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Pedro Desidério Checchetto

Psicólogo clínico e mestre em psicologia social pela PUCSP. Realiza atendimentos na rede de atenção psicossocial no município de São Paulo e em consultório particular.

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Pandemia escancara desigualdade social entre jovens

O impacto comportamental da pandemia trás reações completamente diversas e se quisermos discutir o Brasil a real é a sério, esses aspectos tem mais que serem fortemente destacados. Pra ontem

(Foto: Reprodução)
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Em recente levantamento feito pelo Conselho Nacional de Juventude, o Conjuve, que ouviu mais de 33 mil jovens entre 15 a 29 anos de todas as regiões do país, quase 30% dos jovens disseram ter pensado em abandonar os estudos quando a pandemia passar. Entre os que trabalham, quatro em cada 10 indicam ter diminuído ou perdido a sua renda e cinco em cada dez jovens lidam com a perda de renda de suas famílias.

Será que é possível universalizar o termo juventude quanto a faixa etária ou em uma condição em comum no Brasil? Percebo esse constraste quando recebo jovens no consultório e quando os atendo na Rede de Atenção Psicossocial dentro do SUS. Também na atuação com alunos de escolas particulares e públicas no município de São Paulo. Questões como “o que fazer no vestibular” ou no atual contexto "não posso ver minha namorada devido a quarentena" se contrapõem com a atuação no tráfico, os bailes e a preocupação da família e um alto índice de evasão escolar (levantamento feito pela Pnad indica que em 2017 apenas 46,1% de jovens de 25 anos haviam concluído a educação básica obrigatória).

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Em pesquisa relatada pelo neurocientista estadunidense Carl Hart em seu livro "Um preço muito alto: a jornada de um neurocientista que desafia nossa visão sobre drogas" (2014), foi analisado o número de palavras ditas a bebês com idades de sete meses a três anos de famílias pertencentes a três classes socioeconômicas: profissionais de classe média, operários e pessoas dependentes do auxílio-desemprego. Como resultado da pesquisa, as famílias chefiadas por profissionais liberais passavam mais tempo estimulando os filhos, explicando- lhes o mundo, ouvindo suas perguntas e respondendo a elas. Para cada palavra de desencorajamento, havia cerca de cinco palavras de elogio ou estímulo. Nas casa de operários também haviam mais palavras de estímulo que proibições, com uma proporção já não tão favorável. Nas famílias de mais baixa renda, entretanto, as crianças ouviam em média dois "nãos" ou "não faça isso!" para cada expressão positiva.

Ainda na mesma pesquisa o autor declara que os filhos de profissionais liberais ouviam em média 2.153 palavras diferentes por hora, enquanto os filhos de pais dependentes da assistência social eram endereçadas apenas 616 palavras. De maneira que antes mesmo de iniciar a frequência na escola, os filhos de profissionais já tinham ouvido cerca de 30 milhões de palavras a mais que os filhos de famílias dependentes da ajuda do Estado, tendo vivenciado muitas vezes mais interações verbais positivas com os adultos.

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É possível aludir, de acordo com a pesquisa, que a camada mais pobre da população logo em seus primeiros anos de vida já inicia com desvantagem seu processo educacional e seus estímulos afetivos. Não esqueço a fala de uma adolescente em uma escola de classe média de São Paulo dizendo sobre o seu incômodo referente a sua família “eu mal comecei a aprender violão e a minha família diz que eu tenho de ir pra Brodway”. Da ponte pra lá, as questões que se apresentam são outras.

Dentro desse quadro, o impacto comportamental da pandemia trás reações completamente diversas e se quisermos discutir o Brasil a real é a sério, esses aspectos tem mais que serem fortemente destacados. Pra ontem.

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