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Verônica Lima

Foi a primeira vereadora negra de Niterói pelo PT e está em seu terceiro mandato na cidade

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No Brasil de Bolsonaro, a grande vilã é uma mulher negra

Criado em nome de uma suposta justiça, o ódio a Karol nada mais é do que um produto da injustiça que se abateu sobre Lucas

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Com ou sem querer, o Big Brother Brasil 21 trouxe às telas de TV questões que há muito sacodem os debates sobre raça, gênero e sexualidade. Isso é bom. Mas essa importante transposição, se descuidada, pode culminar em perigosas distorções. Agora, elas parecem convergir para a já simbólica figura de Karol Conká, uma mulher artista preta e bissexual.

No BBB, a rapper se envolveu em conflitos do primeiro ao último dia de sua passagem, evocando noções da militância negra em algumas disputas de caráter pessoal. Em sua maior controvérsia dentro do programa, a artista se provou uma das maiores algozes do cantor e ator Lucas Penteado. Frente à rotina de violência psicológica a que foi submetido, Lucas pediu para sair do reality. Aqui fora, a imagem de Karol se vinculou aos insultos e humilhações que ela desferiu ao jovem, outro homem negro e bissexual. 

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A cantora perdeu dinheiro, seguidores e contratos. Não demorou para que sua equipe começasse a receber mensagens de ódio e ameaças de morte. A rapper rapidamente se transformou na “vilã” da edição. Poucos souberam reconhecer que as consequências justas para os atos de Karol não incluem a execração recreativa. 

Mulheres negras costumam ser classificadas como fortes e guerreiras numa tentativa de elogio. É quase como se não fosse permitido que elas errassem. Quando acertam, é como se estivessem fazendo o mínimo. Quando erram, são detestadas. 

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No ano passado, a participante Ivy Moraes foi acusada de racismo contra o ator Babu Santana. Ivy questionava o pente para cabelos crespos que ele usava e votava nele toda semana, argumentando não ser tão próxima do concorrente. 

Ivy não foi responsabilizada como se representasse a população branca, e seus gestos foram interpretados como ações individuais. Em Karol, porém, suas atitudes não são vistas como desculpáveis exceções. Além disso, seus erros parecem representar uma ameaça a conquistas recentes do ativismo antirracista — cujo trabalho real não se dá num reality show, mas na luta política e pela representação parlamentar.

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No caso da Karol, a faceta pública da celebridade prevalece sobre as angústias e vivências de um ser humano comum. Contudo, para além da exploração comercial de sua personalidade, Karol também é uma mãe, filha e neta negra. Criado em nome de uma suposta justiça, o ódio a Karol nada mais é do que um produto da injustiça que se abateu sobre Lucas. E, no fim das contas, ambos são ativistas e já contribuíram para a luta antirracista a seu modo, e não foi num programa de televisão.

Em tempos de personificação de movimentos políticos e crescimento da onda conservadora, é preciso ter cuidado para que o suor e o sangue daqueles que arriscaram a vida pelo fim da desigualdade racial sejam um legado em si mesmo, sem se confundir com disputas pessoais criadas por entretenimento. É possível se indignar, mas sem esquecer dos verdadeiros inimigos neste momento: o negacionismo à ciência, o fascismo, as ameaças à democracia e as atrocidades do governo Bolsonaro.

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