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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Jards Macalé, otimista, diz que vai passar logo

"É um filme para os homens. Eles saem do cinema entendendo um pouco melhor – espera-se – o universo feminino. É um filme para as mulheres. Para as vítimas da violência, para as oprimidas, para que aprendam a escapar e resistir", escreve a jornalista Denise Assis ao comentar sobre o documentário "Torre das Donzelas”

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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia

Quis muito ver o filme “Torre das Donzelas”. Tinha motivos além da curiosidade. Veria na tela mulheres com quem já troquei conversas, admiro pela luta e são representantes das conquistas da minha geração. Todas têm um pouco mais idade que eu, mas suas descobertas dizem muito de perto à minha geração. Fizemos, elas lá, nós aqui fora, os mesmos questionamentos, os mesmos enfrentamentos de costumes.  

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São mulheres lindas, especiais, que por caminhos de muito sofrimento descobriram a alegria e a libertação, que é diferente de liberdade. Liberdade elas buscavam para todos. Libertação encontraram para si mesmas, quando romperam com as amarras de serem “donzelas”, para serem revolucionárias. Não no sentido literal, da adesão à luta armada (nem todas as personagens retratadas pegaram em arma), à resistência, mas em suas vidas, nas nossas vidas.  

O filme nos mostra que mesmo no ambiente mais embrutecido da tortura, do encarceramento, da violência, elas escaparam pela fantasia, pela alegria, pela raiva e pela vontade de viver. São vencedoras. Venceram a si mesmas, venceram os torturadores, venceram o medo e os seus fantasmas.  

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No filme, por mais paradoxal que possa parecer, há leveza e delicadeza. E há o recado de que não se pode desistir. Todas, com sua dignidade e elegância nos mostram isto a cada fala. São discursos construídos e forjados na realidade da cadeia, da tortura, das leituras, mas de uma convivência de tanta verdade e confiança que sem nem mesmo precisar dizer - mas isto é dito - formaram uma família na escolha.  

É um filme para os homens. Eles saem do cinema entendendo um pouco melhor – espera-se – o universo feminino. É um filme para as mulheres. Para as vítimas da violência, para as oprimidas, para que aprendam a escapar e resistir.  

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É um filme para todos que se abrem para entender por onde passou a repressão da ditadura. Não foi apenas pelas organizações de resistência. Foi pelos costumes, pelo comportamento. Fizeram de tudo para nos infelicitar, nos aprisionar na ideia de que só no conservadorismo seríamos felizes. Perderam esta.

O nome do filme é o mesmo dado ao presídio e, claro, já foi uma ironia. Uma das ex-presas diz deliciosa e textualmente que não havia nenhuma donzela ali.  

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Sim. Não havia mesmo. Currados fomos todos nós. Toda a sociedade perdeu a inocência e a virgindade naquele período. Ninguém escapou incólume. Nem mesmo os verdugos. Isto o filme de Suzanna Lira nos mostra com precisão. Ninguém sai igual a como entrou, de um período desses, e de seu filme.

Tive o privilégio de assistir ao filme ao lado de um dos autores da canção/tema: “Vapor Barato”. Jards Macalé, para a minha surpresa, estava na cadeira ao lado, acompanhado de sua mulher, Rejane. Choramos muito o tempo inteiro. De raiva, ao constatar os absurdos se repetindo, ao mesmo tempo vendo aquela história sendo desfigurada, hoje.  

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Ao acender das luzes ficamos um tempo afundados na poltrona nos recompondo e naturalmente iniciamos uma conversa como se fôssemos velhos amigos. Macalé, esperançoso, nos consolava – a mim e à Rejane – dizendo que tudo se arranjaria. Nós, mulheres, dispostas a fazermos um pouco mais que esperar. Com a sabedoria de quem viu tudo de muito perto, Jards Macalé nos acenou com a obviedade dos sábios. “Tudo vai se ajeitar. É preciso tempo”. Que não nos custe muito, Macalé. Que não demore tanto...Foi um presente tê-los ali, ao meu lado. Chovia, mas ia passar...

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