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Chico Junior

Jornalista, escritor e comunicador

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O agronegócio é cruel: recebe muito e contribui pouco para o país

"Comida, para o agronegócio, significa apenas dinheiro, lucro. O agronegócio produz muito, mas se dedica a monoculturas. Produz, principalmente, para abastecer os mercados internacionais, ganhar muito dinheiro favorecendo-se do dólar nas alturas, ao mesmo tempo em que provoca o desabastecimento interno, contribuindo para a alta dos preços dos alimentos"

Soja (Foto: Divulgação)
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O povo do agronegócio vira e mexe enche a boca para se vangloriar de que o Brasil é o maior produtor disso e daquilo e que eles seriam os principais responsáveis pela produção de alimentos no país, mesmo sabendo que quem realmente bota comida na nossa mesa é a agricultura familiar (cerca de 70% do que comemos).

Tudo balela e cascata, pois o que o dito agronegócio produz mesmo é commodities, produtos com alto valor no mercado internacional e, por isso mesmo, destinados à exportação, como é o caso da soja, do milho, do açúcar, do suco de laranja, do café e das carnes de frango e bovina.

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Realmente, o Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo e, mesmo assim, temos milhões de pessoas passando fome, sem acesso à comida.

Isso porque a lógica do capitalismo é perversa. Comida, para o agronegócio, significa apenas dinheiro, lucro.

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O agronegócio produz muito, mas se dedica a monoculturas. Produz, principalmente, para abastecer os mercados internacionais, ganhar muito dinheiro favorecendo-se do dólar nas alturas, ao mesmo tempo em que provoca o desabastecimento interno, contribuindo para a alta dos preços dos alimentos.

A coisa é tão estapafúrdia que, eventualmente, o Brasil tem que importar a soja (o Brasil é o maior exportador mundial do grão) que ele exportou. Vá entender...

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Em matéria publicada no início de outubro no portal “O joio e o trigo”, os geógrafos Marco Antonio Mitidiero Junior (professor da Universidade Federal da Paraíba - UFPB e presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - Anpege) e Yamila Goldfarb (pesquisadora e vice-presidente da Abra – Associação Brasileira de Reforma Agrária) desmascaram a versão de que agronegócio é a maior força econômica do Brasil. Eles são os autores do artigo “O agro não é tech, o agro não é pop e muito menos tudo”, realizado pela Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra) com apoio da fundação Friedrich-Ebert-Stiftung Brasil.

“O Agro usa diversas estratégias para construir o consenso na sociedade brasileira de que é o setor mais dinâmico, moderno e importante da economia brasileira. No entanto, uma análise detalhada dos números do agro revela outra realidade. A de um setor que recebe muito e contribui pouco com o país”, dizem os autores do artigo.

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Entre outras coisas, o artigo analisa a participação do agro - que recebe uma série de incentivos fiscais e isenção de impostos para exportar matéria-prima bruta - no Produto Interno Bruto (PIB).  Os dados mostram que, em média, o agro contribuiu com apenas 5,4% do PIB, enquanto o setor industrial com 25,5% e o setor de serviços com 52,4%.  Ou seja, o setor que mais produz mercadorias para exportação é o que menos contribui na composição dos valores do cálculo geral de produção de riqueza.

Os autores criticam o fato de o Brasil exportar matéria-prima bruta, com isenção de impostos, ao mesmo tempo que compra produtos de fácil produção nacional.

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“Qual país rico e avançado alcançou esse status produzindo e exportando matéria-prima? Nenhum dos chamados países ricos desenvolveu sua economia sem investimentos pesados no setor industrial e de serviços, acompanhado por investimentos mais pesados ainda em educação, ciência e tecnologia, posicionando-se, a partir dessa estratégia, na divisão internacional do trabalho, da produção e do comércio”.

O artigo mostra que os quatro principais produtos agropecuários que o país comprou, em 2019, foram: trigo (1,4 bi dólares), peixes (1,1 bi dólares), produtos hortícolas, raízes e tubérculos (1 bi), e papel (850 milhões de dólares), produtos para os quais não existem grandes limitações para produção nacional. “Mesmo com imenso superávit comercial entre os produtos do agro, por que o Brasil precisa comprar produtos de fácil produção nacional?”, questionam os autores.

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Entre vários exemplos, citam a importação de arroz, a maior parte sem casca, ou seja, semielaborado: em 2018 o país importou 614 mil toneladas; em 2020, quase um milhão de toneladas.

Falta política agrícola

“O que faz um país com uma das maiores disponibilidades de terra e água para produção agrícola depender do mercado externo para suprir a demanda de um produto que é a base da alimentação de seu povo? “, questionam.

“A resposta não é difícil: a falta de uma política agrícola que assegure a soberania alimentar e demais interesses da economia nacional tem permitido que produtores rurais priorizem o lucro obtido com exportações, elevando a importação onerosa e descabida para compensar a falta do produto no mercado interno.”

Não nos iludamos: o agronegócio é cruel.

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