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Ângelo Cavalcante

Economista, cientista político, doutorando na USP e professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG)

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Roda Viva? Quem te viu e quem te vê!

O programa para debater "a crise" e, de fato, não houve uma única discussão realmente pontual e séria sobre o que, de fato, é essa crise para além da baixaria novelística e que já cansou o mais santo dos brasileiros, não tratou de absolutamente nada e que respeita aos problemas diretos dos brasileiros

O programa para debater "a crise" e, de fato, não houve uma única discussão realmente pontual e séria sobre o que, de fato, é essa crise para além da baixaria novelística e que já cansou o mais santo dos brasileiros, não tratou de absolutamente nada e que respeita aos problemas diretos dos brasileiros (Foto: Ângelo Cavalcante)
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Eu era desses que indicava para amigos, familiares e alunos que sempre assistissem ao programa Roda Viva, aquele (ex) primor de programa apresentado nas noites de segunda-feira pela TV Cultura (SP). Assumo: era parte do meu cardápio formativo-cultural. Programa moderno, provocativo, democrático e que trazia gente de tudo o que era campo político.

A proposta do Programa era tão interessante que era capaz de trazer em uma semana o "Cavaleiro da Esperança" Luís Carlos Prestes e na seguinte, um general conspirador da ditadura civil-militar brasileira. Os contrapontos aconteciam aos montes... Baita riqueza na formação política dos brasileiros!

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E o debate acontecia! Questões instigantes; confrontos velhos e mal resolvidos que vinham à tona; prospectos substantivos e promissores e que nos fazia pensar sobre nosso lugar no mundo da política, da economia e da cultura.

O tempo - o senhor das coisas, como bem me ensina um colega sindicalista - irá revelar uma profunda alteração deste Programa; a meu juízo, para bem pior, para o mais deletério e atrasado em matéria de produção de pensamento, sobretudo, no que respeita a feitura de contribuições para um efetivo e coerente pensamento nacional, portanto, plural, político, aberto, flexível, sensível e brasileiro.

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O "noves fora" de ontem, 22/05/2017, é requintada cirurgia política em favor dos nossos piores medos. Não é que os fazedores do programa, tendo o indefectível jornalista Augusto Nunes, um dom quixote daquilo que há de mais lúgubre e questionável em matéria de clareza política, como "mediador", pôs assento para seis aves raras e cantadeiras do liberalismo brasileiro, este ser fantástico e sem comparação até entre divindades e criaturas do mitológico grego.

Com a presença do muitíssimo conservador advogado Modesto Carvalhosa; a economista de investimentos Zeina Latif (imaginem!); o professor de direito constitucional (sic) Oscar Vilhena; o cientista político Luís Felipe D'ávila e o líder do "Vem pra Rua" Rogerio Chequer a proposta que intitulava esta edição do programa era "A Crise".

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"Crise" que, por sinal, e segundo a concepção do programa não havia, afinal o país estava na mais perfeita paz, em perfeito ordenamento celestial, em equilíbrio geométrico e perpétuo mas que passa a existir, como passe de mágicas, simples e tão somente, a partir da copula político-prevaricante entre Temer e o proprietário do mega frigorífico JBS. Só pode ser piada...

Tem que a gravação feita por Batista que decretou o fim do arranjo golpista é apenas o ponto alto ou um instante na ampla trajetória da extinção política atual e propositadamente perpetrada pelas elites nacionais em conluio com interesses nada brasileiros ou nacionais. Ora, venhamos e convenhamos... Esse governo é a crise e a crise é esse governo. Não há qualquer distinção entre um e outra, entre a outra e o "um".

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O programa para debater "a crise" e, de fato, não houve uma única discussão realmente pontual e séria sobre o que, de fato, é essa crise para além da baixaria novelística e que já cansou o mais santo dos brasileiros, não tratou de absolutamente nada e que respeita aos problemas diretos dos brasileiros. Nada sobre dramas estruturais do Brasil, sobre o aperfeiçoamento de setores fundamentais para a sociedade como educação, tecnologia e meio ambiente; nada sobre a ociosidade programada e deliberada dos campos do Brasil, das nossas cidades e entregues para os crimes da especulação ou para os crimes de máfias organizadas... Nada!

Um folhetim tardio em prol de mais desregulamentação, mais frouxidão político administrativa, menos planejamento e por fim, menos Estado. E a grita se deu em torno do mais patético dos clamores e que é a manutenção da "agenda de reformas" e que avança no Congresso. Por reforma, se entenda: o desmonte do pouco de proteção social conferida aos trabalhadores em duzentos anos de guerra civil brasileira; a abertura indiscriminada e tresloucada das fronteiras econômicas da nação para toda sorte de empreendimento ou empenho internacional e que assim preferir.

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Ora, pois... O Estado brasileiro fora tomado, apropriado como em nenhum momento da história brasileira, pelas elites do país e do além-mar. Não é o "excesso de Estado", essa maçante cantilena, esse mantra horripilante que nada diz, que nada explica, demonstra ou revela e que escorre frouxo nas bocas dos neoliberais; é o contrário, é o excesso de privado, é o "libera geral" e que vem sendo imposto desde o governo Collor com o aval cínico, criminoso e anticientífico de consultores, assessores e associados.

Evidentemente, em um país de democracia rasa como o nosso; de baixa densidade participativa e sem nenhum tipo de controle social sobre órgãos estatais ou a atuação de agentes privados; com instituições públicas mixurucas e que não cumprem suas funções estatais e republicanas e que podem meter medo no descamisado que cheira cola na praça central; nos pretos do gueto e que são sovados cotidianamente por soldados igualmente pretos ou quase todos pretos ou; nos camponeses que não abrem mão de um quinhão de chão para que possam existir... Não nos donos do poder!

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"Excesso de estado"? Perguntem para os mais de vinte milhões de desempregados se há "excesso de estado"? Para mais da metade de brasileiros que sequer privada possui em casa e se há esse "excesso"? Quase setenta por cento dos brasileiros não possuem escoamento sanitário; água potável e perene é artigo de luxo nessa terra. Excesso de estado? Dentre os países do Mercosul, somos a menor média de jovens no ensino superior; temos mais de vinte milhões de idosos sem qualquer proteção previdenciária e que formam uma enorme massa de trabalhadores, digamos, trabalhadores tardios. Indague-os sobre o "excesso" de Estado?

É cinismo criminoso, irresponsabilidade conceitual e militância aberta e franca contra tudo o que envolva efetivo projeto de construção nacional. É mistureba pessimamente alinhavada e que revela a miséria torpe e que são as elites brasileiras e o patético e respectivo esforço por expressar suas superadas e fracassadas formas de pensamentos. Pensamentos? Onde?

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