Nova evocação do Recife
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Recife!
Não aquela das torres gêmeas no Cais de Santa Rita
mas o Cais de Santa Rita
o Mercado de São José
o Mercado das Flores
Recife do Marco Zero, da Torre Malakoff e da Praça do Arsenal
onde Fatinha começou a frevar de sombrinha na mão
e se encantou por Alceu cantando Anunciação
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais
Eu quero o Recife dos mangues
o Recife do Manguebeat, dos Caranguejos com cérebro
Eu quero o Recife de Josué de Castro
que um dia quebrou o meu crânio quando disse:
metade da humanidade não come;
e a outra não dorme, com medo da que não come.
Eu não quero o Recife da fome
Eu quero o Recife solidário, não o Recife solitário
Eu quero o Recife do Ocupe Estelita
Eu quero o Recife que encontro na nostalgia de Urariano Mota
mas não quero crer, embora não possa, no assassinato de Soledad Barrett
Recife e sua mania de grandeza
Recife do Capibaribe encontrando o Beberibe para formarem o mar
Recife da maior avenida em linha reta do Brasil
da Sinagoga mais antiga das Américas
e do primeiro observatório astronômico também
Recife de Vicente Yáñez Pinzón
que chegou ao Brasil muito antes de Cabral
Recife de Alberto da Cunha Melo
que não era do Recife, mas de Jaboatão
Recife de Gilberto Freyre e Pena Filho
Recife, irmã sanguínea de Olinda, onde existem os Quatro Cantos
onde está edificado e resistente o glorioso Bar do Peneira
Recife, enfim, onde não nasceu o meu avô
onde a rua da Aurora continua a se chamar rua da Aurora
onde tudo continua, Poeta, impregnado de eternidade
Bahia, 13 de julho de 2020
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