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Ribamar Fonseca

Jornalista e escritor

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Mídia blinda Temer para mantê-lo no Planalto

É inegável que, apesar da extraordinária conquista dos blogs na internet, a imprensa tradicional ainda faz a cabeça das pessoas que se acomodaram em assimilar as notícias sem questionar

Brasília- DF 05-10-2016 Presidente, Michel Temer e Primeira dama, Marcela Temer, durante Cerimônia de Lançamento do Programa Criança Feliz Palácio do Planalto Foto Lula Marques/Agência PT (Foto: Ribamar Fonseca)
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O presidente Michel Temer, que é produto de um golpe realizado pelo Congresso Nacional com a cumplicidade do Judiciário, do Ministério Público, do Tribunal de Contas da União e da mídia, embora sem nenhum respaldo popular teoricamente conta com essas instituições para manter-se no poder pelo menos até as eleições presidenciais de 2018. Isso não significa, porém, que ele conseguirá chegar lá, porque existem muitos interesses em jogo, além das delações que podem tornar insustentável a sua permanência no Palácio do Planalto. Tudo depende, basicamente, do comportamento da Grande Mídia, que poderá simplesmente ignorar qualquer referência ao seu nome nas investigações, sugerindo à opinião pública a ideia de que não existe nada contra ele e, até, começar a criticar com mais contundência a ação dos investigadores, ao contrário da posição adotada no caso dos petistas, em especial do Lula. É inegável que, apesar da extraordinária conquista dos blogs na internet, a imprensa tradicional ainda faz a cabeça das pessoas que se acomodaram em assimilar as notícias sem questionar. E muita gente ainda dá crédito ao noticiário partidarizado da mídia que, no entanto, vem perdendo força, como confirmou-se agora na eleição municipal do Rio de Janeiro, onde o senador Marcello Crivella venceu o pleito desafiando o poder da Globo.

O fato é que Temer, revelando-se muito habilidoso no trato com seus parceiros do golpe, tem mantido o apoio do Congresso na votação das matérias do seu interesse – um jantarzinho de vez em quando no Jaburu tem garantido o voto dos parlamentares – ao mesmo tempo em que assegura a cobertura da mídia, mediante um generoso fluxo de verbas publicitárias, estratégia adotada com sucesso por FHC durante o seu governo. Com isso, Temer conseguiu blindar-se, pois a grande imprensa, em especial a organização dos irmãos Marinho, ao mesmo tempo em que divulga um noticiário positivo sobre o seu governo, esconde as noticias negativas, motivo de críticas até da imprensa internacional. Enquanto ignora nas páginas do jornal "O Globo" e no Jornal Nacional, por exemplo, a propina de R$ 23 milhões que a Odebrecht garante ter dado ao ministro José Serra e, também, as ocupações das escolas por estudantes e a violência policial, o jornalão carioca se preocupa em publicar o conteúdo da lista de compras da ex-presidenta Dilma Rousseff num supermercado do Rio de Janeiro. Por essa e por outras é que a grande mídia brasileira deixou de ser referência para a imprensa estrangeira, que decidiu sediar repórteres da sua confiança no Brasil.

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Paralelamente ao permanente contato e negociações com o Congresso e a mídia, Temer mantém, também, conversas informais com o Judiciário, através de alguns ministros, entre eles o ministro Gilmar Mendes que, por coincidência, é também presidente do Tribunal Superior Eleitoral, onde, coincidentemente, tramita o seu processo de cassação. Percebe-se, sem muita dificuldade, que Temer, ao contrário de Dilma – acusada por parlamentares que votaram pelo seu impeachment de não dialogar com eles – mantém, espertamente, suas ligações com todos os que podem, direta ou indiretamente, contribuir para sua permanência no Palácio do Planalto. E graças a esses contatos há rumores de que os ministros do TSE já discutem, informalmente, a separação dele da chapa de Dilma, contra a qual os tucanos pediram a cassação por abuso de poder econômico. É óbvio que pretendem preservá-lo. E essa iniciativa, embora juridicamente esdrúxula, já tem pelo menos dois votos favoráveis: dos ministros Gilmar Mendes e Luiz Fux. Em defesa de Temer, um ministro chegou a dizer que "para que o Judiciário casse o mandato de um governante democraticamente eleito, as irregularidade precisam ser provadas e significativas o suficiente para influenciar o resultado da eleição nacionalmente". O ministro parece que esqueceu apenas um pequeno detalhe: ele não foi "democraticamente eleito" Presidente da República.

É evidente que Temer já vem se mobilizando há algum tempo para impedir que o TSE casse o seu mandato, pois a Corte Eleitoral, no panorama atual, é a única que pode tirá-lo do Palácio do Planalto antes de 2018, já que ele tem a maioria no Congresso Nacional, a simpatia do Supremo e o apoio da mídia. E os movimentos de rua não têm força para destituí-lo. Portanto, a não ser que no próximo ano, diante da perspectiva de eleger um tucano para a Presidência por via indireta, o PSDB rompa com ele e o ministro Gilmar Mendes coloque a ação em pauta, aprovando a cassação do seu mandato, Temer deverá manter-se no poder até 2018. Afinal, mesmo que a delação da Odebrecht ou do deputado Eduardo Cunha o comprometa gravemente, tornando insustentável a sua presença no governo, a Grande Mídia, escamoteando as acusações contra ele, conseguirá mantê-lo no Planalto, garantindo, consequentemente, as gordas verbas publicitárias em sua conta-corrente. Até porque essa mesma mídia, descomprometida com os interesses do país e traindo a confiança dos seus leitores, já conseguiu o que queria: derrubar Dilma e enfraquecer o petismo, faltando apenas impedir Lula de voltar ao Planalto em 2018. Mas isso, embora tarefa difícil, não é impossível, considerando-se a valiosa contribuição da Lava-Jato que, sob o pretexto de combater a corrupção, não pretende deixar o ex-presidente em paz até torná-lo inelegível.

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O trágico é que enquanto não chega 2018 o Brasil vai sendo destroçado pelo governo Temer, que parece ter vindo de encomenda para desmontar todas as conquistas sociais alcançadas ao longo dos governos petistas de Lula e Dilma; dilapidar o patrimônio nacional, especialmente com a venda fatiada da Petrobrás e a entrega do nosso petróleo ao capital estrangeiro; e recolocar o país no colo dos Estados Unidos, abrindo mão da sua liderança no continente Sul-americano e do seu projeto expansionista. Não será ele, porém, o único responsável por esse retrocesso em andamento, que inclui o estabelecimento de um mascarado regime de exceção, onde não existe a figura de um ditador, um chefão, mas de vários pequenos títeres espalhados pelo território nacional: são também responsáveis por esse desastre histórico a maioria que lhe dá sustentação no Congresso Nacional, o Judiciário, em especial a Operação Lava-Jato, e a mídia. Todos deverão responder, perante a História, pelo crime que se comete hoje contra o país.

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