Diplomacia brasileira não pode ser motivo para repressão aos cidadãos

Fui surpreendido por uma manchete no UOL de hoje, 19/10, que diz: “Governo não aceita achincalhamento sobre guerra, diz ministro de Lula após demissão na EBC”. Não entendi: ou o achincalhe foi da Folha, ou este ministro não pode estar num governo democrático, muito menos pertencer ao Partido dos Trabalhadores. Mas infelizmente o texto da matéria é coerente com a esdrúxula manchete. Vejamos as duas faces da moeda.

A diplomacia do governo brasileiro fez todos os esforços possíveis – e continua fazendo – de forma inteiramente compreensível, primeiro, para salvar os brasileiros que se encontram no campo na guerra no Oriente Médio; depois para ao menos, minorar o sofrimento dos palestinos face ao genocídio sionista. Esta é a realidade. Para isso fez todas as concessões no Conselho de Segurança da ONU para ver sua proposta humanitária não vetada, já que os 5 “grandes” têm poder de veto nas resoluções do Conselho. Bastariam 9 dos 10 votos dos demais membros para aprová-la. Mas o Brasil obteve um grande êxito diplomático, sua proposta foi aprovada pelos 10 “outros” membros do Conselho, inclusive por países, como o Japão, tradicionalmente subordinados aos EEUU; e foi além: mais dois votos dos membros permanentes: China e França! Assim 12 votos selariam a vitória do humanismo sobre o genocídio, dois outros dos permanentes – Rússia e Inglaterra – se abstiveram. Restou apenas o império decadente do Norte que usou seu direito ao veto, como sempre faz em tudo que diga respeito aos direitos dos povos. Com isso tentou achincalhar a diplomacia brasileira, mas quem saiu chamuscado foi o governo ianque.

Bem, para se contrapor ao Conselho, o império mandou ao Oriente Médio seu chefe maior, Biden, que foi dizendo que ia encontrar o caminho da paz, do entendimento, entre israelenses e árabes. Mas o genocida Netanyahu brecou suas pretensões, ao cometer um dos mais graves crimes de guerra, bombardeando um hospital palestino onde causou 500 vítimas fatais. Armaram para Biden: a gente prega uma mentira, ele, como idiota, aceita! E assim os árabes não iriam mais conversar com Biden.

Aceitando a mentira israelense de que o bombardeio foi feito “pelo outro lado” e sem falar com os árabes, Biden portou-se com o rabo entre as pernas, como um servo dos sionistas, mas arrotou grosso: mais um conjunto de navios com porta-avião nuclear, dois mil soldados, e ajuda militar e financeira sem limites. Afinal, quero mais sangue palestino! Só faltou expressar isso. 

Então eu pergunto: neste episódio, quem foi idiota, a diplomacia brasileira ao defender o humanismo ou o senhor Biden? Este somente fez acender o ódio dos povos árabes; acentuar a revolta dos rabinos israelenses que dizem que Biden se tornou cumplice do genocídio sionista; a imprensa do mundo dito “livre e ocidental” como a francesa, que da centro-esquerda à extrema direita foi unânime: a visita de Biden a Israel foi um completo fracasso!

E então, a charge de Latuff é ou não verdadeira? Quem apoia Israel além dos sionistas, não é idiota? É possível o exercício da charge sem ironia, sem achincalhe? A charge não é uma sibilina forma de oposição que os ditadores sempre detestaram e reprimiram? Chega de censura. Censura não cabe num governo democrático. Hélio Doyle cumpriu um dever de cidadão ao repostar a charge de Latuff.

E mais respeito também ao Partido dos Trabalhadores. Pelo menos o partido que eu ajudei a fundar há 43 anos sempre foi solidário aos povos oprimidos e resistente aos impérios coloniais. Não mudem nossa história! Ainda esta semana foi o embaixador sionista que se manifestou de forma desrespeitosa contra nosso partido.