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Rogério Puerta

Engenheiro agrônomo, atuou por doze anos na Amazônia brasileira em projetos socioambientais. Atuou em assentamentos da reforma agrária no Distrito Federal por dez anos e atualmente vive em São Paulo imerso em paixões inadiáveis: música e literatura. Escreveu diversos livros

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Vai pra Cuba!

Sarcasmo ou ideário?

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"Vai pra Cuba!". Ouve-se, e cada vez mais ouviremos. Tal qual, nos rincões interioranos brasileiros, o "Vai tomá banho na soda!". Soda cáustica, de sabão rústico, bem esclarecido. Ou o "Vai te catá!/Vai vê se tô na esquina" e por aí seguem os regionalismos coloquiais que denotam nervosismo.

Português todo errado, mas em nada importa, linguagem popular é bem mais sábia do que os eruditos rigorosos imaginam. Não os linguistas, holistas e ecléticos, que em geral são progressistas e bem entendem a comunicação popular, vide Noam Chomsky e outros. Ao rigor da língua portuguesa os pronomes devem combinar: "Vás te catar/Vá para Cuba/Vai mesmo a Cuba?", e por aí vão as chatices que ao povo soam pedantes.

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A fabulosa banda "Francisco, el Hombre", que corajosamente se apresenta em acampamentos do MST, o histórico equilibrado, corajoso e inspirado Chico Buarque, tanta gente boníssima, bem poderiam, ou já o fizeram, compor, arranjar, tocar melodia marcante, letra mais ainda, pilheriando de uma forma espirituosa o lema direitista pejorativo "Vai pra Cuba!".

Qualquer ritmo, nacional que seja, ou um mais adequado ritmo caribenho. Imagine-se, haveria de ser a trilha sonora por detrás de uma bela propaganda de destino turístico e cultural. Um "Vá pra Cuba!" cantado por um brasileiro ou brasileira, sorridentes, bem-humorados, conscientes, chamando o povo de cá para ir visitar a ilha única no planeta Terra.

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Hão de ser atores brasileiros, não um "Venga hasta Cuba!" proferido em belo sotaque castelhano por uma atriz cubana, afinal todos cubanos são comunistas sanguinários, quiçá devoradores de cães, seguindo aquilo que se faz na China vermelha de gente má e produtora de vírus múltiplos. Permitam a ironia.

Comunistas seriam desumanos bestializados, afinal. Cubanos horrendos. "Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás", no entanto frase conhecida e atribuída a um argentino, Guevara. Para a ultradireita, pouco importa, todos comunistas são sujos, caras de mau, comiam o que tinham, cachorro, crianças quem sabe.

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O terceiro governo Lula pretende incrementar o turismo na ilha de Cuba, um litoral impressionante, um povo escolarizado, criativo ao extremo, mundialmente conhecido por tal, os mecânicos de carros antigos que são verdadeiras raridades de museu, inventam e adaptam peças de substituição que há décadas não mais existem no mercado mundial.

Músicos e artistas únicos, os ritmos de Cuba, a história de uma colonização espanhola, forte presença africana, a horrenda escravidão negra, flertes pretéritos com os estadunidenses, um local de passagem marítima importante, ex-cabaré dos EUA, que lá deixaram um presídio arrogante, persistente, que não aplica direitos básicos do ser humano, ausência de julgamentos para os confinados, explícitas torturas. Parte da baía de Guantánamo tida quase como um pedaço de terra dos EUA. Vá para Cuba!

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No Brasil os fãs de Donald Trump veem a bandeira de Porto Rico e a acham cubana. Que horror! Porém, nada surpreendente, em geral não se informam corretamente. Aqui, o apoio cego a um neofascista brasileiro tal qual verdadeiro messias divino, aqui o embasbacamento por Trump e por um recém-falecido astrólogo desbocado. Deu nisso, ainda dá nisso.

Ernest Hemingway inspirou-se em Cuba, apaixonou-se, teve de sair da ilha, provável por pressões políticas alheias à sua vontade. Compreendeu a revolução popular, se em sua época fosse, pré-embargo, seria ele talvez o criador do drink Cuba libre, afinal feito com Coca-Cola, escritor e bebida estadunidenses. Ademais o rum típico caribenho, a cachaça deles, mas de melado de cana, não do nosso açúcar branco.

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Uma segunda libertação foi necessária, alguém antes profetizara, poderosa exploração econômica externa, saíram os espanhóis e vieram sedentos os estadunidenses logo ao lado da ilha. Fidel Castro e demais notaram as semelhanças e o esvaimento de riquezas injusto, interesseiro e exploratório, o saque protagonizado por estrangeiros.

Cuba libre. Origem controversa do drink, dizem que alguém desejou a libertação do povo ao pretérito jugo espanhol. O que não foi nada controversa foi a estada dos marinheiros estadunidenses pela ilha de Cuba por décadas, a usufruindo tal qual bordel, ponto de passagem, diversão, entretenimento desenfreado, etílico. Isto principalmente se passava na cabeça de quem por lá desembarcasse indo ou vindo dos EUA.

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Cuba libre, onde já se viu? Cuba? Abaixo o drink, mude-se o nome, use-se o whiskey típico produzido nos EUA, no Texas, que seja nos estados mais conservadores de lá. Mude-se o nome e a composição da bebida. Será que direitistas nunca se empenharam em tal campanha importantíssima aos rumos da Humanidade? Contém sarcasmo.

Cuba tal qual inesquecível destino turístico, paisagístico e cultural. O terceiro governo Lula pretende incentivar, mas bem sabe que pisará em ovos. Exige-se cautela. Se por lá Lula for e aparecer ao lado de alguém com parentesco revolucionário histórico, barba desgrenhada, se lá tirar tal foto, na certa virará objeto de alvo de dardos nas mansões de Miami e em tantas outras brasileiras ademais.

Marcelo Tas aparenta odiar Cuba, ele um artista multifacetado, apresentador que em muito contribuiu, e contribui, ao debate progressista construtivo. Ele de inclinação à direita moderada, talvez, ausente de moralismos ultrarreligiosos, e fica sempre furibundo quando se fala em Cuba. Teve lá seus motivos, por lá esteve há décadas, na época dura de autoafirmação local pós-embargo econômico poderoso e tenso dos EUA.

Marcelo Tas foi quase empurrado para fora, hostilizado, naquela época não simpatizavam nem um pouco com qualquer um que não chegasse logo jurando loas a Guevara e Fidel, à revolução vitoriosa do povo cubano.

Muito longe de uma ausência de máculas e equívocos, comunistas históricos têm lá as suas paranoias, ademais, um problema sério com homossexuais. Força de trabalho coletiva comprometida, talvez aleguem, ausência de uma dita virilidade necessária aos revolucionários, pouco importa.

O nazista Hitler, oposto político, fizera o mesmo e acrescentara pitadas sádicas de um tempero seu muito particular. Sua lista impura e infame agregava ainda ciganos, judeus, comunistas, pessoas com deficiência, tantos e tantas outras.

Agregou à fúria e sadismo ainda mais. Se alguém não se encaixasse na mórbida lista de patéticos seres inferiores, por certo, não faltaria ainda a suprema eugenia ariana a se verificar. Os seres inumanos não arianos, de uma genética ilegítima, visível aos olhos ou comprovada por dados familiares, tais seres impuros também entraram no caldo grotesco de escória hitleriana a ser eliminada do planeta Terra.

Ainda hoje em Cuba homossexuais são malvistos. Aqui fala-se sem propriedade, há de se conversar com quem de fato se aprofundou no tema e lá vivenciou recentemente imerso/a nesta perspectiva. Há sinais de mudanças, novos tempos, impossível não se adaptar. Nova geopolítica, a chamada pauta de costumes e, por óbvio, a pauta econômica de geração de renda devido ao esforço de labutas remuneradas da população cubana.

Sem qualquer sinalização quanto ao levantamento do brutal embargo econômico estadunidense. Os furiosos endinheirados de Miami principalmente, de origem cubana, demonstram carregar geneticamente um absoluto ódio a Fidel Castro e a tudo que minimamente se relacione ao histórico revolucionário da ilha caribenha.

Turismo movimenta renda, ocupa moradores, instiga-lhes a prática de línguas estrangeiras. Renda, ocupação produtiva para a mente, labutas, lá, aqui, em qualquer lugar do mundo o setor de serviços é multifacetado e de enormes potenciais. Que se escancarem, pois, as portas de Cuba ao mundo pós-pandêmico.

E não deve ser só o turismo, sequer as suas implicações diretas, que sejam também as ramificações indiretas, alguém que por lá se encante e decida investir recursos, migrar e trabalhar em setores legalizados pelo Governo. As leis locais em constante adaptação frente ao embargo econômico, a esperada nova ordem mundial.

Se o Governo de Cuba errou algo no passado, se desapropriou e cessou a exploração ultracapitalista várias décadas atrás, se qualquer violência e discórdia mais calorenta houve, a punição vingativa estadunidense a cada momento que passa se mostra mais e mais desproporcional. Vingança, não menos.

As veias abertas da América Latina continuam a se esvair, infelizmente. Ainda há o olhar de soslaio, o nariz torcido, principalmente das potenciais mundiais ultracapitalistas. Veias abertas, o excelente estudo de Eduardo Galeano se atualiza sempre, mas as origens lá estão, profundas, compreensíveis, marcadas, são a História.

Vá pra Cuba!

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