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Igor Corrêa Pereira

Igor Corrêa Pereira é técnico em assuntos educacionais e mestrando em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Membro da direção estadual da CTB do Rio Grande do Sul.

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O Brasil onde a panela não pode cozinhar nem protestar

Mesmo derrubando Bolsonaro da presidência teremos ainda pela frente a notável missão histórica de derrotar o bolsonarismo, que passa por rever instituições centenárias do país, que são muito maiores e perenes do que esse personagem transitório.

Jair Bolsonaro (Foto: Fabiana Ribeiro | Jornalistas Livres)
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A motociata presidencial realizada em Porto Alegre neste dez de julho foi a expressão deste Brasil tão amado e interpretado pelo gênio Darcy Ribeiro. O autor Darcy Ribeiro provavelmente não conheceu Jair Bolsonaro, mas estudou e interpretou como poucos a formação de nosso povo. Ele falou das heranças violentas trazidas pela questão agrária e da escravidão não resolvidas, e que eclodiram na Ditadura Militar da qual o governo que ele fez parte foi vítima. 

Quando Darcy falou que nós brasileiros somos ao mesmo tempo herdeiros dos pretos e índios torturados e mortos e da mão cruel que os torturou e matou, ele mencionou os fantasmas que continuam hoje em dia a nos assombrar. Esta terrível herança nos faz carregar uma cicatriz que hoje sangra. Explode cotidianamente na brutalidade racista e classista pelos braços de uma polícia militar moldada e treinada no período da Ditadura e nunca remodelada no período de redemocratização. 

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Quantos já foram presos ou intimidados por protestar contra Bolsonaro? Na tarde de sábado mais uma mulher foi presa. Carregava uma perigosa panela, que aparentemente poderia ferir os homens que desfilavam em suas motos possantes ao lado do Mito, guarnecidos por agentes da Polícia Militar a cavalo, de moto, de carro, de helicóptero. 

A panela realmente era uma grande ameaça a todo esse contingente. Faria um grande estrago aos seus egos. O governador do estado Eduardo Leite se pronunciou sobre o episódio apoiando a prisão da moça. Disse que ela poderia provocar acidentes. E que ela foi presa por policiais mulheres. Eduardo Leite é sempre muito atento às questões de gênero. É sobre isso.

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As heranças dolorosas nos fazem chegar a um Brasil que interdita as panelas duplamente. Pela fome que atinge mais da metade da população, as panelas não podem ir ao fogo, pois não há alimentos suficientes e o gás que produz o fogo está caríssimo. E se a fome transforma a panela em instrumento de protesto, elas também são interditadas.  

Mas nem só a brutalidade se manifestou naquela tarde em Porto Alegre. Também houve resistência solidária que propôs a revalorização da panela. O Comitê Popular de enfrentamento ao COVID-19, que reúne centrais sindicais, movimentos sociais e partidos de oposição a Bolsonaro, arrecadou alimentos para as milhares de pessoas que precisam e não têm comida na panela. 

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Uma cozinha solidária, com panelas livres para sua atividade principal e secundária, preparou centenas de quentinhas que foram distribuídas de moto por entregadores, a população de rua e pessoas necessitadas. Para essas pessoas que sobram estruturalmente em nosso país, esperando que resolvamos nossas dores que passam pela injusta distribuição de terra, de riqueza, de cidadania. 

As estruturas em que Bolsonaro se sustenta são justamente a sustentação de nossa terrível herança. O bolsonarismo é o monstro alimentado pelos fantasmas que não exorcizamos. No interior do RS, são comuns grandes outdoors de apoio ao Mito, financiados pelos latifundiários que muito provavelmente apoiarão Luiz Carlos Heinze como governador em 2022. Também sustenta o presidente essa poderosa máquina de repressão chamada polícia militar. Formada pela Ditadura e nunca revisada, finalmente encontrou num líder político a expressão de seu pensamento e conduta. 

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Derrotar o bolsonarismo significa enfrentar essas dolorosas heranças. Desde a Constituição cidadã até hoje, os militares não foram desalojados da política e hoje chegam a impáfia de querer que os civis não se manifestem, e não estou aqui falando de civis pobres como eu e provavelmente você. Estou falando da ameaça das Forças armadas ao senador Omar Aziz, presidente da CPI da Pandemia. 

Estamos a um passo de que exijam como pré-requisito para a livre manifestação política o porte de uma arma e de uma patente militar, uma credencial evangélica ou a propriedade de centenas de hectares de terra, além é claro de concordar com Bolsonaro. Aqueles que não dispõem dessas credenciais, não podem ter partido. Não podem sequer portar sua panela na rua, e serão presos por porte ilegal de opinião. 

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A operação de tirar Bolsonaro da presidência é complicada, pela sustentação centenária e sólida que ele dispõe, citada acima. Mas precisa ser feita. Com amplitude, explorando contradições da elite. Mas mesmo derrubando Bolsonaro da presidência teremos ainda pela frente a notável missão histórica de derrotar o bolsonarismo, que passa por rever instituições centenárias do país, que são muito maiores e perenes do que esse personagem transitório. 

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