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Marcelo Zero

É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado

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Grandeza: o que Lula devolveu ao Brasil

É alentador ver, de novo, Lula percorrendo o mundo agigantando o Brasil

Joe Biden (à esq.) e Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert)
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 Parafraseando Charles De Gaulle, o Brasil não pode ser Brasil sem grandeza.

O Brasil não pode ser pequeno. Tudo nele, tamanho geográfico, volume populacional, tamanho da economia, abundância de recursos estratégicos, maior biodiversidade do planeta, detentor da maior parte do bioma crucial para o equilíbrio climático (a Amazônia), cultura riquíssima e singular etc., o torna uma nação destinada à grandeza.

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Infelizmente, nos últimos anos, o país, governado por medíocres, foi apequenado. Governantes pequenos tornam um país pequeno. Tornamo-nos párias insignificantes.  

Por isso, é alentador ver, de novo, Lula percorrendo o mundo agigantando o Brasil.  

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Lula caminha de cabeça erguida tanto na ruela de uma favela quanto na Casa Branca. Com ele dirigindo do Brasil, podemos estar certos de que não veremos espetáculos degradantes de submissão canina, como os que Bolsonaro com frequência promovia, quando salivava profusamente frente ao seu líder, o criminoso e antidemocrata Trump.  

Pode-se dizer o que quiser da política externa de Lula, mas há de se reconhecer que ela é audaz, além de “ativa e altiva”. Lula pensa grande e não enquadra o Brasil na mediocridade de papeis pré-definidos por grandes potências.

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Além de ter voltado a defender os interesses brasileiros, Lula é o único líder mundial de relevo que está falando abertamente em paz. Mais especificamente, paz na Ucrânia. Lula quer criar um “grupo de países da paz” que se empenhe na solução para um conflito que causa prejuízos ao mundo inteiro e que ameaça o planeta com uma guerra nuclear.  

Alguns, aqui e lá fora, o criticam por não tomar partido da Ucrânia e se envolver na guerra, apoiando as draconianas sanções contra a Rússia ou enviando munição para a zona de batalha.   

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Seria um erro crasso.  

Em primeiro lugar, porque tal envolvimento seria incompatível com o papel de mediador que o Brasil se dispõe a desempenhar. Ademais, o Brasil já condenou formalmente a invasão.  

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Em segundo, porque a guerra na Ucrânia não terá solução militar. Tal solução militar esteve prestes a acontecer em maio de 2022, quando o rápido avanço russo levou os ucranianos a quase aceitar um acordo de paz. Foram desencorajados pelos EUA e aliados europeus, que passaram a incentivar fortemente a resistência ucraniana. De lá para cá, criou-se um equilíbrio militar que dificilmente será rompido decisivamente por um dos lados. Com isso, a guerra tende a se prolongar, a se alastrar geograficamente e a se aprofundar. Tornou-se uma espada de Dâmocles que pode decepar o pescoço do planeta.

Portanto, a única solução para essa guerra que ameaça a todos se dará pela via da negociação.  E, quanto mais cedo a negociação vier, melhor.   

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Em terceiro, porque a não participação no conflito é amplamente majoritária no mundo. Só participam desse inútil e perigoso esforço de guerra os EUA, aliados europeus, Japão, Austrália, Nova Zelândia, Coréia do Sul e outros poucos países. Tais países representam ao redor de 16% da população mundial. Os outros 84% não querem participar, ainda que indiretamente, do conflito. Assim, a imensa maioria das nações do globo deseja permanecer neutra, como o Brasil, e almeja a paz, como Lula.  

Lula está dando voz a essa maioria.

Mas a grandeza, que conduz à independência de pensamento e de atitudes, não pode ficar restrita à política externa. Ela também há de se refletir nas políticas internas.  

Tal como aconteceu na política externa, a mediocridade e a mesmice se espraiaram pelas políticas internas, ao longo dos governos retrógrados que se seguiram após o golpe de 2016. O Brasil tornou-se refém da pequenez de anacrônicas e fracassadas políticas neoliberais, muitas vezes justificadas por um neoudenismo tardio, cevado pela Lava Jato.  

Tome-se o exemplo do BNDES.

Desde sua fundação, em 1952, que esse banco esteve à frente do desenvolvimento nacional. O Brasil não seria o que é hoje sem o BNDES.  

Quando da sua fundação, o Brasil era país predominantemente agrário e rural, com uma infraestrutura muito precária. Pouco menos de trinta anos depois, o Brasil já era um país industrial e urbano, com uma infraestrutura razoável. Na época (início da década de 1980-antes da crise da dívida), a indústria brasileira era maior que a da Coreia do Sul e a da China, somadas.  

O “fetiche da industrialização”, como o define o jornal “O Globo” deu muito certo, enquanto durou.  

No entanto, nos governos pós 2016, houve uma forte ofensiva contra o BNDES. No esteio da Lava Jato, que destruiu toda a cadeia da construção civil pesada do Brasil, esse banco foi acusado de investir seus recursos no exterior, de não apoiar empresas brasileiras, de apoiar ditaduras, de quebrar o Tesouro e de toda sorte de acusações sem nenhum fundamento empírico.

Na realidade, esse banco nunca investiu um centavo no exterior. O dinheiro para as chamadas exportações de serviços era dado em reais para empresas brasileiras, que contratavam mão-de obra brasileira e compravam insumos brasileiros. E a maior parte dessas obras foi feita nos EUA; não em Cuba ou na Venezuela. Ademais, esses empréstimos tinham inadimplência de 0,01%.  

Poderíamos escrever vários artigos desmontando essa farsa sobre o BNDES, mas basta dizer que, nos últimos 25 anos, o BNDES financiou exportações de serviços de engenharia, no montante de US$ 10,5 bilhões. Porém, recebeu, no mesmo período, pagamentos de US$ 12,7 bilhões sobre tais empréstimos. Ou seja, o BNDES e o Brasil lucraram US$ 2,2 bilhões, com essas operações.  

Mas o importante destacar aqui é que, em virtude dessas mentiras e dessa tentativa de criminalização das atividades do BNDES, o banco apequenou-se e passou a, em vez de financiar o desenvolvimento do país, a financiar o Tesouro. Passou, na realidade, a tirar dinheiro da economia. Desde 2015, o BNDES devolveu mais de R$ 678 bilhões ao Tesouro sob a forma de pagamento de principal, juros, liquidação antecipada da dívida e dividendos.  

Agora, contudo, sob a direção de Aloizio Mercadante, o BNDES quer voltar a ter papel de relevo como financiador, principalmente financiador de longo prazo, do desenvolvimento nacional e da reindustrialização do Brasil, em parceria com o setor privado.  

Mercadante não quer mais um BNDES acanhado, que pratica uma taxa de juros, a TLP, muito alta (IPCA + 6%) e volátil, pois embute na sua fórmula a inflação aferida diariamente. Quer um BNDES moderno, verde, inclusivo digital e competitivo, que contribua para que o Brasil supere os desafios impostos pela imprescindível descarbonização da economia, o desarranjo das cadeias produtivas globais, a preservação dos biomas e a necessária geração de empregos de qualidade para todas e todos.

Mas tem gente que não gosta. Que acha que isso é prender-se a “fetiches do passado”. É a mesma gente que defende que o Brasil tenha as maiores taxas  de juros reais do planeta.

Bom, é essa gente que vive no passado. Num passado muito pequeno e atrasado.  

Sequer prestam atenção ao que acontece no mundo, que está passando por um célere rearranjo geoeconômico e por mudanças de paradigmas.  

Basta ver o que acontece nos EUA, por exemplo.  

Lá, Biden e o Partido Democrata estão investindo trilhões em infraestrutura, transição ecológica, energia limpa, serviços de saúde e reindustrialização. Sim, reindustrialização.  

Tomados por um invencível “fetiche da reindustrialização”, os EUA aprovaram, em agosto do ano passado, o CHIPS and Science Act.  Tal norma prevê investimentos de US$ 52,7 bilhões em pesquisas e implantação de indústrias de semicondutores e chips nos EUA.  Frise-se que, para fazer jus a esses fundos, as empresas terão de se comprometer a gerar empregos de qualidade, bem-pagos e sindicalizados, outro “fetiche” do passado.

Mas o objetivo principal é voltar a fabricar semicondutores e chips nos EUA. Esse país produzia ao redor de 40% do chips do mundo, no início do século, mas essa proporção caiu para menos de 10%, agora. Na pandemia, faltaram chips para a indústria automotiva norte-americana e até para a indústria de defesa.  

Biden quer que os EUA voltem a fabricar a maior parte dos chips e semicondutores do mundo, eliminando a dependência, em relação à Taiwan, China etc., e concorrendo no planeta inteiro com esses países.  

Quer “substituir” essas importações, outro grande “fetiche” de antanho. Como disse Biden no seu State of The Union, as grandes cadeias de produção e valor vão começar nos EUA. Terão lá a sua base. Isso chama-se visão estratégica, outro “fetiche” que caiu em desuso. Pode até não dar muito certo, mas a História não poderá acusá-lo de medíocre.

E bastou o Estado sair à frente para que grandes empresas privadas dos EUA se somassem à iniciativa, anunciando investimentos próprios de US$ 50 bilhões.  É assim que normalmente o capitalismo funciona, mesmo nos países mais desenvolvidos. O Estado sai à frente, aponta os caminhos, investe e a iniciativa privada se soma, em parceria.  

No campo da infraestrutura, a ideia de Biden é modernizá-la por inteiro. Os EUA ocupavam o primeiro lugar em infraestrutura no mundo, mas a falta de investimentos públicos em décadas o fizeram cair para o 13º lugar. Agora, serão investidos centenas bilhões na recuperação de estradas, pontes, portos, rede elétrica etc. Será maior a iniciativa nesta área desde quando Eisenhower, outro “fetichista”, criou o Interstate Highway System, o sistema de grandes autoestradas que revolucionou os EUA.  

Sabem de outra coisa? Biden determinou recentemente que todo o material usado nessa reconstrução terá de ser fabricado nos EUA.  Outro “fetiche” nacionalista.  

Biden vai ajudar a financiar tudo isso taxando os mais ricos. Em 2020, as 55 maiores corporações da América tiveram lucros de US$ 40 bilhões e pagaram zero em impostos federais. A partir deste ano, terão de pagar 15%. Um “fetiche” socialista, diria, talvez, “O Globo”.  

Na realidade, quem lê o recente State of The Union de Biden vê que ele contém algo muito próximo, mutatis mutandi, daquilo Lula pretende fazer no Brasil. Os princípios e os grandes objetivos são basicamente os mesmos. Os “fetichismos” também. Fundamentalmente, ambos, de formas diferentes e partindo de patamares muito distintos, querem construir países modernos, sustentáveis, sem pobreza e sem grandes desigualdades, baseados política, social e economicamente numa grande classe média.

Talvez na melhor passagem de seu discurso, Biden fez a seguinte pergunta: E onde está escrito - onde está escrito que a América não pode liderar o mundo na manufatura? Eu não sei onde está escrito isso.

A mesma pergunta pode ser feita no Brasil. Onde está escrito que o Brasil não pode se reindustrializar? Onde está escrito que essa reindustrialização não pode contar com o apoio de um banco de desenvolvimento e com investimentos estatais, como os EUA estão fazendo? E como todo os grandes países fizeram e ainda fazem? Estaria o Brasil desrespeitando uma lei econômica fundamental, com a coerção de uma lei natural? Onde está escrito que estamos eternamente condenados a ser somente um grande Fazendão?

Na realidade, essa lei não está escrita em lugar nenhum, a não ser nas cabeças pequenas, de pensamentos pequenos, de pessoas pequenas. Os vira-latas de sempre. Aqueles que têm o terrível fetiche do atraso e um invencível complexo de inferioridade.  

São o “Velho do Restelo” de quem falava Camões, nos “Os Lusíadas”. Aquele personagem anacrônico e um tanto patético que condenava os navegantes que fariam a grandeza de Portugal.   

Felizmente, Lula, Mercadante, Haddad, Marina, Anielle Franco, Celso Amorim e outras tantas pessoas públicas do atual governo, não padecem desse complexo esterilizante.  

Sabem bem que o Brasil só será Brasil com grandeza.

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