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Entrevistas

Juliano Medeiros: “apoio a Lula é uma das decisões mais importantes da história do PSOL”

“Como é que o partido iria virar as costas neste momento do País?”, indagou o presidente nacional da sigla

Guilherme Boulos, Lula e Juliano Medeiros (Foto: Ricardo Stuckert)
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247 - A decisão inédita do PSOL desde sua fundação, em 2004, de não lançar um candidato próprio à presidência da República e apoiar o ex-presidente Lula foi “uma das mais importantes da história do partido”, avalia o presidente nacional da legenda, Juliano Medeiros, em entrevista ao Boa Noite 247 na última quinta-feira (5). O placar no diretório nacional, no sábado (30), mostrou que o processo não foi fácil: 35 votos a 25.

“Eu considero que essa decisão foi uma das mais importantes da história do PSOL. Eu compararia com a decisão que o PSOL tomou em 2016, quando ficou evidente que o que estava acontecendo na Câmara dos Deputados era um golpe contra Dilma Rousseff. E naquele momento o PSOL não era parte do governo da Dilma, aliás a gente estava bem crítico ao governo, por conta do ajuste fiscal que o Joaquim Levy vinha fazendo, e naquele momento a gente também decidiu que era nosso dever ir para as ruas defender o mandato da Dilma Rousseff, mesmo não sendo um mandato do PSOL ou um governo que o PSOL tinha ministérios ou secretarias. A gente compreendeu que o que estava em jogo era algo muito maior. Acho que o PSOL soube ler corretamente a gravidade do momento político em 2016 e se somou ao movimento contra o golpe parlamentar que estava sendo armado contra a Dilma”, comparou Medeiros.

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“Acho que [hoje] o momento é muito parecido. O PSOL segue tendo diferenças com o PT e com os demais partidos que compõem essa frente, essa coalizão, mas como é que a gente ia virar as costas para o momento que está vivendo o Brasil? Como é que a gente ia lavar as mãos, dizer que não era problema nosso e que no segundo turno a gente se encontrava? Não era possível. A instabilidade do governo brasileiro vai ser tão profunda! Como é que a gente vai tratar essa eleição como uma eleição normal? Não é uma eleição normal, é uma eleição absolutamente extraordinária”, enfatizou. 

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“Neste momento, uma vitória do Lula por uma margem apertada - ou até mesmo uma margem folgada - pode ser alvo de questionamento, de instabilidade, de algo muito mais grave do que foi a invasão do Capitólio nos Estados Unidos. Então, depois de passar três anos e meio lutando contra esse governo, não era agora que a gente ia virar as costas para o povo brasileiro. Eu estou muito orgulhoso do PSOL e defendi essa posição [internamente]”, prosseguiu, lembrando que 40% do partido defendeu candidatura própria, o que Medeiros definiu como “muito legítimo”.

A federação da qual o PT faz parte é formada também por PCdoB e PV. O partido se coligou ainda ao PSB e, mais recentemente, ao Solidariedade. A Rede, que forma a federação com o PSOL, também está no grupo de apoio a Lula, formando um grupo de sete partidos.

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“Frente programática”

Juliano Medeiros ressalta, porém, que o apoio não representa uma “frente só eleitoral”, mas “programática também”. “Nós queremos compromissos desse futuro governo em torno de bandeiras que são caras para nós”, afirmou. Ele lembrou que o partido chegou a consensos “bem importantes” junto ao PT, por exemplo em torno da reforma trabalhista e da política do teto de gastos. “Tivemos uma divergência em relação à reforma da previdência - o PT não acha que se deva falar em revogação, mas em reconstrução da previdência pública”, pontuou. O apoio oficial à candidatura do PT não significa, tampouco, que o PSOL será parte do governo. “Isso é algo que discutiremos depois da eleição”.

Cenário eleitoral

Medeiros expôs o contexto de alianças em São Paulo e no Rio de Janeiro e anunciou a meta do partido para a eleição no Congresso Nacional. A expectativa é que a federação formada por PSOL e Rede, que hoje tem dez deputados federais (sendo oito do PSOL), dobre de tamanho na próxima legislatura. 

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“Não é exagero. O PSOL deve chegar com a candidatura do Guilherme Boulos em São Paulo, e outras candidaturas muito competitivas que nós temos pelo País, a 13, 15 deputados federais. E a Rede tem todas as condições de fazer de quatro a seis deputados federais. Então na média nós podemos ter essa federação com uma bancada de 20 deputados, o que é um número bastante expressivo hoje”.

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Sobre São Paulo, defendeu que o PSOL abra discussões em torno da candidatura de Fernando Haddad (PT). “Me parece ser a mais competitiva e a que tem mais condições de incorporar as nossas propostas para São Paulo”. Ele emendou, sobre o ex-ministro da Educação e ex-prefeito da capital paulista: “O Haddad tem sido muito correto na relação com o PSOL, desde 2018, um amigo do PSOL. Uma pessoa que eu, particularmente, tenho um carinho enorme”. “Imagino que nos próximos dias essa discussão deva ser aberta internamente no partido”, previu.

Nos últimos dias, o presidente do PSOL viu o seu próprio nome circular como possibilidade de candidatura ao Senado numa chapa com o PT no estado. “Fico muito lisonjeado que meu nome tenha aparecido, mas ainda não há uma discussão sobre nomes. É claro que se a gente chegar a algum tipo de entendimento com o Haddad, o PSOL tem que ter espaço nessa chapa. E certamente há muito mais espaço para o PSOL na candidatura ao Senado do que a vice, porque ser vice significa ser parte do governo, ser base, um debate bem mais complexo que a gente tem que fazer”.

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No Rio, a direção nacional do partido já abriu negociações com Marcelo Freixo, que deixou o PSOL em 2021 e hoje está no PSB. “E deve, no máximo dentro de dez dias, tomar uma decisão. A tendência é de apoiar o Freixo”.

Federação com a Rede e frente ampla

Juliano Medeiros comentou ainda sobre o movimento interno que se opôs contra a formação de uma federação com a Rede, mas que acabou sendo voto vencido. “Está superado”, assegurou.

Questionado como avalia a campanha de Lula em relação à aproximação com os movimentos sociais e a população, disse não se definir como um “frenteamplista”. “Eu não acho que o Lula tem que concentrar suas atenções na ampliação de uma frente para ir incorporando a direita e as suas posições políticas. Eu acredito muito nas ideias da esquerda, especialmente nesse momento de crise econômica e social. Defender mais direitos, Estado forte, empresas públicas bem financiadas, mudança na política econômica, são ideias de esquerda, que têm apelo na sociedade brasileira”, opinou. 

“Vocês não vão me ver defendendo que o Lula tem que fazer moderação no seu discurso, que tem que deixar de defender a revogação da reforma trabalhista, que tem que deixar de ir em ocupação. Isso está em disputa. Tem gente que acha que o Lula não tem que ir para ocupação, que não tem que se reunir com sindicalistas, que isso seria ‘falar com a bolha’. Eu não acho que seja ‘falar com a bolha’. Eu acho que são sinais de compromissos políticos que o Lula está fazendo e tem que fortalecer”, defendeu.

Fazendo uma comparação com 2002, primeira eleição do ex-presidente, Juliano Medeiros avalia que “o mundo mudou”. Na época, “toda a lógica da política conduzia os partidos mais ao centro. Em 2022 é o contrário, é a polarização política”. “Eu acho que as ideias de esquerda têm força na sociedade brasileira hoje, mais do que já tiveram no passado. Falar de direitos, de mudança no modelo econômico, de inclusão social, de combate à pobreza, essa é a nossa agenda, é a agenda de esquerda. E acho que o Lula tem que fazer a defesa dessa agenda, e obviamente estando perto das pessoas que vão ser beneficiadas por essa agenda. Então menos banqueiro, menos Luiza Trajano, menos XP, e mais Vila Soma, mais sindicato, mais MST e MTST, é isso que eu espero do presidente Lula e é para isso que o PSOL vai lutar lá dentro”.

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