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Lívio Silva

Mestrando em Direitos Humanos, Especialista em Direito Internacional e em MBA Jornalismo Digital

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Movimento de cultura popular do Recife: seu incrível legado para o Brasil

O legado do MCP para a educação brasileira é enorme, incluindo a inspiração para outros movimentos sociais, bem como também para a reformulação de todo o paradigma da Educação nacional

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Se estivesse vivo, Paulo Freire faria 100 anos agora em setembro e uma excelente maneira de homenagearmos a sua relevância para a Educação é falarmos sobre o Movimento de Cultura Popular do Recife, uma iniciativa importantíssima que ocorreu em Pernambuco na década de 1960.

Este importante movimento, que nos trouxe o conceito de educação popular, tem seus primórdios na década de 1950, em um primeiro momento, de maneira autônoma e espontânea e novamente no início da década de 1960, a partir daí com apoio da prefeitura do Recife no governo Miguel Arraes.

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O momento de surgimento do MCP, sigla pela qual é conhecido o Movimento de Cultura Popular, foi um período de crescimento dos movimentos sociais e de discussão por intelectuais humanistas da classe média pernambucana sobre as desigualdades sociais, debatendo a eliminação dessas desigualdades e a melhoria das condições de educação da população.

É isso mesmo, parece mentira mas aconteceu, pois o MCP é um daqueles episódios na história da humanidade sobre os quais, se não houvesse registro de seu acontecimento, ninguém acreditaria que ocorreu, haja vista ter sido formado por intelectuais de classe média e indivíduos pertencentes às classes populares que se congregaram para criar um movimento sócio-educativo-cultural que partisse das bases, ou melhor, que não fosse obra de imposição cultural das classes dominantes.

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Tais intelectuais eram ligados às artes, à literatura, ao teatro e às manifestações culturais em geral e terminaram por desenvolver o conceito de cultura popular e consequentemente de educação popular, que são os pilares de todas as ações do Movimento de Cultura Popular.

O escultor Abelardo da Hora criou uma espécie de espaço coletivo de criação artística chamado ateliê multicultural, que foi onde começou a se formar o embrião do MCP. A partir daí, já se começava a formar uma mobilização em torno da busca de soluções para as questões sociais da população do Recife, trabalhando o conceito de cultura popular em oposição ao que chamamos de "cultura dominante", que consiste na construção pelas classes dominantes de uma cultura voltada para os seus próprios valores, de forma a fortalecer seus privilégios e desprezar tudo que é relacionado às classes populares.

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Em um primeiro momento, na década de 1950, recebe apoio do prefeito Pelópidas Silveira, mas o movimento ainda não era institucionalizado, o que somente ocorreu quando Miguel Arraes assumiu a prefeitura da cidade do Recife em 1960, pois ao saber da existência do movimento reúne-se com alguns de seus criadores e outras personalidades de relevância na sociedade recifense, para em seguida institucionalizar o MCP como programa oficial da administração municipal do Recife.

 A conscientização da população por meio da cultura e da educação de base, orientava as atividades do MCP, que ocorriam por meio da promoção de festivais de cinema e teatro, semanas estudantis, festas dedicadas ao folclore, seminários e congressos sobre temas ligados a cultura popular, tudo isso em espaços chamados de "Centros de Cultura", criados pelos organizadores para este fim.

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Em 1962, Miguel Arraes assume o governo do Estado de Pernambuco e expande a atuação do Movimento de Cultura Popular para todo o Estado inteiro, o que ocorreu até 1964, quando foi interrompido pelo golpe civil-militar que deu início a uma ditadura de 21 anos no país.

Um dos admiráveis legados deixados para o país pelo MCP é justamente o conceito de educação popular e aqui lembramos da importância de Paulo Freire para a educação brasileira, pois é dentro do movimento que ele dá os primeiros passos no sentido de amadurecer o seu "método de alfabetização" e sua pedagogia libertadora, que tem como premissa o estímulo à consciência crítica das massas populares voltada a transformação de sua realidade social, sendo formada com base na cultura popular e não na cultura imposta pelas classes dominantes.

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O acadêmico Fábio Silva de Souza narra em sua dissertação de Mestrado a experiência de uma aula da Educação de jovens e adultos (EJA), planejada a partir da reelaboração das experiências populares para politizar as massas:

"Essa aula buscava transformar a experiência concreta do sofrimento dos setores populares em consciência política. Demonstrar que o sofrimento diário vivido pelas massas não tinha causas isoladas, nem metafísico-religiosas, tampouco naturais, cumpria o objetivo desse método. Nessa perspectiva, contribui para que os populares se conscientizassem que as condições subumanas nas quais eles estavam imersos eram fruto da opressão sofrida pela ordem estabelecida era o propósito dos idealizadores da atividade." (SOUZA, 2014, p. 56)

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Essa visão de percepção da realidade, autoconscientização e transformação social existente na pedagogia freiriana é importantíssima em qualquer época, sobretudo nos momentos atuais, de conservadorismo e autoritarismo crescentes. Quando o cidadão entende o mundo em que vive e qual o seu lugar no mesmo, tem condições de problematizar a sua realidade, conseguindo, dessa forma, identificar as injustiças das quais é alvo e buscar formas de lutar pela superação dessa condição, além de adquirir condições de buscar a ampliação dos seus direitos e a conquista de outros.

O legado do MCP para a educação brasileira é enorme, incluindo a inspiração para outros movimentos sociais, bem como também para a reformulação de todo o paradigma da Educação nacional, promovida ao longo de décadas até os dias atuais, nos quais se mantém resistindo aos ataques do projeto autoritário de poder que  infelizmente ainda se encontra ocupando o palácio do Planalto.

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