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Paulo Moreira Leite

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ONG bilionária dará superpoderes a Lava Jato

"Através de uma Fundação, o Ministério Público monta um ciclo de poder paralelo típico de regimes de exceção: uma máquina que apura a denuncia, aponta os culpados e por fim decide o que fazer com os recursos de seu trabalho", escreve o jornalista Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia; PML lembra declaração do professor de Direito da USP Gilberto Bercovici, que disse estar "tudo errado aqui"; "Ministério Público não tem a atribuição de administrar recursos devidos ao Estado nem lhe cabe definir se o dinheiro deve ser empregado na educação, na saúde ou em cursos de filosofia", diz Bercovici

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Por Paulo Moreira Leite, para o Jornalistas pela Democracia - Num país que há cinco anos paga uma pesada contrapartida à Lava Jato, seja  na economia, seja na democracia, acaba de surgir uma novidade espantosa.

Pretende-se criar uma Fundação para administrar um fundo bilionário, a ser alimentado por multas, indenizações e delações premiadas apuradas na operação. 

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"Serão milhões de reais por ano," admite Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa, em entrevista a Folha de S. Paulo.

Como tantas novidades importadas pela Lava Jato, esse projeto nasceu de um acordo entre o Departamento de Justiça dos Estados Unidos e o Ministério Público. Até o momento, a Petrobras já entregou um cheque de R$ 2,5 bilhões para a Procuradoria, no Paraná, que assim se tornou curadora de um patrimônio superior ao faturamento da maior parte das empresas privadas do país. 

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Metade dessa quantia será empregada no ressarcimento de investidores que buscam compensação na Justiça -- e foram atendidas pela rendição do ex-presidente Pedro Parente, que aceitou pagar uma indenização de US 10 bilhões cobradas por investidores sem aguardar que a Justiça norte-americana julgasse possíveis recursos. 

A outra parte será destinada a criar uma Fundação, "na qual membros e entidades da sociedade civil irão selecionar projetos anti-corrupção a serem financiados com dinheiro público", descreve a Folha.

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A bilionária novidade encontra-se aqui. Nos regimes republicanos, a legislação determina que os recursos que tem origem na corrupção devem ser devolvidos ao Tesouro, o órgão da administração autorizado a recolher e redistribuir dinheiro público. Uma nova partilha deve obedecer a orientação do Poder Executivo -- que é eleito de quatro em quatro anos, para definir prioridades do Estado, num ritual que inclui a aprovação pelo Congresso.

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Através de uma ONG cria-se um atalho para o acesso direto a essa fortuna e fecha-se um ciclo de poder paralelo típico de regimes de exceção, numa máquina política que apura uma denúncia, aponta os culpados e resolve o que fazer com os frutos de seu trabalho.  

"Está tudo errado", explica o professor Gilberto Bercovici, titular de Direito Econômico e de Economia Política da Faculdade de Direito da USP, em entrevista ao 247.

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"Em primeiro lugar, esses recursos nem poderiam ter sido retirados da Petrobras. A empresa nada deve, a ninguém. Não tem uma condenação no Brasil. Foi vítima da corrupção".

"Em segundo lugar", acrescenta o professor, "se estamos falando de recursos públicos, eles devem ser entregues ao Estado, que tem o dever de zelar para que sejam aplicados devidamente".

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Por fim, diz Gilberto Bercovici, "não cabe ao Ministério Público definir se o dinheiro deve ser empregado na educação, na saúde ou em cursos de filosofia. A escolha de prioridades é uma atividade tão nobre, da vida pública, que está reservada a autoridades eleitas, com mandato para expressar a vontade popular. O Ministério Público tem muitas atribuições em nossa Constituição. Não lhe é permitido, porém, definir o destino dos gastos públicos".

Alguma dúvida?

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