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Fábio Buonavita

Graduado em Administração Pública com especialização em Gestão Ambiental. É proprietário da marca Berlinwal de camisetas e estamparia e, junto com Camila Patah, é idealizador e coordenador da Feira Esquerda Livre

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Feira Esquerda Livre: espaço de solidariedade e criatividade

Nós, da economia popular, de esquerda, solidária e criativa somos sim uma nova categoria de trabalhadores, e viemos para ficar e tomar nosso espaço

Do campo para a cidade, da produção na roça ao prato das famílias brasileiras: pratos típicos e gastronomia com gosto de luta; assim é o espaço Culinária da Terra, que funcionará durante 3ª Feira Nacional da Reforma Agrária, em São Paulo; organizado por assentados e acampados do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), o espaço contará com a participação de 20 estados (Foto: Voney Malta)
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“Intuo que o nosso século convulso, para além da revolução tecnológica, talvez traga algo mais importante: a sinalização do começo de um novo nível da evolução biológica humana, no final da qual o matemático caminhará unido com o poeta.”

Nicholas Tabakis

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A concepção mecanicista e materialista do mundo, enraizada na sociedade moderna ocidental e laica e ainda na mentalidade científica até há muito pouco tempo, converteu a estética e a arte dos últimos tempos num formalismo automatizado desprovido de alma e vida, de imaginação intuitiva, sem conflito vital, sem deixar margem para o inesperado, o desconhecido e o surpreendente.

A erupção do racionalismo cartesiano na civilização ocidental, o triunfo do mecanismo e a ordem newtonianos conduziram a uma profunda mudança na mentalidade moderna, cuja consequência nas Ciências Humanas e na própria vida significa uma limitação em estreitos moldes estéticos, submetidos a formulações mecanicistas e tecnológicas.

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Hoje essa mentalidade estética está prestes a mudar. A causa talvez seja muito clara: os esquemas simples geométricos são desumanizados, inclusivamente são antinaturais, pois a Natureza é em grande medida caótica. Os sistemas simples não respondem ao modo com que a percepção humana concebe o cosmos nem tão pouco à maneira com que a Natureza geralmente se organiza. E ela se organiza com naturalidade a partir do caos.

No entanto, o caos pode ser descrito, determinado e formalizado com a ajuda de uma nova geometria, a chamada fractal, que fez a sua aparição nesta última década. Esta nova geometria, que permite dar sentido ao caos, encontrar causas no casual e determinar o indeterminável, pode ser considerada uma verdadeira geometria da Natureza, que contém as leis e princípio de uma nova estética natural.

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A própria concepção de caos, a partir do senso comum, não faz justiça àquilo que representa o caos no dia a dia das pessoas, nas relações sociais e políticas, e na própria estética dessas relações e suas decorrências.

Mas vou me ater ao assunto feiras de empreendedores, no nosso caso, de esquerda, solidários por princípio, que buscam se descolar da concepção liberal de empreendedorismo, que exalta o sucesso individual, o mito neoliberal do “vencedor”, do primeiro milhão, do sonho pequeno burguês de desejar ser “patrão de si mesmo”. Desde muito cedo tem ficado bem claro que buscamos reunir trabalhadoras e trabalhadores de setores amplos da produção artesanal, desde a mais simples a mais elaborada, que abarca serviços diversos, e mesmo a comercialização de produtos do “mercado” que recebem uma releitura, uma recuperação, um retrabalho que os tira do eixo da economia de escala e os coloca numa concepção autoral. 

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Essa concepção é necessariamente permeada por um pensamento de comércio justo e solidário.

As nossas feiras, desde o início, buscam trazer todos esses conceitos que abraçamos para a sua própria organização e montagem.

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Não ter espaços ou estandes individualizados como baia de curral, “lojinha”, e não ter uma separação física entre visitantes e expositoras e expositores são atitudes pensadas.

Não tem nada de novo nisso. Ao contrário, é uma concepção antiga, testada, e presente até os dias de hoje, como pode ser visto nos diversos mercados em todo o Brasil, principalmente no Nordeste, e em vários países, não por acaso nas periferias, porque o Centro, cada vez mais, quer o shopping center limpinho e cheiroso, com espaços cartesianamente bem definidos, delimitando todos os espaços, despessoalizando todas as relações.

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Essa concepção, é lógico, já nos trouxe ruídos, não problemas, alguns afastamentos, não de nossa parte, e um número até pequeno de insatisfações. Mas nos trouxe também muitos momentos importantes a partir principalmente dos arranjos, (no caos!) baseados na solidariedade, na tolerância, na criação de laços afetivos e parcerias, não impostos, mas criados justamente a partir do... caos, solucionado pela solidariedade e por um sentido amplo de justiça e igualdade, sem que ninguém seja “mais igual que o outro”.

Esteticamente, reflete na apresentação dos produtos, no esforço e criatividade de exposição, baseados na primeira regra do nosso coletivo, óbvia, mas nem tanto: NUNCA ESCONDER O MEU VIZINHO. A regra do “mercado” e da concepção capitalista é justamente o oposto: NÃO ME ESCONDA, não invada meu espaço, não ameace minhas vendas.

O resultado disso é o colorido multicultural e diverso, refletido também a partir dos produtos, diversos e multiculturais que a feira tem, porque é espaço de convergência de pessoas com o espírito multicultural e diverso, o mesmo sentimento, de dar certo sem ter que “pisar na cabeça de ninguém”, como se costuma dizer, e de poder viver dignamente com o fruto de seu trabalho.

É interessante notar que essa concepção de organização um pouco mais libertária trouxe algumas gratas surpresas, como por exemplo, associações e parcerias DE MESMOS PRODUTOS, compartilhando o mesmo espaço. Não concorrem, CONVERGEM!!!

Nós, da economia popular, de esquerda, solidária e criativa somos sim uma nova categoria de trabalhadoras e trabalhadores, e viemos para ficar e tomar nosso espaço.

Somos artistas, matemáticos, poetas, donas de casa, mães solo, famílias inteiras, entendemos de política e economia, de sociologia, temos parte importante na recuperação do planeta porque respeitamos o meio ambiente na prática, e por necessidade, entendemos de tudo, ou quase tudo! E não desejamos mal a quase ninguém!

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