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Pedro Maciel

Advogado, sócio da Maciel Neto Advocacia, autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito”, Ed. Komedi, 2007

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Toda unanimidade é burra e “só sei que nada sei”

"A burrice da unanimidade gera conforto a quem não consegue pensar criticamente

(Foto: Tânia Rêgo / Agência Brasil)
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Como já escrevi aqui, gosto muito de ir à feira e ao Mercadão, pois meu pai foi um pequeno comerciante e começou sua vida como feirante, ao lado do “seo” Mario, pai do Hélio Kazuo que foi meu colega de faculdade e no conselho da Ponte Preta.

O movimento das feiras livres, o seu burburinho e principalmente os aromas, me devolvem à “aurora da minha vida, à minha infância querida”, ao lado do meu pai, o homem mais bonito e forte do mundo; o movimento, o burburinho e os cheiros trazem ao presente as minhas melhores lembranças, são as chamadas memórias afetivas que nos transportam ao passado, numa poética negação da intangibilidade do passado da Teoria da Relatividade ou, como escreveu seu autor “diferença entre passado, presente e futuro é apenas uma persistente ilusão”.

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Fomos à feira sábado, Celinha, Ana Teresa – uma das minhas irmãs – e eu, compramos rocambole de frango, batata e ovos, depois fomos comer pastel na banca do Armando, a melhor de todas; lá encontramos o Paul Kasten, advogado de escol e amigo querido, que com a sua esposa e com o neto João Pedro, já deliciavam o pastel do Armando.

Essa é uma das coisas boas da feira: encontrar amigos e com eles exercitar a amizade, que é uma forma de amor.

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Pedimos pasteis de queijo e um de palmito e enquanto conversávamos sobre tudo quanto vale a pena, inclusive sobre a estreia da Ponte no paulistão contra o Mirassol, um conhecido aproximou-se de nós, cumprimentou as meninas educadamente e de forma ríspida soltou a primeira pérola: “Pedro, o seu artigo de hoje no correio está uma m#rd@! Um desserviço...”; (“Correio Popular” é o jornal aqui de Campinas); ralhei com ele, pois, ele não poderia falar “nome feio” na frente delas, mas ele ignorou e seguiu fazendo críticas; às críticas todos tem direito, mas nenhuma delas era substantiva, todas baseadas na sua fé e na perigosa certeza que emerge da ignorância e da desinformação.

Pedi que ele se sentasse, ele assentiu; pedimos um pastel e um refrigerante para ele (a verdade é que adoro as polêmicas, acredito do fundo do meu coração que é a divergência que movimenta a sociedade, é esse processo dialético que impulsiona o indivíduo e a sociedade).

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Contextualizando: o artigo, que tinha o título: “Meias-verdades e certezas perigosas” (também publicado no Brasil 247), conclui que: fragilizar o Estado é um projeto ideológico; os gastos públicos devem ser controlados e qualificados no contexto de um projeto de desenvolvimento humano, social e econômico; o país precisa de investimentos; as micro, pequenas e médias empresas precisam de capital barato para investir e gerar mais empregos e riqueza; o Estado deve investir em Educação, Saúde, Segurança, Lazer, Cultura e precisamos de um sistema de previdência justo, para isso temos que parar de tratar privilégios de classe como direitos adquiridos, pois, a meu juízo, não há direitos adquiridos enquanto houver uma pessoa passando fome no país.

Curiosamente nenhuma dessas conclusões foi atacada pelo atrevido da feira, suas críticas centraram-se numa pergunta que faço: “por que é correto contingenciar gastos com saúde, educação, segurança e infraestrutura, mas não se pode contingenciar os gastos com juros”, frase que ele “leu” como uma apologia à gastança.

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Ouvi o conhecido com atenção e uma das frases que ele repetia era “todo mundo sabe que...”, ou seja, a burrice da unanimidade gera conforto a quem não consegue pensar criticamente; é verdade que muita gente manda mensagens positivas e elogiosas, mas são os que divergem que me estimulam a seguir estudando, estudando mais, pois, “só sei que nada sei”; sigo conversando com pessoas (e principalmente as ouvindo) que veem o mundo das mais variadas formas, tanto aqueles que tem uma posição liberal de direita, quanto a posição tradicional de esquerda, herdada dos teóricos socialistas do século XIX.

As tantas certezas do meu conhecido deixariam Sócrates corado; deixei o sabichão falar a vontade, pensei: “quem sabe ele ouvindo a própria voz ele se dá conta da ignorância cega que o envolve”, mas não adiantou dada.

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Eu sei que não sei quase nada, por isso apresento minhas ideias como questionamentos, reflexões, não certezas, afinal, saber que não sabemos não é um “defeito”, mas a base para o abandono da opinião e a busca pelo conhecimento verdadeiro.

Enquanto ele falava lembrei de uma frase célebre do escritor Nelson Rodrigues: “Toda unanimidade é burra”.

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Na realidade, a unanimidade só pode existir por dois fatores: (i) pela concordância cega ou (ii) pelo silêncio dos críticos e, onde há concordância cega, predomina a burrice, onde há o silêncio, certamente predomina o medo; convicções não são algo negativo, mas são, sem dúvida, perigosas quando refratárias à verdade. Vejo a “unanimidade”, assim como as certezas, como a ausência de criticidade e onde não há questionamento, não há progresso e viceja o autoritarismo.

Para atender pedido do meu sócio Rinaldo Fusco - um dos melhores auditores que conheci nesses trinta e sete anos de vida profissional –, para sustentar a frase de Nelson Rodrigues e a de Sócrates cito os evangelhos, lembrando que a unanimidade é tão pouco recomendada que nem mesmo Jesus, na plenitude da sua perfeição, a quis, pois, se houvesse unanimidade, a sua missão não teria atingido o objetivo. Foi preciso a discordância de um dos seus 12 apóstolos para que, como bem afirmou o Mestre, as escrituras se cumprissem (Lc 22:37 e Mt 26:54).

O sábado da feira do Cambuí foi assim, cheio de “certezas” burras e críticas vazias, ainda bem que a companhia era maravilhosa, o meu humor na feira é dos melhores, o pastel do Armando e a gentileza do pessoal dele inigualáveis.

Essa é a história hoje.

e.t. a Ponte empatou com o Mirassol, não foi um jogo bonito, mas muito positivo considerando tudo quanto estamos vivendo no clube.

Pedro Benedito Maciel Neto, 60 anos, advogado e pontepretano, sócio da www.macielneto.adv.brpedromaciel@macielneto.adv.br

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