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André Del Negri

Constitucionalista, professor da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS).

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Esboço para um possível retrato

É bom aproveitar a ocasião para lembrar que, o que temos aí, é uma onda. Foi ela que entrou como veneno na corrente sanguínea de milhões de brasileiros. O coquetel de destruição do golpe de 2016 nos arrastou para os confins da escuridão, cenário agravado com a Lava Jato, que entregou o Brasil a Bolsonaro

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Numa entrevista, o professor Roberto Romano foi direto ao ponto: “... Bolsonaro não caiu do céu como raio em dia límpido. Ele é produto de uma ampla e profunda cultura capitalista coberta pelo manto do moralismo. Os procedimentos ditatoriais e policialescos por ele empregados têm uma longa história...” (aqui). 

A mencionada entrevista é uma boa contribuição ao debate atual. Nela, Roberto Romano retoma um conceito filosófico utilizado por Karl Marx, a “dissolução” (Auflösung). Na conversa, Romano esclarece que “dissolução” é uma “corrosão virulenta”, e mostra o quanto tudo se encaixa na atualidade brasileira. 

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Não é de surpreender que somos uma sociedade marcada por estruturas autoritárias. A turma do golpe de 64, formada por militares, políticos e civis, pessoas que prezavam a grosseria e a estupidez, tacaram o horror e enfiaram 20 anos de ditadura em nossa história. 

Na passagem de um momento histórico para outro, não tivemos uma “justiça de transição”, mas sim uma “transição amnésica” (expressão de Enzo Traverso). O preço por essa “displicência história”, como diz a psicanalista Maria Rita Kehl, é aquela que conhecemos: o país escolheu um apologista da tortura para comandar o Palácio do Planalto. São conhecidas as entrevistas em que o presidente faz galhofa das agressões a prisioneiros políticos.

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É bom aproveitar a ocasião para lembrar que, o que temos aí, é uma onda. Foi ela que entrou como veneno na corrente sanguínea de milhões de brasileiros. O coquetel de destruição do golpe de 2016 nos arrastou para os confins da escuridão, cenário agravado com a Lava Jato, que entregou o Brasil a Bolsonaro. A rigor, foi incontrolável o ímpeto lavajatista para tirar Lula da disputa de 2018, julgamento farsesco de Moro (e seus comparsas), juiz que em seguida virou ministro da extrema direita bolsonarista. Haja estômago!

Quando nada pior parecia possível, em 2020, outro solavanco: numa macabra reunião ministerial, o tal do “eu quero todo mundo armado”, como disse o presidente, revelou o que resta da ditadura. Na mesma reunião, o ministro Salles, do Meio Ambiente, pregou o “estouro da boiada”, o que lembrou muito o “correntão” nas nossas florestas. 

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Alguns podem até não perceber, mas nesse governo todos morremos um pouco juntos. O povo brasileiro não tem inimigo mais perigoso do que o bolsonarismo. E atenção para isto: a necropolítica de Bolsonaro contém um ingrediente fatal, que é a instrumentalização da ignorância. 

E olhem, se me permitem a digressão, que nessa estratégia, até chips chineses são colocados nos imunizantes contra o coronavírus, embuste que amamenta as pessoas antivacina, que são, por sua vez, influenciadas por blogueiros extremistas. Notem, conjuntamente, os atos calculados da Secom, órgão do governo, que faz propaganda às claras das condutas flagiciosas do mandatário.

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Cuidado! No fim de tudo, somos todos receptores dessa whatsappização da estupidez, uma rede de arrasto que garante – ao menos até agora – algo em torno de ¼ de eleitorado, uma bolha de autoalienação que acolhe as insolências encarnadas por Bolsonaro, o bastante para oportunizar um lugar no 2° turno em 2022.

A conclusão parece óbvia: a parcela da população que dorme profundamente precisa acordar o quanto antes, inclusive para a consciência de classe. É urgente uma leitura crítica que traga questionamentos sobre a periculosidade do atual governo. 

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Isso tudo nos faz recordar daquele Brasil de sonho e encantamento, país em construção, que, por enquanto, não existe mais. Peço licença a Drummond, com o mais ontológico e atualíssimo poema “Confidência do Itabirano”, para parodiar-lhe os versos finais e dizer que aquele Brasil é apenas uma fotografia na parede. E como dói!

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