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Liliana Tinoco Bäckert

Jornalista e mestre em Comunicação Intercultural pela Universidade da Suíça Italiana, apresenta coluna semanal na Rádio CBN e é autora de livro e textos sobre vida no exterior

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O empreendedorismo como panaceia para quase todos os males do exterior

Diplomas de universidades nacionais e experiência profissional no Brasil não garantem emprego formal no mesmo patamar que se tinha no país

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A romantização do empreendedorismo é daqueles assuntos atuais que de vez em quando saem na mídia, mas que ainda precisam de reforço na dose, um mergulho mais profundo para evitar a inevitável frustração para quem acredita que essa é a única solução. Fala-se aqui e acolá, mas persiste a sensação de que muita gente ainda não tenha se dado conta da armadilha que é, principalmente quando se foca no grupo de brasileiros que vivem fora do país. 

Receita-se empreendedorismo para quase tudo quando se fala em uma nova vida no exterior. Violência doméstica? Tem que abrir seu negócio, mulher dona do próprio dinheiro não atura marido opressor – como se a independência financeira fosse o único fator de um ciclo de maus-tratos. Dificuldade para se inserir no mercado de trabalho? Abra sua empresa de serviços para brasileiros ou seu salão especializado em cabelos cacheados. O importante é empreender, mesmo que a pessoa nunca tenha tido esse desejo, não demonstre talento para ser empresária, sequer tenha passado por treinamento, informação detalhada sobre a área em que se quer atuar e tino comercial. E, pior de tudo, não fale uma palavra da língua local. 

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Receitas prontas de sucesso são convite ao insucesso 

Preciso dizer, neste ponto, que eu não tenho absolutamente nada contra o empreendedorismo. Acho ótimo que quem queira e esteja preparado tome iniciativas nesse sentido. Afinal, abrir seu próprio negócio gera renda para a família, empregos e deve dar satisfação a quem gosta. O problema aqui é a receita pronta, a cobrança de sucesso do empreendedor que precisa praticamente ir para a capa da Forbes, onde somente alguns dos inúmeros empresários de sucesso mundo afora têm espaço. 

Mulheres sob pressão

No quesito cobrança, então, é um Deus nos acuda. Quem mora fora já tem inúmeras obrigações extras da vida de adulto, como aprender o idioma, se integrar, se adaptar à cultura local, cuidar dos filhos sem rede de apoio, lidar com saudades... E aí, no topo disso tudo, vem a cobrança de ser empreendedor de sucesso, de dar conta de tudo. 

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Quando é mulher, então, pior a cobrança. Além de cuidar da casa, se virar com o professor do filho em outra língua, ela precisa ser empoderada, ter seu negócio próprio e ainda se apresentar linda e fazer as unhas sozinha em casa porque manicure é super caro fora do Brasil (presença de ironia). Ou seja, aquela história de romantizar a heroína que há em todas nós. Se isso já é uma realidade para quem mora no Brasil, imagine para quem tem que aprender a lidar com essa realidade longe de casa?

Brasil ainda não apresenta competitividade

Infelizmente, muitos brasileiros emigram com um sonho de poderem exercer sua profissão, sem saber que uma grande parte dos nossos currículos não têm muito ou qualquer valor aqui fora. E o que se vende é a solução mágica de abertura de um negócio como alternativa à carreira deixada para trás. E nesse roteiro de busca pelo próprio dinheiro, por sobrevivência, por aceitação no grupo ou até por autorrespeito, entram os perigos. 

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A quantidade de picaretas (brasileiros que se aproveitam da língua em comum) oferecendo consultoria no assunto, mesmo sem experiência ou educação formal na área, é assustadora. Se a língua for um entrave na vida desse brasileiro, ele fica amarrado aos compatriotas que possivelmente não têm uma visão real do mercado local.  

E dessa maneira entra outro viés que acho um perigo: com o foco em trabalhar somente para a comunidade de brasileiros no exterior, esses aspirantes a empreendedores se esquecem de aprender o idioma local, a fazer um curso no país que os capacitem para conseguirem um emprego no mercado formal. Por que não tentar também outros caminhos? Porque no final do dia, uma complementação dos estudos no país escolhido para viver e fluência no idioma local podem trazer, em muitos casos, muito mais independência financeira do que ir por um caminho tão desconhecido. 

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