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Marconi Moura de Lima Burum

Mestrando em Direitos Humanos e Cidadania pela UnB, pós-graduado em Direito Público e graduado em Letras. Foi Secretário de Educação e Cultura em Cidade Ocidental. Trabalha na UEG. No Brasil 247, imprime questões para o debate de uma nova estética civilizatória

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O fascismo líquido de Bolsonaro e a destruição do Brasil

Ao que estou chamando aqui de fascismo líquido, especificamente no caso brasileiro, não é senão o fascismo atípico – piorado – do tempo de Jair Bolsonaro

(Foto: Reprodução)
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Por Marconi Moura de Lima

Primeiramente, peço licença a Zygmunt Bauman para pegar emprestado seu conceito de liquidez. Particularmente, tangível ao que chama por modernidade líquida, Bauman vem nos dizer que vivemos os tempos da volatilidade relacional. Trata-se, sobretudo, após a Segunda Guerra Mundial, de um espaço histórico em cujas relações são frágeis, forjadas no efêmero. Ademais, as transformações rápidas e imprevisíveis conjugam uma certa instabilidade das ideias e do agir das pessoas. Portanto, uma dialogia volúvel.

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Para entender por comparação, vejamos a globalização e o capitalismo, dois potentes “produtos” desse tempo. A primeira, por mais que nos aproxime (os seres humanos dos diferentes continentes e culturas), produz relações que se evaporam na (não) densidade de todas as estéticas. Já o capitalismo, por mais que permita acesso a bens de consumo e tecnologias, além de serem produtos descartáveis (ou de curta duração; ou a obsolescência vazia), tornam-nos adeptos do fugaz. O ter é mais importante que o ser; as coisas são mais importantes que as pessoas; o bem-estar é mais importante que o bem-viver. Tudo é maleável, menos a pressa e a violência – da nova humanidade. No final de tudo, o que interessa é o lucro, variável produzida pela competição e geradora do acúmulo concentrado; fatoração do descarte dos sujeitos e suas subjetividades (sensações, prazeres, necessidades etc.). Liquidez estrutural.

Ao que estou chamando aqui de fascismo líquido, especificamente no caso brasileiro, não é senão o fascismo atípico – piorado – do tempo de Jair Messias Bolsonaro. (Antes de contextualizar este, vamos brevemente falar do fascismo histórico – a servir de comparação, ao final.)

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O fascismo “sólido”

O fascismo típico[1] é um movimento que vem produzir um regime de Estado da crueldade, da perseguição e do alheamento. Isto é, o outro que não seja pertencente à ideologia, raça, crença dos fascistas, ou não existe, ou é coisa, portanto, é o não-sujeito, sujeito a todo tipo de violência, de agressão, de tortura ou mesmo de morte, portanto, um regime autoritário. Mas também o é um movimento de sedução, em cuja força do líder pretende ser a grandeza da nação, suas conquistas e sua riqueza. 

Enquanto localização histórica, os maiores exemplos do fascismo estatal podem ser observados nos governos de Benito Mussolini (Itália a partir de 1922) e de Adolf Hitler (que assume o poder na Alemanha em 1933). Seus governos são considerados totalitários, forjados no terror e medo permanentes. Ao mesmo tempo, numa ideia ultranacionalista que convence parte de suas populações (que não operam pela cognição do medo) de que os valores da família, da nação etc., são os que importam realmente à riqueza estético-civilizatória. Detalhe: uma das principais estratégias do fascismo é usar a religião como mecanismo para manipular os cidadãos (tido como “de bem”). Ou é, portanto, a persuasão, ou a força (o terror) a mola motriz de sustentação do fascismo enquanto mecanismo de “organização” estatal[2].

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Essa proposta de fascismo “líquido”

Feito este resumo bem tacanho acerca do fascismo clássico, continuemos a debater o Brasil contemporâneo. Isso que estou a chamar de fascismo líquido tem, sem sombra de dúvidas, as simetrias e relações com o fascismo “sólido”. O fascismo dos bolsonaristas mantém o requinte de crueldade do sistema totalitário convencional, no entanto, ganha alguns ingredientes a mais (para piorar o que já é horrível). Entre estes ingredientes, cito três bastante deprimentes: i) a corrupção vulgar; ii) a moral pornográfica; e iii) a estupidez zurra. Explico-as um pouco mais abaixo.

As 3 diferenças deste fascismo brasileiro

O Brasil sempre teve em sua direção política uma preponderância de agentes corruptos. Infelizmente, são raras as exceções de políticos (e mesmo, alguns servidores-chave nas instâncias de poder jurídico) que ocupam os cargos importantes da República a serem honesto em todas as dimensões que esta palavra venha produzir polissemia. Todavia, jamais vimos no Brasil bolsonarista uma prática corruptiva tão amadora e tão perversa ao mesmo tempo, que confunde os sistemas de enfrentamento. Para citar apenas dois exemplos: no pior momento da pandemia da COVID-19, os homens estratégicos do governo Bolsonaro tentaram torrar trilhões roubando vacinas (o direito de viver das pessoas nessa que é a pior tragédia da humanidade). Só não chegaram a roubar o dinheiro todo porque a CPI do coronavírus no Senado descobriu o fluxo do crime e conseguiu frear. Ficamos imaginado o genocídio ainda maior da população se estes trilhões de reais tivessem sido desviados, inibindo a chegada das vacinas nos 5.570 municípios do País.

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O segundo exemplo é o dinheiro da educação que pastores evangélicos associados ao então ministro Milton Ribeiro estavam a furtar da sociedade a partir de convênios com as prefeituras “parceiras”. O curioso desse modelo foi sabermos que estes pastores, ora pediam para transformar em barras de ouro, ora outra para comprarem Bíblias Sagradas na tentativa de lavar a grana. Existe coisa mais vulgar que isso? Não basta roubar o dinheiro da educação; era necessário usar o nome (e a Palavra) de Deus amoitar o recurso desviado.[3]

Sobre a moral pornográfica, o Chefe da Nação afirma ser um homem de família, um puro religioso imaculado. E todos os seus asseclas vão na mesma direção do discurso da pureza, da quase divindade na Terra. Santos do pau oco! Bolsonaro afirmava que, quando deputado, mesmo tendo apartamento em Brasília, usava o dinheiro do auxílio-moradia da Câmara para “comer gente”. Além da frase ser vulgar, carrega outras duas semânticas: 1) é grosseiro com a interlocutora, a jornalista que o indagava sobre a malversação do dinheiro público; e 2) e ele era casado, não sei exatamente se era a primeira, a segunda, ou a sua terceira esposa, portanto, Bolsonaro traia sua companheira. Que homem de bem autêntico faz essas coisas? 

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Vejamos. Não tenho nada a ver com a vida pessoal do Bolsonaro. Contudo, como falar em homem de família que comete todos os tipos de safadeza possíveis? Nada do que Bolsonaro, ou sua gente diz, pode carregar algum conteúdo de verdade. Regina Duarte e os sertanejos (em sua maioria) detonam a Lei Rouanet e os artistas que dela se utilizam para levar cultura ao povo brasileiro. A primeira terá de devolver cerca de 320 mil aos cofres públicos porque sua prestação de contas ao uso do dinheiro não foi aprovada pelos técnicos do próprio Governo Federal. Os segundos (que vergonha!), estão sendo investigados por suposta rachadinha de verba investida (são milhões de reais) em shows que custariam bem menos que o contrato combinado. Detalhe: a maior parte destes recursos são de emendas parlamentares do orçamento secreto que compra deputados e senadores no Congresso Nacional.

Nada do que essa gente fala se escreve! Queimam a língua todos os dias, ou com suas mentiras, ou com suas hipocrisias, ou com a falsa moral que se desmancha no primeiro assédio sexual e nas cenas desmontadas de suas fake news.[4]

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Quanto à estupidez: não é somente a grosseria, todavia, o aspecto zurro mesmo que serve a este fascismo, feito de ações e decisões pouco ou nada inteligentes. Ou seja: são burros mesmo (com respeito aos animais de quatro patas).

Por mais que as falas e determinações do Bolsonaro se imprimam sob um determinado método, ao fim e ao cabo, são gestos de gente sem noção. Exemplo: quando quis “assustar” os deputados com um desfile de tanques de guerra na Esplanada dos Ministérios bem na hora da votação da norma que instituiria o voto em papel. Os tanques pareciam carcaças velhas fumaçando pra todo lado e “matando” de vergonha o País, perante o mundo e perante o Congresso Nacional. Ou quando chamou mais de 50 embaixadores para achincalhar as eleições brasileiras. Além de mentir a um seleto público de gente inteligente – que sabe quem é o Chefe de Estado do Brasil: o protótipo estragado do Pinóquio –, ainda cometeu uma série de equívocos de protocolo e fala na formalidade do cargo. Pegou tão mal! Várias nações estrangeiras condenaram a postura do Presidente do Brasil que – como pode? – detonou seu próprio país.

Síntese deprimente – mas de esperança intergeracional

O que faz esse tipo de fascismo líquido e fugaz, além de mostrar sua ganância corruptiva fútil, é se deslocar a uma sequência de vulgaridades (a vulgaridade do viver, do agir e mesmo do pensar). Vulgaridades que são libidinosas, mas não somente; são burras; e são forjadas em dinheiro – tipo: ladrões de posto de gasolina, contudo, que dão a sorte de ser tornarem, um, Presidente da República; outros, ministros, presidentes de autarquias e estatais como a Palmares, a Caixa Econômica, a Petrobras, e todos os cargos que esses “trombadinhas” de terno e gravata conseguiram alçar. (Todos, atores desse fascismo “apequenado”.)

Enfim, ficaríamos horas relatando exemplos de pouca vergonha desse Governo e seu governante-mor. Contudo, a intenção deste texto é, ligeiramente, oferecer um instrumento ao debate. Precisamos deixar registrado para os livros de história a tragédia desse tempo. Sabemos que esses seres fascistas sempre vão existir, em minoria evidentemente. Contudo, trabalhemos para que nunca mais ascenda ao poder gente como Jair Messias Bolsonaro, e que o fascismo líquido[5], além das características vulgares que expusemos que o torna volátil, também seja efêmero o seu existir no platô institucional da República. Isto é, que este inferno se acabe logo, ou retorne para as cavernas meta-religiosas, mas que saia do Brasil. Chega!

.......................…………..

[1] Se quisermos produzir a mesma analogia, podemos, grosso modo, chamar de fascismo sólido, este o historicamente estudado dos regimes de Mussolini e Hitler.

[2] Aqui é importante dizer que o fascismo habita o coração e a cognição de alguns sujeitos que, mesmo sem poder político, fazem de suas práticas diárias, de seus discursos e mesmo os hábitos, o sentimento de repulsa do outro; a não-alteridade; a não-empatia. Inclusive estão lá dentro dessas famílias, da Igreja que participamos, na mesa do bar conosco (é preciso capturar estes discursos e ações). De tempos em tempos (por nossa distração) alguns destes fascistas tomam o poder. O resto você já pode imaginar: sensação de medo e insegurança permanentes; a política à serviço da morte, seja diretamente; seja por ausência de políticas que cuidem da vida das pessoas.

[3] Temos certeza de que não faltam exemplos de roubo nesse Governo. A compra de leite condensado, próteses penianas e outras futilidades pelas Forças Armadas; os rombos nos cartões corporativos – que devem ser gastos com “viagras” e tanto mais ao prazer dessa gente porta. Enfim, tem tanto mais a ser desvendado (e em breve saberemos).

[4] O que dói ainda mais em escopo do mal desse Governo é que 33 milhões de pessoas passam fome; milhões estão desempregados; não há um programa, ou um projeto inovador; somente inauguram obras iniciadas em outros governos (interrompidas pelo Golpe de 16). Ou seja: além de fascistas, são incompetentes. Quatro anos sem mostrar nada, absolutamente nada de bom...

[5] Há um paradoxo complexo nesse tipo de fascismo. Como nem tudo é método mesmo parecendo ser, é difícil prever os eventos. Não há uma sequência racional ou lógica. Não há um protocolo mínimo de civilidade ou de urbanidade. O nacionalismo e os gestos de força são falaciosos e confundem os zurros seguidores, mas os mantém diletantes (ou delirantes) a este tipo de terror falsete (não menos cruel e mortificador). Ou seja: guardam a dimensão selvagem do fascismo típico – com esse requinte de tortura e permanente beligerância –, entretanto, abarca uma patologia, tipo, pereba: não chega a ser terminal, mas também não nos deixa ter paz... 

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