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Giselle Mathias

Advogada em Brasília, integra a ABJD/DF e a RENAP – Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares e #partidA/DF

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Do Czarismo ao ano de 2021

Gosto de falar das relações amorosas entre homens e mulheres porque visualizamos melhor como, de alguma forma, ainda estamos, apesar de todos os avanços, no século XIX

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Por Giselle Mathias

Em minhas leituras, me deparei com um livro chamado Oblomóv, de Ivan Goncharóv, escrito na primeira metade do século XIX, um clássico romance com nobres, trapaceiros, mujiques, negociantes e donzelas.

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Recomendo a leitura, mas darei aqui minha impressão sob a perspectiva feminina.

O romance ambientado na Rússia Czarista mostra um homem nobre desencantado com o mundo e, por isso deixa a vida passar por ele de forma tediosa e inocente, conhece uma mulher chamada Olga, que diferente de todas as outras que são fúteis e só tratam de questões comezinhas, é uma mulher curiosa, inteligente, se interessa por política, artes, poesia etc., o que a época e, também hoje, considera-se uma mulher com interesses do que é dito como da esfera do masculino.

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Sim! Temos exceções, mas falo aqui do geral e não de casos específicos. Falo sobre os padrões do patriarcado que mesmo amenizados em alguns aspectos, ainda imperam na nossa sociedade.

Oblomóv apaixonado por Olga passa a ter interesse pela vida e acreditar que poderia ser diferente, mas com o passar do tempo percebe que não seria jamais para Olga o que ela necessitava como homem, assim com muita nobreza renuncia ao seu amor para que ela possa encontrar alguém que pudesse atendê-la e amá-la e, ele passar pela vida sem que a tenha vivido, deitado em sua cama e servido por uma mulher.  

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Olga, uma mulher do século XIX, por já ter amado um homem fica resignada a nunca mais poder ter tal sentimento por outro, pois esse afeto só poderia ser destinado a um único ser masculino. Porém, ao encontrar outro pretende, amigo de Oblomóv, conta sua história e diz estar condenada a não se casar, ter filhos e amar outro alguém. Absolvida por ele, lhe é permitido novamente amar e, cumprir o destino determinado a toda mulher naquele período.

Mas como havia dito, ela não era igual as outras mulheres da sociedade em que vivia e, o homem que lhe concedera a existência social, através do casamento, alimenta a sua essência intelectual, desde que esta sempre estivesse sob a sua supervisão e fosse dada somente a ele. O que para o período era algo pouco comum.

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Avançamos?

Com certeza!

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Hoje ocupamos espaços, mas sempre com muitas lutas, esforços e silenciamentos, aquilo que muitos não percebem por que são os processos culturais tão introjetados e naturalizados, que não percebemos o quanto ainda reproduzimos o patriarcado.

Gosto de falar das relações amorosas entre homens e mulheres porque visualizamos melhor como, de alguma forma, ainda estamos, apesar de todos os avanços, no século XIX. Olhar para essas relações me possibilita ver o que ainda se reproduz do patriarcado no trabalho, nas amizades e em todas as outras relações que permeiam a vida humana.

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Ainda hoje o tempo do homem, a sua intelectualidade, seu trabalho e o seu eu são a prioridade, a mulher está como algo complementar e, se assim não for ela estará só. Cabe a mulher ser compreensiva, cuidadosa, não trazer problemas e sim solucioná-los, apoiar sem ser apoiada, silenciar seus sentimentos, dores e inseguranças, afinal não pode “cobrar” nada, deve apenas trazer a tranquilidade para que o homem possa ser.

Sei que muitos irão discordar e dizer que existem mulheres que são assim, ou que como homens apoiam e entendem o ser feminino, que priorizam suas parceiras.

Porém, peço uma reflexão aos homens, pensem se realmente olham, consideram e apoiam as mulheres que estão ao seu lado, observem se reservam um tempo para ouvi-las, para sentirem e compreenderem suas necessidades, anseios e dores. Olhem, observem, ouçam, disponibilizem tempo e atenção a suas mães, irmãs, filhas, esposas, namoradas, amigas e todas que se encontram em suas vidas.

O que temos e o que somos são produzidos por meio das nossas relações humanas, nos vemos através dos olhos de quem nos rodeiam, o isolamento afetivo produzido pelo patriarcado e intensificado pelas redes sociais iludem a todos nós. Hoje nos relacionamos com maior distanciamento, nos isolamos em nossos pensamentos e achismos, não agimos com honestidade com o outro, nos contentamos com mensagens de whatsapp, visualizações no instragam como se isso fosse um relacionamento, gozamos sós usando apenas as imagens virtuais criando algo quase platônico.

O humano hoje, mais do que em qualquer tempo, se tornou o personagem Oblomóv, aquele que busca o menor desconforto e deixa a vida, simplesmente, passar dentro de uma pseudo tranquilidade, busca uma vida que é uma quase morte, sem sobressaltos, sem afetos, frustrações, sofrimentos e dissabores, mas essa vida também nos priva das paixões, amores, alegrias intensas e momentos de felicidade e gozo.

Talvez quando olharmos uns para os outros e nos reconhecermos sem a necessidade de apenas nos vermos diante de um espelho, estejamos preparados para vivermos em uma sociedade solidária, igualitária e livre e, as relações entre nós passem verdadeiramente a serem permeadas por afetos, contatos e toques reais.

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