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Pedro Simonard

Antropólogo, documentarista, professor universitário e pesquisador

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Não dá mais para esperar: fora Bolsonaro, Paulo Guedes e todos os milicos!

A maneira mais eficaz de zerar o risco Bolsonaro é seu impeachment. Porém, se este instrumento zeraria o risco Bolsonaro, ainda restariam os militares e os neoliberais

(Foto: REUTERS/Adriano Machado)
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O cientista Miguel Nicolelis publicou um tuíte simplesmente assustador no dia 2 de abril de 2021. Diz o texto que “em março 2021 Brasil pode ter tido mais mortes do que nascimentos! Algo inimaginável pode estar acontecendo sem que ngn se de conta: uma contração da população brasileira devido ao total desastre de manejo da pandemia pelo governo federal. Se isso ñ assusta vc, nada irá!” 

Uma sociedade onde a quantidade de mortes supera o número de nascimentos é uma sociedade fadada a desaparecer. Não estou afirmando que chegaremos a isso, é claro. Seria o cúmulo do absurdo e da pasmaceira social, mas este é um alerta claro sobre a política genocida dos neoliberais no Brasil. 

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Os neoliberais, e não apenas Jair Bolsonaro, são culpados pelas práticas genocidas no Brasil e no mundo. Desde o início de 2020 nós assistimos a governos neoliberais e de extrema direita desdenhando da pandemia para poder implementar políticas e reformas sociais e trabalhistas contra trabalhadores e trabalhadoras. O negacionismo fez parte das ações de vários governos, apesar dos alertas emitidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela comunidade científica no mundo inteiro.

Fartamente divulgada pela mídia e pelas redes sociais foram as posturas negacionistas de Donald Trump e Boris Johnson, zombando dos riscos da pandemia. No dia 27 de fevereiro de 2020, o prefeito de Milão, na Itália, deu início à campanha #milanononsiferma (Milão não para) com uma campanha publicitária mostrando a cidade com suas atividades econômicas funcionando normalmente e pessoas sorridentes. Arrependeu-se em seguida, depois que o número de mortos pela covid-19 aumentou barbaramente.O caso brasileiro é mais grave porque esse tipo de política negacionista e genocida no mundo, se não foi inteiramente abandonada, foi substituída por uma outra que mistura distanciamento social e algum lockdown, que minimizaram ou controlaram a expansão da pandemia. No Brasil, apesar dos mais de 3 mil mortos diários, os genocidas continuam com suas práticas de extermínio em massa. Nosso país parece um grande campo de concentração nazista. A título de comparação, o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau no auge de seu funcionamento exterminou 10 mil prisioneiros por dia. Bolsonaro e seu Einsatzgruppen (“força-tarefa” de extermínio de judeus criada por Heinrich Himmler) estão muito próximos de alcançar 4 mil mortes diárias sem precisar construir e manter estruturas empresarias caras, o que deixaria Adolf Hitler e seus asseclas com uma pontinha de inveja (em minha última coluna defendi a criação de um tribunal especial contra crimes de genocídio).

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O ônus dessa política genocida recai somente sobre Jair Bolsonaro, mas não podemos nos esquecer que Paulo Guedes desde o começo da pandemia resiste a alocar verbas que permitiriam a adoção do distanciamento social, a compra de vacinas e a adoção de outras medidas eficazes contra a covid-19. Sempre ao lado de Bolsonaro, os militares também se omitiram em assumir uma postura clara em favor desse tipo de medidas. Mais do que cúmplices, Bolsonaro, Guedes e os militares são todos corresponsáveis pelo extermínio do povo brasileiro.

Bolsonaro tentou dar um golpe no dia 31 de março. Agitou as polícias estaduais, mandou o deputado federal Major Vitor Hugo (PSL-GO) tentar passar com urgência a votação do projeto de lei que transferia o controle das polícias estaduais para o executivo federal, cobrou fidelidade dos comandantes das três forças armadas e agitou seus eleitores para ocuparem as ruas e comemorarem o golpe de 1964. Sua tentativa foi um grande fiasco e ele está temporariamente enfraquecido. Tempo é tudo o que ele quer para tentar recompor suas forças, mas o tempo pode ser ruim para ele também, já que vem perdendo apoio diariamente. Por enquanto, a conjuntura lhe é desfavorável, mas ela é dinâmica e pode ser que mude e passe a lhe favorecer. O melhor quadro para o país é Bolsonaro fora do Palácio do Planalto.

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O impeachment de Bolsonaro vem ganhando mais sustentação a cada dia. Alguns analistas de esquerda defendem que esta seria a melhor saída para a direita, tirar Bolsonaro e colocar o vice-presidente Hamilton Mourão em seu lugar. Esta solução não mudaria o quadro de fundo que são as políticas neoliberais. Bolsonaro é um problema mais premente porque sua personalidade tosca deseja dar um golpe de Estado e sua gestão temerária prejudica a imagem do país e os negócios da burguesia neocolonial. Se ele for substituído por Mourão, a direita neoliberal buscará realizar em menos de dois anos todo os projetos que a ausência de “amadurecimento intelectual” de Bolsonaro (forma sofisticada que o ex-porta-voz do governo, general Rêgo Barros, encontrou para chamar Bolsonaro de néscio) impediu de serem implementados. A tendência é que quanto mais estas políticas avancem, mais a pobreza, a fome e a exclusão social aumentem, gerando um quadro político perigoso para as eleições de 2022. A falta de perspectivas de melhora pode levar o eleitorado a pender para a esquerda e dar ao candidato progressista uma vitória esmagadora tanto quanto pode resultar no voto na extrema direita, como ocorreu na Itália e na Alemanha, nos anos 1920 e 1930, e no próprio Brasil, nas últimas duas eleições. O aprofundamento da crise favorecerá a corrente política que melhor se comunicar com os trabalhadores e trabalhadoras, de agora até as eleições de 2022. 

A direita neoliberal está tão perdida quanto Bolsonaro. Ainda não achou seu candidato ideal. No dia 31 de março, lançou mais um manifesto (Manifesto pela Consciência Democrática), buscando se posicionar como “limpinha” e democrática. Assinaram este manifesto cinco ex—bolsonaristas (João Doria e Eduardo Leite, ambos do PSDB, Luiz Henrique Mandetta (DEM), Luciano Huck e João Amoedo (Novo)) e o político que apoiou a democracia diretamente de Paris (Ciro Gomes (PDT)). Mais um manifesto apoiado pelos setores golpistas que defende a democracia e exclui a esquerda, explicitando a partidarização desses “democratas”. Democracia boa é a deles, só com eles.

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Como todos os outros manifestos já lançados pelos neolibs, este também procurou jogar toda a culpa sobre Bolsonaro, que todos signatários do manifesto, por ação ou omissão, ajudaram a eleger. Omitiu que a crise pela qual passa o Brasil e diversos países no mundo inteiro resulta das práticas e políticas genocidas adotadas por governos neolibs. A estratégia da burguesia neocolonial brasileira é utilizar as tendências autoritárias de Bolsonaro e sua figura patética como espantalhos para que todos acreditem que sua deposição ou domesticação resolveriam o problema, abrindo o caminho para Mourão assumir a presidência e continuar a “passar a boiada” das políticas neoliberais.

Como contraponto, o ex-presidente Lula continua a pautar a oposição. No dia 1 de abril, ele foi entrevistado pelo jornalista Reinaldo Azevedo na Rádio Bandeirantes. Azevedo foi peça fundamental na engrenagem do golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff. Entre outras coisas, foi o criador do termo “petralha” para se referir a todos os petistas. Transmitida pelo Youtube como live, a entrevista alcançou o pico de mais de 300 mil visualizações durante sua transmissão e já ultrapassou 1,6 milhão de visualizações. Em termos de comparação, a live da quinta-feira de Bolsonaro alcançou 15 mil visualizações, cerca de vinte vezes menos. A cada entrevista dada por Lula, melhor ele se posiciona como candidato para derrotar o fascismo, mais desesperados ficam Bolsonaro e a direita neolib. Resta saber se estes setores antidemocráticos farão algo para impedi-lo de se candidatar à presidência ou se correrão o risco de perder as eleições presidenciais de 2022.

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Ainda é cedo para se fazer prognósticos sobre o futuro. 

Bolsonaro ainda tem a caneta nas mãos, Bolsonaro tem o orçamento nas mãos, Bolsonaro tem apoio de setores das forças armadas, das polícias e das milícias, Bolsonaro tem apoio do agronegócio e suas milícias, Bolsonaro tem o apoio de setores da burguesia neocolonial. Ainda não está morto e vai reagir e a nomeação do general Braga Netto - que tem conhecimento e contatos nas forças armadas e nas milícias - para o Ministério da Defesa deixa isto bem claro. Bolsonaro transformou-se em um morto-vivo. Contudo, morto-vivo também se move. 

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A maneira mais eficaz de zerar o risco Bolsonaro é seu impeachment. Porém, se este instrumento zeraria o risco Bolsonaro, ainda restariam os militares e os neolibs. Por isso, embora com chances muito remotas neste momento, o correto seria os setores progressistas e nacionalistas defenderem o fora Bolsonaro, fora Paulo Guedes e todos os milicos.

P.S.: Precisamos defender uma reforma constitucional que substitua o impeachment, instrumento utilizado pela burguesia neocolonial para retomar o controle do poder, pelo recall, instrumento que coloca nas mãos do povo a destituição daqueles que ele mesmo elegeu.

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