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O fim do Fascismo e o fim dos fascistas

"Bando fascista só desaparecerá quando a maré popular elimine as próprias fontes históricas do próprio fascismo", escreve Francisco Teixeira

(Foto: Reprodução/TV Globo)
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Por Francisco Teixeira 

Na Alemanha a decepção com o Terceiro Reich só chegou com o avanço da Frente Russa, a partir de 1943.

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Em 1945 ninguém mais era nazista. Só Hitler era nazista. O único culpado. O povo foi "conduzido", seduzido, "hipnotizado" como o Césare do Gabinete do Doutor Caligari....de Robert Wiene. Na Itália só depois que os americanos desembarcaram na Sicília, em 1943, que a doutrina de "O Duce nunca erra" foi posta em questão  e, assim mesmo, num único ponto: a aliança com Hitler foi errada, não o regime fascista. Em 1943 o Almirante Badoglio, genocida da Etiópia, emerge como democrata e resistente.

Antes das tropas nazistas chegarem toda a Itália era feliz.

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Na Alemanha toda uma corrente histórica só fala em "Ditadura Hitlerista", "Regime Hitlerista" ou "Partido Hitlerista". O Nacional-Socialismo sai de foco. Como movimento político de amplas bases sociais a "inteligência" do "nazismo de massas" ( e todo fascismo para ser um projeto de poder é necessariamente um movimento de massas) é descartado, ignorado, em favor da tese de uma gangue de criminosos e pervertidos que tomaram o Estado por "assalto" e "seduziram" as massas com seus artifícios de propaganda. Essa "sub-tese da sedução das massas" transforma todos em vítimas iguais do fascismo. Todo um povo ( um terço dos alemães, cerca 70% dos italianos, metade da Espanha, quase 90% dos poloneses) não eram, afinal, fascistas. Ao marcharem com o Duce, apoiarem o partido, delatarem amigos e vizinhos, eram tão somente sonâmbulos. Um país, um mundo, de Cesare sob as ordens de satânico Doutor Caligari.

1945 seria, assim, a libertação não só dos sobreviventes de Auschwitz ou Treblinka, da destruição da República de Soló, como também dos "milhares" de alemães (italianos, poloneses, croatas ou húngaros) "escravizados" pelo fascismo.

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Democratas, republicanos, judeus e comunistas que lutaram desde a "Hora Zero" até a 25a.hora contra os fascistas são igualados àqueles que tiraram proveito do Terceiro Reich, do "Stato Totale" de Mussolini, da Regência de Franco ou do Estado Nacional de Vichy.

Todos vítimas num fascismo tornando  maiorias, de súbito, em uma "gangue" de pervertidos.

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Muitos apontarão uma "doença moral", uma sociopatia política curada pela derrota, negando a análise histórico-política profunda e a presença de adeptos, militantes, colaboradores e delatores em todos escalões da sociedade. Aos milhares, num átimo, os cegos passarão a ver a face do verdadeiro fascismo.

Desnazificação incompleta e tão somente de dirigentes mais notórios. Os delatores, torturadores e financiadores ficarão impunes e, mesmo, imediatamente incorporados ao(s) Estado(s) sucessore(s).

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Alemanha, Itália?

No conjunto de ditaduras cujo o processo de transição foi pactado, conssensuado, entre os velhos grupos dirigentes e a Resistência, aplica-se o mesmo método de "pacificação nacional". Como em "Roma, cidade aberta", um Roberto Rosselini emerge como construtor da memória pacificada apresente católicos, comunistas e republicanos unidos contra o fascismo. Somente um ator/memória reconstruída é profascista e colaborador dos alemães: uma mulher, fraca, prostituída e drogada, imagem pálida de uma Itália "enganada" pelo anjo mau nazista.

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Pier-Paolo Pasolini ri às escancaras da benevolência.

A Resistência é diminuída, ou mesmo lançada às margens da História. Essa "enquadrada" pelos limites da própria ampliação do demos da Democracia aceita as versões dulcificadas de todo um povo igualmente formado de maquis e partiggiani. 

Faltaram a última sessão de cinema de "Le chagrin et la Pitie" do inoportuno Marcel Ophuls.

"Todos sempre foram anti-fascistas": contudo responsáveis, tementes a Deus e respeitosos da propriedade privada.

Pelo menos até que chegue a jovem Historiadora - essa "garota insuportável!" - para remexer em velhos arquivos e fazer perguntas  descabidas numa "Cidade sem passado" descrita por Michael Verhoeven. Todo passado deve ser página virada ou será insuportável para os delatores, colaboradores e perpetradores. O fascismo não tem memória. Odeia a História e quer no seu lugar apenas o Mito.

Urbi et orbi: Decreto da Anistia na Espanha, em 1977, e seus pactos com o franquismo órfão e moribundo - "esqueçam as covas comuns, esqueçam os fuzilamentos em massa e pinte de branco os muros de Gernika!".

Anistia no Brasil, em 1979, e suas cláusulas pétreas: permita-me, assim, a que se duvide da tortura, dos sequestros e dos voos da morte! Recusa da Constituição popular e democrática no Chile nesse ano 2022 - acuse o povo de não saber esquecer!

Transições falhadas que não punem os crimes contra a humanidade e igualam algoz e vítima.

Um fascista recovery pronto para a próxima oportunidade.  Perdão, entendimento e conversão sincera à Democracia não são hábitos do fascismo. E é o que permite entender a natureza do fascismo como "Ressurgência" e não, exatamente, como populismo de Direita, ultra-nacionalismo, radicalismo nacional ou quaisquer outros conceitos ad hoc. Nada há de "Neo-fascista" hoje: continua sendo intrinsecamente racista (nega qualquer alteridade que deseja "extirpar"), um nacionalista de bandeira, se enrola num manto nacional mas esquece o povo faminto e dilapida o patrimônio nacional e um militarista de vitrine, enfeitiçado por marchas, flâmulas, medalhas, hinos e gritos militares. Nada além de um culto falocrata ao ego frágil e partido, um recalque de desejos indizíveis.

Um fascista é e permanece fascista até que a realidade da transformação concreta e material do seu mundo, superando a transcendência metafísica e identitária, niveladora de todos ou pronta para "mandar para a Ponta da Praia o diferente.  O bando fascista só desaparecerá quando a maré popular elimine as próprias fontes históricas do próprio fascismo.

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