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Marcos Coimbra

Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

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Pesquisas no Brasil e nos EUA subestimaram o voto da extrema direita

Sociólogo e diretor do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra diz que as pesquisas “erraram feio” nas eleições municipais em todo o Brasil. Ele destaca que “é a segunda eleição seguida em que o problema aparece” e que não é algo exclusivo do Brasil. “Na última eleição nos EUA, o desempenho das pesquisas foi muito ruim, merecendo críticas e zombarias de todos os lados”

(Foto: Agência Brasil)
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Por Marcos Coimbra

O que aconteceu com as pesquisas eleitorais este ano? 

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No primeiro turno, em muitas cidades, foram mal. No segundo, nem se fala, erraram feio. Do Oiapoque ao Chuí, nenhum instituto de atuação nacional acertou. Como explicar tamanha incapacidade de apontar o resultado das eleições? 

É a segunda eleição seguida em que o problema aparece. Ele já havia ocorrido nas escolhas de governador em 2018, com resultados das urnas completamente diferentes do que as pesquisas de véspera e antevéspera previam. Em alguns estados, como Rio de Janeiro e Minas Gerais, as discrepâncias foram flagrantes, mesmo de institutos sérios, como o Ibope e o Datafolha. No Rio, pesquisa do Ibope, no dia 6 de outubro, apontava Eduardo Paes (DEM) com 26% e Witzel (PSC) com 10%, enquanto o Datafolha, na mesma data, indicava Paes com 23% e o candidato do PSC com 14%. No dia seguinte, na urna, Witzel obteve 41% e Paes ficou com 19%, menos da metade. Em Minas Gerais, a cinco dias da eleição, o Ibope indicava que Antônio Anastasia (PSDB) tinha 33% das preferências e Romeu Zema (Novo) alcançava 10%, enquanto o Datafolha, na quinta-feira, mostrava o tucano com 32% e Zema com 15%. Na urna, Zema recebeu 43% do voto válido, ficando Anastasia com 29%. 

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Este ano, tivemos um festival de equívocos, especialmente no segundo turno. Quem foi dormir no sábado achando que Manuela d’Ávila liderava as preferências em Porto Alegre (segundo o Ibope), viu o adversário derrotá-la por 10 pontos porcentuais no domingo. Quem achava que, em Fortaleza, Sarto (PDT), o candidato dos Ferreira Gomes, teria uma vitória tranquila, colocando 20 pontos de dianteira no Capitão Wagner (PROS), como dizia o Ibope, constatou que a margem foi de magros 3%. O Ibope imaginava uma eleição parelha em Vitória, com os dois candidatos com 50% das intenções de voto, mas o que vimos foi o Delegado Pazolini (Republicanos) vencer João Coser (PT) com 17 pontos de vantagem. 

Há um evidente problema com as pesquisas eleitorais no Brasil, que é de todos os institutos, não é recente e não foi eficazmente atacado de 2018 para cá. Mas não é algo exclusivo, que só existe aqui. Ao contrário.

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Na última eleição nos Estados Unidos, o desempenho das pesquisas foi muito ruim, merecendo críticas e zombarias de todos os lados. Em alguns aspectos, a situação é semelhante à nossa, mas pode ser considerada mais grave, pois lá não existe um quase monopólio de pesquisas para conhecimento público, como o da TV Globo, de quem depende a mídia praticamente inteira e que só compra do Ibope e do Datafolha. Nos EUA, há dezenas de fornecedores, amplamente utilizados por veículos de comunicação de âmbito nacional e regional. Todos, no entanto, erraram, em maior ou menor grau.  

As pesquisas norte-americanas acertaram no fundamental, prevendo a vitória de Joe Biden (D) no voto popular nacional e em alguns dos estados necessários a assegurar a maioria no Colégio Eleitoral. Mas foram surpreendidas pelo voto que Donald Trump (R) obteve em muitos desses estados, que acabaram se revelando mais competitivos do que o previsto. Em lugares onde a média das pesquisas dava a Biden dez pontos de frente, ele acabou tendo que comemorar vitórias na casa de décimos. A suposição de que o democrata receberia uma “avalanche de votos”, como muitas pesquisas de prestígio apontavam, mostrou-se falsa já nos primeiros minutos da apuração. 

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Os analistas americanos andam tentando entender o que teria acontecido, pois as pesquisas são, por lá, uma instituição central do sistema e da cultura politica (não fossem elas uma criação local). Um setor tão tradicional e tão presente no dia a dia do país não pode ficar com uma imagem tão enxovalhada quanto está. 

A melhor explicação dos erros dos institutos é o que literatura chama viés na não-resposta. Quer dizer que as pessoas que não concedem entrevistas são significativamente diferentes das que concordam, algo que, até pouco tempo atrás, não existia ou não afetava o desempenho das pesquisas. 

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Sua premissa sempre foi que aqueles que não dão entrevistas são iguais aos que estão dispostos a responder, mesmo se a pesquisa enfrentar uma taxa elevada de recusa. Atualmente, no entanto, em sociedades como a americana e a brasileira, em condições de intensa polarização e ideologização da opinião pública, isso não se sustenta mais. 

Há uma parte do eleitorado que se nega a participar de pesquisas, pelos mesmos motivos pelos quais hostiliza as instituições democráticas: os partidos, os políticos, a imprensa, o sistema eleitoral, os mecanismos do voto, o Judiciário e assim por diante. Não revelar o que pensa tornou-se elemento da identidade anti-política, particularmente entre pessoas de direita e ultradireita.    

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Nas eleições americanas deste ano, assim como nas municipais que acabamos de fazer, houve um erro sistemático nas pesquisas: tenderam a subestimar o voto em candidatos apoiados ou oriundos da extrema direita. Trump superou as previsões das pesquisas, assim como muitos candidatos conservadores a prefeito foram mais votados do que o projetado. Inversamente, houve uma superestimação do peso relativo do voto de centro e esquerda. Nem sempre são grandes os números dessas pessoas que menosprezam as instituições politicas, recusam-se a participar das pesquisas, mas votam. Em disputas apertadas, porém, podem ser decisivos.    

Há muita gente boa, nas universidades e nos institutos de pesquisa americanos, procurando resolver o problema, que pode atingir duramente a atividade. Não vai ser simples, pois não é fácil descobrir o que pensa quem se fecha em um silêncio raivoso. 

Podemos contribuir para a compreensão e o enfrentamento do fenômeno, sem fingir que tudo vai bem, como fizemos em 2018. Todos temos que reconhecer que não podemos chegar a 2022 como estamos, repetindo os erros de 2018 e 2020.  

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