Roda Viva? Quem te viu e quem te vê!
O programa para debater "a crise" e, de fato, não houve uma única discussão realmente pontual e séria sobre o que, de fato, é essa crise para além da baixaria novelística e que já cansou o mais santo dos brasileiros, não tratou de absolutamente nada e que respeita aos problemas diretos dos brasileiros
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Eu era desses que indicava para amigos, familiares e alunos que sempre assistissem ao programa Roda Viva, aquele (ex) primor de programa apresentado nas noites de segunda-feira pela TV Cultura (SP). Assumo: era parte do meu cardápio formativo-cultural. Programa moderno, provocativo, democrático e que trazia gente de tudo o que era campo político.
A proposta do Programa era tão interessante que era capaz de trazer em uma semana o "Cavaleiro da Esperança" Luís Carlos Prestes e na seguinte, um general conspirador da ditadura civil-militar brasileira. Os contrapontos aconteciam aos montes... Baita riqueza na formação política dos brasileiros!
E o debate acontecia! Questões instigantes; confrontos velhos e mal resolvidos que vinham à tona; prospectos substantivos e promissores e que nos fazia pensar sobre nosso lugar no mundo da política, da economia e da cultura.
O tempo - o senhor das coisas, como bem me ensina um colega sindicalista - irá revelar uma profunda alteração deste Programa; a meu juízo, para bem pior, para o mais deletério e atrasado em matéria de produção de pensamento, sobretudo, no que respeita a feitura de contribuições para um efetivo e coerente pensamento nacional, portanto, plural, político, aberto, flexível, sensível e brasileiro.
O "noves fora" de ontem, 22/05/2017, é requintada cirurgia política em favor dos nossos piores medos. Não é que os fazedores do programa, tendo o indefectível jornalista Augusto Nunes, um dom quixote daquilo que há de mais lúgubre e questionável em matéria de clareza política, como "mediador", pôs assento para seis aves raras e cantadeiras do liberalismo brasileiro, este ser fantástico e sem comparação até entre divindades e criaturas do mitológico grego.
Com a presença do muitíssimo conservador advogado Modesto Carvalhosa; a economista de investimentos Zeina Latif (imaginem!); o professor de direito constitucional (sic) Oscar Vilhena; o cientista político Luís Felipe D'ávila e o líder do "Vem pra Rua" Rogerio Chequer a proposta que intitulava esta edição do programa era "A Crise".
"Crise" que, por sinal, e segundo a concepção do programa não havia, afinal o país estava na mais perfeita paz, em perfeito ordenamento celestial, em equilíbrio geométrico e perpétuo mas que passa a existir, como passe de mágicas, simples e tão somente, a partir da copula político-prevaricante entre Temer e o proprietário do mega frigorífico JBS. Só pode ser piada...
Tem que a gravação feita por Batista que decretou o fim do arranjo golpista é apenas o ponto alto ou um instante na ampla trajetória da extinção política atual e propositadamente perpetrada pelas elites nacionais em conluio com interesses nada brasileiros ou nacionais. Ora, venhamos e convenhamos... Esse governo é a crise e a crise é esse governo. Não há qualquer distinção entre um e outra, entre a outra e o "um".
O programa para debater "a crise" e, de fato, não houve uma única discussão realmente pontual e séria sobre o que, de fato, é essa crise para além da baixaria novelística e que já cansou o mais santo dos brasileiros, não tratou de absolutamente nada e que respeita aos problemas diretos dos brasileiros. Nada sobre dramas estruturais do Brasil, sobre o aperfeiçoamento de setores fundamentais para a sociedade como educação, tecnologia e meio ambiente; nada sobre a ociosidade programada e deliberada dos campos do Brasil, das nossas cidades e entregues para os crimes da especulação ou para os crimes de máfias organizadas... Nada!
Um folhetim tardio em prol de mais desregulamentação, mais frouxidão político administrativa, menos planejamento e por fim, menos Estado. E a grita se deu em torno do mais patético dos clamores e que é a manutenção da "agenda de reformas" e que avança no Congresso. Por reforma, se entenda: o desmonte do pouco de proteção social conferida aos trabalhadores em duzentos anos de guerra civil brasileira; a abertura indiscriminada e tresloucada das fronteiras econômicas da nação para toda sorte de empreendimento ou empenho internacional e que assim preferir.
Ora, pois... O Estado brasileiro fora tomado, apropriado como em nenhum momento da história brasileira, pelas elites do país e do além-mar. Não é o "excesso de Estado", essa maçante cantilena, esse mantra horripilante que nada diz, que nada explica, demonstra ou revela e que escorre frouxo nas bocas dos neoliberais; é o contrário, é o excesso de privado, é o "libera geral" e que vem sendo imposto desde o governo Collor com o aval cínico, criminoso e anticientífico de consultores, assessores e associados.
Evidentemente, em um país de democracia rasa como o nosso; de baixa densidade participativa e sem nenhum tipo de controle social sobre órgãos estatais ou a atuação de agentes privados; com instituições públicas mixurucas e que não cumprem suas funções estatais e republicanas e que podem meter medo no descamisado que cheira cola na praça central; nos pretos do gueto e que são sovados cotidianamente por soldados igualmente pretos ou quase todos pretos ou; nos camponeses que não abrem mão de um quinhão de chão para que possam existir... Não nos donos do poder!
"Excesso de estado"? Perguntem para os mais de vinte milhões de desempregados se há "excesso de estado"? Para mais da metade de brasileiros que sequer privada possui em casa e se há esse "excesso"? Quase setenta por cento dos brasileiros não possuem escoamento sanitário; água potável e perene é artigo de luxo nessa terra. Excesso de estado? Dentre os países do Mercosul, somos a menor média de jovens no ensino superior; temos mais de vinte milhões de idosos sem qualquer proteção previdenciária e que formam uma enorme massa de trabalhadores, digamos, trabalhadores tardios. Indague-os sobre o "excesso" de Estado?
É cinismo criminoso, irresponsabilidade conceitual e militância aberta e franca contra tudo o que envolva efetivo projeto de construção nacional. É mistureba pessimamente alinhavada e que revela a miséria torpe e que são as elites brasileiras e o patético e respectivo esforço por expressar suas superadas e fracassadas formas de pensamentos. Pensamentos? Onde?
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