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Vinícius Carvalho

Mestre em História do Tempo Presente, pela Universidade do Estado de Santa Catarina e analisa os desdobramentos do neoliberalismo e do caos político pós-crise de 2008.

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Não existe contexto que amenize o teor da fala de Paulo "Galo"

É absolutamente legítima a estranheza causada pela fala de uma liderança da classe trabalhadora conclamando a militância a "fazer a rua ferver"

Paulo Galo (Foto: Divulgação)
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(Uma resposta ao artigo de Carlos Hortmann)

Durante sua participação em uma live transmitida na última quinta-feira, 17 de fevereiro, Paulo "Galo", militante do movimento Revolução Periférica, fez diversas críticas ao fenômeno do "personalismo" na política, chegando a alertar os demais participantes sobre a importância de manter a transparência em relação aos próprios erros, evitando a veneração de líderes políticos. Causa estranheza, portanto, a tentativa de negar a essência de sua fala sobre "fazer a rua ferver", sem "medo de ser chamado de golpista".

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A fala de Galo não dá margem para interpretações dúbias. Afirmar que o simples recorte de um trecho implica na distorção do conteúdo é um argumento falacioso. Comprovar que uma fala foi tirada de contexto é um expediente muito simples — basta mostrar qual é o contexto. No caso da fala de Galo, o contexto em nada ajuda a modificar o sentido. Pode-se pegar a fala com uma margem de 2, 5, 10 ou 20 minutos ou mesmo a live inteira. O sentido da frase permanece inalterado e continua a causar desconforto.

Tentou-se alegar que Galo estaria falando da necessidade de mobilizar as massas para revogar as reformas instituídas desde o golpe parlamentar de 2016. Esse argumento é absolutamente equivocado e basta assistir a live para comprovar. A revogação das reformas não foi citada como objetivo de tais mobilizações em nenhum momento durante a intervenção de Galo. Sua fala tinha como foco a possível chapa Lula-Alckmin — o principal tema da live. Se existisse um trecho da live comprovando que Paulo falava sobre a revogação das reformas, bastaria postá-lo. Não o fizeram — e nem o farão — por que tal trecho não existe. É um contexto imaginário, criado para tornar a fala de Galo mais palatável.

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O discurso sobre "fazer ferver as ruas" não foi o único ponto questionável da live. Um dos participantes reafirmou que não votaria em hipótese alguma em uma chapa Lula-Alckmin. Conferiu-se amplo destaque a uma teoria exótica sobre a obsolescência e a volatilidade do conceito de direita versus esquerda que, alguns disseram, deveria ser abolido em favor de uma oposição entre "os de baixo" contra "os de cima". Galo ainda discorreu sobre sua visão acerca da substituição dos sistemas tradicionais de representação política pela "auto-representação" possibilitada pelo surgimento das redes sociais. Asseverou, por fim, que para "derrotar o capitalismo" basta aguardar seus representantes morrerem, uma vez que são "velhos" e as novas lideranças políticas jovens.

O fato de conceitos políticos tão equivocados e idealizados não serem mediados ou contrapostos pela militância alegadamente marxista é sintomático do caráter autoproclamatório da nossa esquerda radical. Há setores da esquerda pretensamente marxista que enxergam anticomunismo em toda e qualquer crítica feita pela militância petista — incluindo as críticas pertinentes —, mas não se incomodam com a transformação do marxismo em caricatura e com o rebaixamento do conceito de revolucionário à performance dramática, estética e retórica.

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Um estudo divulgado nesta segunda-feira pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) projeta a redução de 4,4 anos na expectativa de vida dos brasileiros durante o governo Bolsonaro. O Brasil se aproxima de 650 mil mortes decorrentes da pandemia de covid-19. Ao menos 55% de todos os brasileiros estão em situação de insegurança alimentar e 20 milhões estão passando fome. A rede de proteção social do Estado está sendo desmontada, os serviços públicos sucateados e o patrimônio público saqueado, enquanto Bolsonaro segue avançando a agenda da morte, liberando quase 1.500 agrotóxicos em três anos, incitando a violência no campo e facilitando a ação das milícias nas cidades.

Lula surge como uma esperança de interromper a queda livre do Brasil rumo ao abismo. Uma chance desse país tentar se recompor de quase uma década de crise e encontrar novos caminhos. É absolutamente legítima, portanto, a estranheza causada por uma fala de uma liderança da classe trabalhadora conclamando a militância autoproclamada radical a "fazer a rua ferver" "depois que Lula ganhar", sem "medo de ser chamado de golpista". Atribuir tal estranheza a uma articulação anticomunista e reacionária proveniente do petismo é pura mistificação para justificar o que não pode ser justificado.

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