Há Mal Algum um filme esmerado, intenso e corajoso na sua conjuntura. 

>> Não Há Mal Algum está nas plataformas Now, Sky, Vivo Play e AppleTV.

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Confira o trailer, com legendas em inglês:

Mostra de Cinema Sul-coreano

A plataforma Belas Artes à la Carte está com uma mostra de clássicos do cinema sul-coreano, em parceria com o Centro Cultural Coreano no Brasil. São sete longas-metragens, cobrindo o período de 1961 a 2016. 

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No começo de tudo, uma efeméride: os 60 anos do clássico Bala sem Rumo, de Yoo Hyun-mok. Considerado por algum tempo como o melhor filme já feito na Coreia do Sul (façanha provavelmente superada há pouco por Parasita), é um drama soturno e pesado sobre uma família favelada tentando se integrar à sociedade de Seul pouco depois de terminada a Guerra da Coreia (1950-1953).

Um veterano de guerra carrega estilhaços de bala no corpo e o peso do desemprego. Seu irmão, um contador empobrecido e atormentado por uma dor de dente, perdeu todo o elã vital. A irmã se lança à prostituição, a mãe agoniza. Não faltam dissabores para todos os personagens num roteiro cheio de clímaxes dramáticos. A fotografia em preto e branco explora magistralmente a profundidade de campo, dando um passo além da estética neorrealista na qual o diretor se inspirava. 

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A mostra se completa com O Caminho para Sampo (1975), de Lee Man-hee, Amora (1985), de Lee Doo-yong, Atrizes (2009), de Lee Jae-yong, Paju (2009), de Park Chan-ok, A Empregada (2010), de Im Sang-soo, e Canola (2016), de Yoon Hong-seung.

Para quem não for assinante do Belas Artes, há a opção de acessar o perfil do Centro Cultural Coreano (@kccbrazil), no Instagram, e pegar o código do voucher exclusivo nas postagens oficiais do festival, que posteriormente deverá ser colocado no aplicativo À La Carte para ver os filmes gratuitamente.

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