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Regina Abrahão

Sindicalista, feminista, funcionária pública do RS

9 artigos

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É preciso derrotar o monstro

E aos monstros destacados não interessa o bem comum, apenas o seu próprio bem, a satisfação de suas necessidades. Derrotar o monstro que já habitou ou habita, pouco ou muito é a apropriação de um pertencimento à humanidade, é formar, através da educação e da luta cidadãos éticos, porque os de bem não deram certo. Não se trata apenas de derrotar o capital, trata-se de derrotar também o consumismo e o individualismo doentio

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Não vou repetir aqui o que é de conhecimento público. Uma das faces mais perversas da pandemia é enfrentada pelos profissionais de saúde. Adoecimento, morte, exaustão, jornadas desumanas, medo, medo, medo.  Qualquer, eu reafirmo, QUALQUER pessoa do país ou mundo que for perguntada sobre os trabalhadores desta área a resposta será de apoio, gratidão, admiração. Esta será a resposta verbal. No mesmo dia em que iniciou a vacinação contra a COVID iniciou também a lesiva apropriação de doses por indivíduos fora de qualquer priorização, e em todo o país. 

Necessidade da vacina, temos todos. Médico, auxiliar de limpeza, motorista do ônibus, professor, polícia, profissionais do sexo, atletas, estudantes, cuidadores, desempregados, idosos, grupos de risco acentuado, não-grupos de risco. A doença está matando cada vez mais jovens e crianças. O Brasil precisa da vacina, e se está recebendo doses a conta-gotas a responsabilidade é do governo federal, mas também não entrarei neste assunto. É público. Quero falar do desvio de vacinas.

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Então, falemos de cidadãos e cidadãs de bem “dando um jeito” de usar a vacina. Com os mais variados argumentos, alguns até poéticos, como o “salvar da doença o amor da minha vida”. Pelo que ouvi na imprensa, o amor da vida do secretário de saúde em questão não possui nenhuma ocupação ou motivo que justifique o que foi feito. São muitos, não vale a pena elencar os motivos nem os citar caso a caso. Mas entender a naturalidade com que o país aceita, e de certa forma admira, a esperteza de quem conseguiu burlar.

Meio que o país se divide entre os espertos e os trouxas. Os espertos furam filas, estacionam em vagas de deficientes, colam nas provas, furtam canetas, não devolvem troco a mais. Sobre troco a mais, ouvi certa vez alguém dizer que sentia muito se o caixa tivesse que pagar a diferença com seu salário, mas seria educativo para que prestasse mais atenção. Estava fazendo um bem!

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Quem lembra da lei de Gerson? Teve até comercial onde o ex-jogador afirmava: Gosto de levar vantagem em tudo! Partindo do pressuposto que para alguém levar vantagem outro alguém será lesado, penso que esta é a imagem mais nítida deste tipo de pensamento. Mas isto não começou com Gerson. Começou quando o primeiro português trocou quinquilharias por pau-brasil com indígenas porque era esperto. Com a escravização para que muitos trabalhassem até a morte para que outros poucos lucrassem sem esforço. Com capitanias hereditárias agraciando favoritos do rei, massacrando os indígenas que lá viviam. A corte portuguesa expulsando moradores de suas casas quando fugiu para o Rio de Janeiro para acomodar família real e sua corte. E assim foi na colônia, no império, na república e segue, hoje mais forte. O “jeitinho” até esteve mais fraco nos governos populares, mas nunca deixaram de acontecer. Por um tempo as pessoas esconderam seus monstros, que depois retornaram robustos e ostensivos a partir de 2018. À imagem do governo que se elegeu com o combate à corrupção sendo o eixo central.

Mas nem só de arminhas, de homofobia, racismo, fundamentalismo, milícias e desvios vive o Brasil hoje. 

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A indiferença seguramente é a maior aliada de todas as mazelas deste governo. A indiferença que faz com que o mesmo cidadão aplauda o profissional de saúde e logo depois aplauda igualmente o esperto que lhe subtrai a vacina. Esta indiferença introjetada pela mídia que consegue, no mesmo minuto, apresentar as mil mortes diárias e em seguida os gols da rodada. E segue o baile!

Para o monstro, tudo é relativo. Egoísmo, cegueira de classe, injustiças, misérias, fome, violência, opressão, ignorância: Tudo isto passa meio que ignorado pelo cidadão. Não é à toa o desprezo da classe dominante pela educação. O cidadão educado e crítico tende a controlar seu monstro. Mas aí, quando controla seus instintos mais abjetos, passa a discordar de quem cultiva a indiferença e a criticar a injustiça e a desigualdade. 

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E aos monstros destacados não interessa o bem comum, apenas o seu próprio bem, a satisfação de suas necessidades. Derrotar o monstro que já habitou ou habita, pouco ou muito é a apropriação de um pertencimento à humanidade, é formar, através da educação e da luta cidadãos éticos, porque os de bem não deram certo. Não se trata apenas de derrotar o capital, trata-se de derrotar também o consumismo e o individualismo doentio. 

É difícil, mas não há alternativa revolucionária que dê certo se a empatia não nos possuir.

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