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Carlos Carvalho

Doutor em Linguística Aplicada e professor na Universidade Estadual do Ceará - UECE.

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Reabrir escolas na pandemia é indecente!

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Em meio ao caos que devasta o país, temos visto coisas pra lá de inacreditáveis. Coisas, na verdade, inimagináveis. E olhe que não falamos aqui de mulheres que são seguidas por borboletas, homens que se transformam em lobos ou pessoas que compram mansões com dinheiro que não possuem. Os estranhamentos são outros.

Entre tanta coisa estapafúrdia, não é que passamos a ver carreatas de caminhonetes de luxo e aglomerações de gente rica nas principais capitais do país, defendendo com unhas e dentes a abertura das escolas e, consequentemente, a volta presencial às aulas! Como dizem os mais jovens: “chocado”, pois nunca no Brasil, as pessoas que estão defendendo a abertura das escolas moveram um dedinho sequer para melhorar a qualidade do ensino que é oferecido no país. Essas mesmas pessoas, tomadas agora de indignação, jamais defenderam que alunos e alunas pobres tivessem direito à uma educação de boa qualidade. Também nunca defenderam que professores tivessem direito a um salário decente ou que não fossem acometidos de síndromes como a de Burnout, por exemplo, que afeta milhares de docentes, obrigados a trabalhar em condições hostis, sem conseguir pagar, sequer, as próprias contas.

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Como dizem nas redes: “o mundo não gira, capota”. E eis que estamos dentro do carro chamado Brasil, no exato momento em que ele capota. E em meio a primeira volta da capotagem eis que vislumbramos tais “paladinos da educação brasileira” lutando bravamente para manter suas empresas abertas. Não há nisso, obviamente, nenhuma preocupação com a educação das nossas crianças e jovens. Não sejamos ingênuos! A preocupação reside único e exclusivamente na manutenção do cofre cheio. Para tanto, é necessário que as escolas públicas reabram para, na sequência, se justificar a abertura das privadas. Assim também, as mães pobres podem mandar seus filhos ao matadouro, enquanto cuidam dos filhos do patrão, na segurança do lar. 

Como resultado da estupidez e da ganância dos donos do poder, professores e professoras estão morrendo de Covid-19 pelos quatro cantos do país. Manifestações de empresários e mães da elite são meramente oportunistas e visam apenas seus próprios lucros. Senão, vejamos: Quantas vezes vimos manifestações como as atuais, com o mesmo tipo de gente, em defesa dos direitos e melhores condições de trabalho para os profissionais da educação? Nunca na história desse país. Logo, a insistência pela abertura de escolas em meio à pandemia não implica na manutenção de empregos, na formação das nossas crianças ou qualquer outra coisa do tipo. Não é disso que se trata. 

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Aqueles que insistem nesse discurso oco e capenga prestam um desserviço à saúde pública e atentam contra a inteligência do cidadão. A possibilidade de se abrir escolas e mandar crianças, jovens, adultos e velhos para a morte não deveria nem ser ponto de discussão na agenda dos governantes. É vergonhoso que seja, pois consiste em desrespeito à dor de todos aqueles que estão perdendo parentes e amigos devido ao descaso do Estado. Falar em reabrir escolas no atual contexto, recorrendo a “estudos” pífios é, no mínimo, indecente.

É curioso que, reiteradas vezes, professores e professoras ouvem de coordenadores, diretores e donos de escolas que devem inserir a tecnologia, a Internet e o ambiente virtual em suas aulas. E assim os docentes o fazem, como prática comum em quase todas as aulas de todas as disciplinas, sejam em escolas públicas ou privadas. A chegada da pandemia empurrou as escolas para o ensino remoto. Contudo, veja você, há escolas que obrigam suas professoras e professores a se deslocarem em meio à pandemia até a escola e, de lá, bingo! fazer sua aula remota. Que “jênios”! diria Paulo Henrique Amorim. Ou seja, atividades remotas são bem-vindas, mas só quando as aulas são presenciais. Pense numa ignorância! Confunde-se, ainda, ressalte-se, escola com aula, quando se defende que aula só pode existir atrás dos muros físicos da escola. As aulas, todas elas, podem ser dadas de forma remota. Não há, assim, necessidade de reabrir escolas agora. Há, não se pode desconsiderar, prejuízos para estudantes pobres, que não possuem acesso à Internet nem equipamentos adequados. Não é por eles, no entanto, que as tais manifestações gritam.

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Assim, se as pessoas que estão aglomerando nas cidades, pressionando os governadores para que abram as escolas, estivessem em algum momento de suas vidas realmente preocupadas com a educação e, consequentemente com a formação cidadã do brasileiro, não teríamos chegado à atual situação. Muitos dos que agora defendem escolas abertas são os mesmos que defendem cidadãos armados, pretos presos ou mortos, remédios sem eficácia e terraplanismo. São pessoas preocupadas com seus próprios umbigos. Para elas, o bolso cheio fala mais alto que qualquer forma de razão. Se professores estão morrendo de Covid-19, que pena! Não são coveiros, dirão. Mortos, meus caros, não vão à escola. Mortos, como diz o poeta Francisco Carvalho, não jogam xadrez. Os vivos, ao contrário, exigem respeito, justiça e decência. Assim, enquanto durar a pandemia, as escolas devem permanecer fechadas, sim! A vida deve ser preservada a qualquer custo. Reabrir escolas em meio à pandemia é indecente! 

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