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Mirela Filgueiras

Jornalista, com especialização em Teorias da Comunicação e da Imagem. Tem experiência nas áreas de webjornalismo, assessoria, rádio e televisão. Estuda as relações entre cibercultura e jornalismo

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O erro do PT em não combater o charlatanismo neopentecostal

A esquerda não pode ser condescendente com evangélicos de extrema-direita. É preciso combater este adversário político expondo todo o estelionato religioso de seus líderes. Não devemos também tratar fiéis que espumam preconceitos como pessoas humildes, que são enganadas pelo pastor, e sem responsabilidade pelo ódio e mentiras que propagam

(Foto: Agência PT)
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Haddad, durante a campanha eleitoral de 2018, foi muito corajoso e certeiro em chamar o líder da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), Edir Macedo, de charlatão: “Sabe o que é o Bolsonaro? Ele é o casamento de um neoliberalismo desalmado, representado pelo Paulo Guedes, que corta direitos trabalhistas e sociais, com um fundamentalismo charlatão do Edir Macedo. Sabe o que está por trás dessa aliança? Em latim chama Auri sacra fames, fome de dinheiro. Só pensam em dinheiro.” 

Haddad foi coerente, pois as pautas progressistas da esquerda são antagônicas às pregações da maioria dos pastores neopentecostais que incitam o preconceito e, consequentemente, a violência contra mulheres, LGBTQs, outras religiões (principalmente as de matriz africana) e contra a própria esquerda. 

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Agora, ao buscar uma reaproximação, o PT corre o risco de ser novamente chantageado por oportunistas da fé e ainda promover um adversário político, os líderes das igrejas neopentecostais; ao invés de combater a raiz do problema: o charlatanismo religioso. 

O PT também perde a oportunidade de se posicionar contra a disseminação do machismo, da homofobia e das fake news com ideais da extrema-direita, feita por muitos pastores entre os fiéis. 

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Plano de Poder

Edir Macedo já deixou claro no livro Plano de Poder que seu objetivo é chegar à Presidência da República: "Deus tem um plano político para os fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus e para os evangélicos que sejam seus aliados: governar o Brasil."

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De acordo com um trecho do livro, lançado em 2008: "Tudo é uma questão de engajamento, consenso e mobilização dos evangélicos. Nunca, em nenhum tempo da História do evangelho no Brasil, foi tão oportuno como agora chamá-los de forma incisiva a participar da política nacional", escreve Macedo, estimando em 40 milhões a comunidade de evangélicos no país. "A potencialidade numérica dos evangélicos como eleitores pode decidir qualquer pleito eletivo, tanto no Legislativo, quanto no Executivo, em qualquer que seja o escalão, municipal, estadual ou federal" (AGÊNCIA O GLOBO, 2008).

Evangélicos e Bolsonaro 

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De acordo com a pesquisa do Datafolha, datada de 25 de outubro de 2018, que apurou as intenções de voto para o segundo turno, a diferença entre Haddad e Bolsonaro, no eleitorado evangélico, foi de mais de 11 milhões de votos.

E o apoio continua: “A bancada evangélica é hoje a principal base de sustentação do governo e Bolsonaro tem atendido suas reivindicações desde que assumiu o governo. A influência de líderes evangélicos sobre o Palácio do Planalto é cada vez maior e o próprio Bolsonaro já disse que quer tê-los por perto na administração.

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As igrejas evangélicas já anunciaram que vão ajudar Bolsonaro a coletar as quase 500 mil assinaturas necessárias para criar seu novo partido, o Aliança pelo Brasil.” (BRASIL247, 2020).

Da política para o judiciário 

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Dados oficiais da Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional apontam que o total da bancada evangélica seria de 203 parlamentares, sendo 195 deputados federais e oito senadores.

Hoje, os evangélicos formam a terceira maior bancada do Congresso Nacional. Em primeiro lugar está a Frente Parlamentar da Segurança Pública, composta por 304 representantes; em segundo, a Frente Parlamentar da Agropecuária, com 257 congressistas. Juntas, elas formam a bancada BBB (boi, bala e bíblia).

Com o domínio do poder legislativo já avançado, os evangélicos querem agora ampliar seus territórios para o poder executivo e judiciário. 

De acordo com a pesquisadora e estudiosa da atuação política dos neopentecostais no Brasil, a professora Christina Vital, da Universidade Federal Fluminense, a estratégia evangélica é ocupar o Executivo Federal para chegar ao judiciário.

Em entrevista para a Folha de São Paulo, Vital declarou: “A gente acompanha o crescimento de mobilização de juízes evangélicos ou sensíveis à causa evangélica na Associação de Juristas Evangélicos, que se espelha na Associação de Juristas Católicos, da qual Ives Gandra Martins é o grande representante.

Desde pelo menos 2006, o Judiciário tem sido o Poder que vinha possibilitando a garantia de direitos de algumas minorias, direitos esses ameaçados, digamos assim, pelo comportamento legislativo. Os evangélicos falam de uma judicialização da política e eles estavam se organizando para combatê-la.”

Terrivelmente evangélico

Em julho de 2019, durante discurso em culto evangélico na Câmara dos Deputados Federais, Bolsonaro declarou: "Muitos tentam nos deixar de lado dizendo que o estado é laico. O estado é laico, mas nós somos cristãos. Ou para plagiar a minha querida Damares: Nós somos terrivelmente cristãos. E esse espírito deve estar presente em todos os poderes. Por isso, o meu compromisso: poderei indicar dois ministros para o Supremo Tribunal Federal. Um deles será terrivelmente evangélico".

A luta é política e não religiosa

A esquerda não pode ser condescendente com evangélicos de extrema-direita. É preciso combater este adversário político expondo todo o estelionato religioso de seus líderes. Não devemos também tratar fiéis que espumam preconceitos como pessoas humildes, que são enganadas pelo pastor, e sem responsabilidade pelo ódio e mentiras que propagam. 

Devemos sim tratá-los pelo que são: adversários políticos com um plano de poder em curso.

Referências:

AGÊNCIA O GLOBO. Edir Macedo revela plano político em livro. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/edir-macedo-revela-plano-politico-em-livro-b6szo3aa5rx7he0tu47glmjwu/>. Acesso em: 13 jan. 2020.

BILENKY, Thais. Estratégia evangélica é ocupar o Executivo para chegar ao Judiciário, diz pesquisadora. Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/poder/eleicoes-2016/2016/10/1827942-estrategia-evangelica-e-ocupar-o-executivo-para-chegar-ao-judiciario-diz-pesquisadora.shtml>. Acesso em: 13 jan. 2020.

BRASIL247. Bolsonaro quer subsidiar conta de luz de igrejas evangélicas. Disponível em: <https://www.brasil247.com/brasil/bolsonaro-quer-subsidiar-conta-de-luz-de-igrejas-evangelicas>. Acesso em: 13 jan. 2020.

CÂMARA. Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional. Disponível em: < https://www.camara.leg.br/internet/deputado/frenteDetalhe.asp?id=54010>. Acesso em: 13 jan. 2020.

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