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Ivan Guimarães

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Pobres e Ricos em Barra do Sahy

Todos que edificaram e os responsáveis pelas anistias concedidas, devem ser lembrados que tem parcela da responsabilidade pelo que aconteceu

Deslizamentos em São Sebastião (SP) (Foto: Sérgio Barzagui/ Governo do Estado de São Paulo)
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 A tragédia causada pelas chuvas no litoral norte de são Paulo encheu os jornais, Tvs e Internet.  Logo será esquecida, confundida com memorias de outras tantas tragedias semelhantes. Brumadinho, Petrópolis, São Sebastião. Tudo se resume a ter chovido fora da media.

 Eu conheço a região de São Sebastiao, onde está a Barra do Say, desde meus 18 anos. E gostava muito da Barra do Una (e de seu rio), praia ao lado de Juquey, mais desenvolvida e com um comercio mais diversificado. Poucos quilômetros adiante está a barra do Say, mais reservada e intimista, que junto com as duas anteriores compõe um conjunto belíssimo.

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 Nos anos 70 a começou a “descoberta" da região, com os então estudantes acampando e conhecendo a região, de São Sebastiao até Parati, já no RJ. Esses estudantes se formaram e passaram a comprar os terrenos dos pescadores, títulos de posse por usucapião, a preços de bananas. Com a pavimentação da estrada em 1984, o acesso a região melhorou muito, o que trouxe a solução de muitos problemas de abastecimento. O preço da terra subiu, os depósitos de material de construção se multiplicaram, a população cresceu.   

 Como a BR 101 passava por trás das praias, abriu-se uma imensa área para invasões e ocupações. Chamadas de Sertão (de boissucanga, de maresias, de juquey) por não estarem perto da  praia, eram dentro da mata tropical. Nessa área de ocupação é que está a Vila Sahy. Construída no solo mole da serra do mar, em cotas cada vez mais altas, as fundações de concreto se desprenderam com as chuvas e transformaram-se em ruinas. As cenas das agua, lama, carros e restos de casas descendo as ruas são chocantes e mostram  isso.

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 Claro que não foi só isso a causa da tragedia. A impermeabilização do solo e o assoreamento dos mangues (aterrados para aumentar as áreas secas dos bacanas, próximas ao mar) mudou o regime de trocas da agua doce que desce a serra com o  mar. Centenas de pequenos córregos foram  assoreados. Não havia para onde a agua da chuva que descia a serra correr. Os mangues não estavam lá;  Saiu por onde deu, pelas ruas.

 Não quero afirmar que a tragedia se deve a ocupação humana. A serra do mar sempre esteve sujeita a deslocamentos de terra. E a formas de construir casas mais adaptadas a região, mais leves.

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 A ocupação sem planejamento fez com que ela ganhasse essa proporção absurda. Cada um fez o melhor para si, mas isso não significou o melhor para todos. E a mais completa ausência do poder público em sua função fiscalizadora, deve ser lembrada como principal causa das tragedias que se repetem a anos. As pessoas que tinham essa função devem ser chamadas a responder, assim como os donos das casas que ajudaram a destruir a mata nativa e os mangues.

Onde estavam os satélites que nada registraram? Na verdade, nenhuma prefeitura controla o solo por satélites, drones ou qualquer coisa.  Existe uma profusão de tecnologias que poderia prever e eventos e evitar mortes. E esse municípios tem renda para isso, através dos royalties do petróleo. Sistemas digitais de alerta, de previsão e alarme existem em vários países. Aqui não.  Não há sirenes ou avisos. É mais fácil ficar onde já se conhece, com fornecedores tradicionais, “acostumados” ao jeito nativo. Nada de novo.  O Brasil é um País trágico, onde a vida humana vale muito pouco. e quem devia ser responsável finge não ser. E sai incólume.

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 Os bacanas que aterraram o mangue para fazer uma piscina, o dono da pousada que construiu um andar a mais, o mercadinho que não respeitou os recuos laterais, enfim todos que edificaram e os responsáveis pelas anistias concedidas, devem ser lembrados que tem parcela da responsabilidade pelo que aconteceu. Não são inimputáveis.

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