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Roberto Xavier

Cientista Político, Mestre em Gestão de Políticas Públicas

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Não foi o Nordeste, foi o Brasil, estúpido!

Vamos parar com esse papo que, em função dos resultados do 1º turno, o Nordeste é Petista e Centro Sul é Bolsonarista. Não é nada disso

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O noticiário dos principais veículos da grande imprensa brasileira sobre essas eleições tem uma narrativa clara: o 1º turno das eleições presidenciais de 2022 foram um mundo de baixarias e o Nordeste, tutelado pelo Bolsa Família (me recuso a chamá-lo por outro nome em respeito à memória da querida Ana Fonseca), é o responsável pela recorde de votos recebido por Lula e pode garantir sua vitória no 2º turno. 

Qualificar ou desqualificar eleitores por sua localização geográfica não ajuda em nada nossas análises, muito menos em nossa tarefa de entender o que aconteceu nessas eleições. Se assim fosse teríamos que aceitar que o Brasil está dividido regionalmente como resultado de um processo eleitoral agressivo e nefasto, certo? Errado. Toda narrativa é uma construção e um campo de disputa política. Não existe narrativa inocente. A narrativa vencedora se cristaliza e vira história.

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Olhem os números. Foi o Sudeste a região em que Lula mais ganhou votos em relação ao resultado do 1º turno de 2018 e foi justamente no Nordeste a Região em que Bolsonaro mais avançou e obteve 1,3 milhão de votos a mais em relação à eleição que o elegeu Presidente.

Acho que a paixão platônica de alguns pelo "american way of life" e a miopia ideológica de outros não os deixou perceber algo muito simples: o sistema eleitoral brasileiro não é igual ao americano, felizmente.

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Vimos a mídia, tanto eletrônica quanto impressa, repetir incansavelmente um mapa do Brasil colorido em azul e vermelho, como se fossemos Democratas e Republicanos, mostrando em quais Estados a vitória foi de Lula e em quais foi de Bolsonaro como se utilizássemos o deplorável sistema americano de eleições indiretas.

Naquele sistema o candidato que vence as eleições diretas, que eles chamam de Primárias, em um determinado Estado dá direito ao seu Partido a indicar todos os Delegados (sim, TODOS os Delegados e não apenas a proporção correspondente aos seus votos) que representarão aquela Unidade Federativa no Colégio Eleitoral, onde não necessariamente se repetirá a vontade da maioria dos eleitores, aliás isso já ocorreu algumas vezes. 

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Já no sistema eleitoral brasileiro, a eleição do Presidente se dá por voto direto, ou seja, não faz a menor diferença a vitória nos Estados. Sejam eles do Sul ou do Nordeste. No nosso sistema todos os votos são iguais, sejam de homens ou mulheres, brancos ou pretos, nordestinos ou sulistas, ricos ou pobres. Não importa a qualificação do eleitor, seu voto é igual ao voto de todos os demais eleitores.

Portanto, a vitória de Lula no 1°turno é responsabilidade de todos os brasileiros que votaram nele. Assim como a responsabilidade pela ida de Bolsonaro para o 2° turno é dos mais de 50 milhões de eleitores que votaram nele. 

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Parênteses aleatório (Queria que fosse, mas essas responsabilidades não são do Ciro.) Fecha parênteses.

Se alguém pode dizer que não tem responsabilidade sobre o resultado, esses são os milhões que se abstiveram, mas esses não deverão reclamar de nada porque sua abstenção, ou seja, seu manifesto desejo de não participar da escolha, não deveria lhe dar o direito de se manifestar sobre o resultado, mas aí já é cobrar uma coerência que poucos tem.

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E vamos parar com esse papo que, em função dos resultados do 1º turno, o Nordeste é Petista e Centro Sul é Bolsonarista. Não é nada disso. Esse argumento já deu. Chato para caramba.

O que devemos focar entre os dois turnos é porque nessa eleição perdemos a oportunidade de discutir temas realmente importantes como independência do Banco Central, reforma política associada à corrupção e financiamento público das campanhas 

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Deveríamos pautar a disputa no 2º turno em temas como a escolha por modelos econômicos que incentivem o emprego e a renda e que combatam a inflação. Discutir como retomar o crescimento econômico, como direcionar a política externa e seus diferentes alinhamentos e, sobretudo, investigar porque a desconstrução de políticas sociais – Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida, Mais Médicos, Pronatec, Prouni, dentre outras – não pautaram os debates com a intensidade e frequência necessária para extrapolar nossa bolha ideológica.

Em suma, abandonar uma campanha que mais uma vez se concentra nas pautas morais com um baixíssimo nível de politização de temas de interesse nacional e da relação do Brasil com o mundo. 

Ficar reduzida à temas paralelos e à agressividade política e ao suposto atraso do Nordeste, quando na verdade deveríamos estar discutindo sobre os dois projetos que se apresentam em renhida disputa, só nos fará jogar no campo do adversário. 

E lá é ele quem define as regras escala o juiz, os bandeirinhas e o VAR e só a Jovem Pan transmite a partida.

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