Papagaio mi(e)diático
A expressão maquiavélico vulgarizou-se, mas da maneira em que é entendida, encontra-se bem distante da proposta do Secretário de Florença
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“O tempo é o mais sábio dos conselheiros”. (Plutarco)
O avanço da tecnologia tem promovido o crescimento da informação. Mas ao mesmo tempo patrocina a falta de conhecimento. Formando cada vez mais uma sociedade possuidora de informação sem capacidade de reflexão. Para tanto, basta olhar a quantidade de comentários que são feitos com relação a determinados livros ou autores. Geralmente, aos que são considerados mais populares. Não significa dizer que a popularidade reverte-se em sua leitura. Na verdade, grande parte da população que se diz seguidora ou admiradora, nunca leu nada escrito pelos mesmos, ou quando fizeram, não tiveram capacidade interpretativa.
Há autores que são citados, muitas vezes totalmente fora do contexto. Antes de adentrarmos no problema com relação a alguns autores, lembremos exclusivamente da Bíblia. Não é difícil encontrarmos comentários a seu respeito, totalmente fora da sua proposta. Inúmeras passagens são comentadas, sem levar em conta a língua original, o momento histórico e o contexto do texto.
No que tange aos autores, iniciaremos com Platão. O principal discípulo de Sócrates tornou-se popular nos lábios do povo com a seguinte expressão: amor platônico! Na verdade, na forma em que é empregada, nada tem haver com o pensamento do grande filósofo ateniense. O fato também ocorre com Maquiavel. A expressão maquiavélico vulgarizou-se, mas da maneira em que é entendida, encontra-se bem distante da proposta do Secretário de Florença. Seguindo a mesma linha, encontramos João Calvino. Ao teólogo francês é colocado o estigma de ser o criador da doutrina da predestinação. Ora, Calvino não inventou nenhuma doutrina teológica e só os que nunca leram suas obras enfatizam a referida doutrina. Quem já teve a oportunidade de lê-lo e entende-lo, percebeu que em seus escritos o foco principal não é tratar da tão enfatizada doutrina. No mesmo grupo, é possível enquadrar Karl Marx. Sem nenhuma dúvida, é o filósofo mais amado e ao mesmo tempo o mais odiado. Grande parte dos que amam suas ideias ou as detestam, nunca leram se quer uma obra de sua autoria. Seria bom que seguissem o conselho de Lênin quando afirmou ser impossível alguém se denominar marxista, sem que tenha lido a Ciência da Lógica escrita por Hegel. Por fim, lembremo-nos de Max Weber. Muitos afirmam que ele disse que o protestantismo foi o criador do capitalismo. Certo disse o saudoso Robinson Cavalcanti, que a firmação é uma tremenda asneira, já que o capitalismo antecede o protestantismo.
O problema é que muitos não são leitores de absolutamente nada, mas papagaios mi(e)diáticos. Apenas repetem o que escutam.
Hely Ferreira é cientista político.
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