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Brasil

Lula: elite brasileira é colonizada e não se respeita

Em entrevista à TV 247, o ex-presidente resgatou a origem e o propósito do PT, que completa 40 anos neste fim de semana, falou sobre democracia, seu encontro com o Papa Francisco, antipetismo, greve dos petroleiros, informalidade no trabalho, imprensa e outros temas. Assista

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Editora 247)
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247 - Na semana em que o Partido dos Trabalhadores comemora 40 anos de existência com um festival cultural no Rio de Janeiro, o ex-presidente Lula falou à TV 247 com a presença de dois importantes ex-ministros de seu governo: Celso Amorim e Aloizio Mercadante, além do jornalista Leonardo Attuch, editor do Brasil 247.

Além da criação do PT, Lula falou também sobre diversos outros temas, como as relações internacionais do Brasil. Ele lembrou da política conhecida como 'ativa e altiva' no campo da diplomacia brasileira em seu governo, que tentou aproximação com a África, aliados da América do Sul e outros países emergentes, e criticou a submissão que acontece hoje da elite brasileira em relação aos Estados Unidos.

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Lula disse que, apesar da dívida histórica com o continente africano e da imensa fronteira terrestre que faz com 10 países da América do Sul, o Brasil nunca traçou alianças com outras nações que não fossem as americanas e europeias. “Se você pegar o mapa do Brasil, é assim: o Brasil nunca olhou para trás, portanto não enxergava seus aliados, seus aliados naturais porque um país que tem quase 16 mil quilômetros de fronteira seca com 10 países da América do Sul teria que ter, nesta fronteira, sua visão prioritária. O Brasil também não enxergava a África, apesar do [general Ernesto] Geisel ter tido um comportamento importante de reconhecer a independência de Angola, apesar da dívida histórica que temos com o povo africano, na verdade o Brasil nunca se importou com a África, ela não oferecia salvação econômica e nem oferecia ameaça de guerra, então o Brasil sempre com olhou meio vesgo para os Estados Unidos”.

O ex-presidente chamou de “elite colonizada que não se respeita” a classe alta brasileira. Para ele, há um pensamento de vira-lata neste setor, que se submete aos Estados Unidos. Lula defendeu que o Brasil seja protagonista internacional, como quase foi em seu governo, segundo ele. “Eu brincava muito no tempo do Fernando Henrique Cardoso e do [então presidente argentino, Carlos] Menem que os dois ficavam apostando quem era o mais amigo do FMI, quem é que pegava dinheiro emprestado mais rápido, quem é que ia conseguir não sei o quê, o Fernando Henrique Cardoso e o Menem disputavam quem era mais amigo do [então presidente dos EUA, Bill] Clinton, uma papagaiada de uma elite colonizada, esse é o dado concreto, é uma elite colonizada que não se respeita. Não tem um precedente histórico de que os Estados Unidos tenham feito uma coisa boa para o Brasil, até na conquista do Acre os americanos estavam em um barco desfilando com a bandeira americana contra o Brasil. O que a elite brasileira tem que compreender é que precisa parar de ser vira-lata, ou seja, ninguém vai ajudar o Brasil se o Brasil não se ajudar, ninguém respeita quem não se respeita, o Brasil não se respeita. Eu estou convencido de que o Brasil precisa ter consciência de que ele precisa ser protagonista internacional, nós quase chegamos lá”. 

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Encontro com Papa Francisco

Lula se reunirá com o Papa Francisco na próxima semana no Vaticano. Ele falou sobre a motivação de ir ao encontro. “O encontro com Papa é quase que uma necessidade que eu tenho de agradecê-lo pelas manifestações que ele tem feito, não apenas diretamente em minha solidariedade, mas ele tem feito em defesa do povo oprimido. A questão da desigualdade é uma coisa que o PT não pode abdicar nunca, se o PT abdicar da luta pela igualdade o PT não tem razão de existir. Eu estou convencido de que a minha conversa com o Papa vai se dar em torno disso”.

Petra Costa, “Democracia em Vertigem” e Glenn Greenwald

Questionado sobre o ódio da direita em relação à indicação do filme da cineasta brasileira Petra Costa, “Democracia em Vertigem”, ao Oscar 2020 pela categoria “Melhor Documentário”, Lula afirmou que a obra retrata “a mais pura realidade do que aconteceu no Brasil”, assim como o serviço prestado pelo jornalista do The Intercept, Glenn Greenwald, na série de reportagens conhecida como “Vaza Jato”. “Está com ódio porque a Petra diz uma coisa que é a mais pura realidade do que aconteceu no Brasil. Quando eu vi o documentário da Petra eu liguei para ela para dar parabéns pela seriedade com que ela tratou aquele documentário, ela expôs a própria família em uma narrativa exuberante, exuberante. O documentário da Petra restabelece a verdade no país, a mesma coisa que fez o Glenn, ele não disse nada mais do que aquilo que a minha defesa diz”.

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Bolsonaro precisa governar

O ex-presidente petista cobrou o atual, Jair Bolsonaro, para que pare de brincar e comece a governar o país. “No dia da eleição a cabeça do povo, majoritariamente, com culpa ou sem culpa, votou no Bolsonaro. Esse cidadão tem que parar a brincar e passar a governar, é isso que ele tem que fazer. O PT não tem que ficar torcendo para dar um golpe todo dia, eu sou contra impeachment sem crime de responsabilidade, nós temos que fazer oposição, o papel da oposição é fazer oposição, é criticar, é propor, é ir para a rua conversar com o povo, esse é o papel do PT”.

Imprensa

Alvo de incontáveis críticas por parte da imprensa brasileira, Lula cobrou seriedade e verdade da mídia tradicional, e defendeu a liberdade de imprensa. “Eu nunca fui pedir a um dono de jornal que fossem fazer coisa favorável a mim, a única coisa que eu quero é que a imprensa tenha o papel de informar corretamente a sociedade e que o pensamento do dono do jornal seja colocado no editorial. O doutor João Roberto Marinho tem o direito de todo santo dia ir na Globo e fazer o editorial, ele pode, mas quando se tratar da informação, a informação seja correta. É só isso que eu quero. 

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Antipetismo

Diferentemente de algumas outras personalidades do PT, o ex-presidente disse que não acredita que o antipetismo esteja maior ou mais forte atualmente. Como argumento, ele lembrou da eleição presidencial de 2018, na qual Fernando Haddad, pelo Partido dos Trabalhadores, foi ao segundo turno da disputa e disse que “não é fácil destruir o PT”. “Eu não acho que o antipetismo está tão forte, ele sempre existiu. Tem uma coisa em que o PT causa preocupação a esta gente, é o enraizamento do PT em sua base social. Agora, que todos apostavam que o PT estava destruído, que a Dilma estava fora, que o Lula estava preso, o companheiro Fernando Haddad tem 47 milhões de votos. Uma demonstração de que não é fácil destruir o PT porque o PT não é um partido fundado nos moldes tradicionais, não juntou um grupinho de deputados pensando no fundo partidário, não foi assim que o PT foi criado. Eu não acredito no antipetismo, acredito que tem a sociedade e ela disputa, o PT tem 30%, tem 30% que não gosta do PT e tem 30% ou 40% que precisa ser conquistada”.

Democracia

Lula afirmou que a democracia no Brasil é capenga, já que é prevista na Constituição mas, no cotidiano da população, não é aplicada, no sentido de que nem toda a população tem acesso ao que lhe é de direito. “A democracia no Brasil é capenga, ela existe muito mais enquanto democracia institucional, ela está na Constituição, mas quando você sai da Constituição e vai para o dia a dia do povo, a democracia não acontece. Só pode ter democracia quando o cidadão puder ter acesso a refeição, ter acesso a emprego, a moradia, a educação, da creche à universidade, ter acesso a pesquisa, a lazer, a cultura e ter segurança pública. Enquanto isso não existir, a democracia é capenga. Ora, você tem a democracia que permite que um cidadão entre em um shopping e gaste R$ 20 mil, e tem outro cidadão que passa 20 horas no shopping andando sem poder comprar nada porque não tem dinheiro e não tem emprego, onde está a democracia? Não existe democracia se um cidadão pode comer 10 vezes por dia e o outro cidadão passa 10 dias sem comer”.

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Greve dos petroleiros

Aos petroleiros em greve por contra demissões em uma fábrica deficitária de fertilizantes da Petrobras no Paraná e por questões relacionadas ao Acordo Coletivo de Trabalho (ACT), Lula recomendou que a paralisação também seja pela defesa da Petrobras como um todo. “Tenho alertado aos companheiros petroleiros para que a greve deles não seja uma greve especificamente por aumento de salários, eles tem que fazer uma greve tentando mostrar a importância da Petrobras para o desenvolvimento do Brasil porque a Petrobras não é uma indústria de petróleo, não é um indústria só de óleo e gás, a Petrobras é uma indústria que é a maior incentivadora do desenvolvimento tecnológico do país”.

Informalidade no mundo do trabalho

É notório o crescimento de motoristas de aplicativos e entregadores de comida que, sem vínculos empregatícios com as empresas, não são assistidos pelos direitos trabalhistas. Lula criticou a precarização do mundo do trabalho e rebateu argumentos de que este modelo de trabalho seja empreendedorismo e ressaltou que a prática apenas enriquece os grandes empresários.

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“O dado concreto é que mudou a fotografia da classe trabalhadora brasileira, ela não é mais a mesma que era nos anos 80, ela mudou com os avanços tecnológicos, avanços científicos, ou seja, mudaram o mundo do trabalho. Muita gente qualificada perdeu o emprego e está trabalhando na Uber, está trabalhando entregando comida ou sei lá aonde, essa gente acha que em um primeiro momento que é maravilhoso, que é todo mundo microempreendedor, trabalha por conta própria, qual é o problema? O problema é que na década de 60 a gente tinha muita gente que trabalhava em casa, que costurava, que fazia roupa, e quando ficava doente não tinha nenhum direito, quandos e machucava não tinha nenhum direito. Um companheiro que trabalha com Uber, que eu acho que só faz isso porque está necessitado, porque se encontrasse um trabalho digno na profissão dele ele iria trabalhar na profissão dele, eu acho que ele está fazendo um esforço incomensurável. Se ele bater o carro dele não tem seguro, se ele se machucar não tem seguro de vida, não tem acidente de trabalho, não tem férias, não tem férias, ou seja, é uma vida muito penalizada apesar da propaganda que se faz em torno disso. Estamos jogando fora conquistas históricas que os trabalhadores tiveram no século 20. A troco do quê? A troco da acumulação de riqueza dos empresários”.

Lula responde Alexandre Garcia

Na última semana, Jair Bolsonaro compartilhou nas suas redes sociais um vídeo que mostra Alexandre Garcia, ex-jornalista da Globo, afirmando em palestra que, se o Brasil trocasse de população com o Japão, o país seria a “primeira potência do mundo em 10 anos”.

O ex-presidente Lula respondeu ao jornalista lembrando a diferença de renda per capita de brasileiros e japoneses. “O que faz o país crescer não é a ignorância daquele jornalista da Globo. Vi ele dizer: ‘se trouxer japonês para cá, melhora’. Traga japonês para cá com a renda per capita que tem o brasileiro e leve o brasileiro para lá com a renda per capita que tem o japonês, você vai ver o que vai ser a criatividade do Brasil no Japão, o Japão vai aprender a dançar carnaval, vai aprender a jogar bola e vai viver muito feliz com uma renda per capita de US$ 40 mil dólares. Agora, pode trazer 200 mil japoneses aqui, dê uma renda per capita de R$ 11 mil para ver o que ele vai fazer: nada! Vai cair na bandidagem, vai ficar analfabeto, vai ficar sem escola, não vai ter tratamento de água, de esgoto, de água potável…”.

Origem e propósito do PT

Para Lula, o PT deve “radicalizar a democracia”, visto que o objetivo do partido desde o seu nascimento é garantir que a população viva sob a proteção do Estado. “O PT não pode esquecer a razão para qual ele nasceu, o PT nasceu para fazer com que as pessoas desprovidas de proteção do Estado brasileiro tivessem proteção, no campo da educação, da saúde, do trabalho, do salário. As pessoas têm o direito de serem cidadãs em sua plenitude. Para isso o PT nasceu, é por isso que o PT tem que radicalizar a democracia”. “PT é um partido que veio para ficar”, disse ele.

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